Os professores não podem ser profissionais da obediência e os alunos apenas meros aprendizes. O princípio da participação é determinante. Não é possível sentir-se bem num sistema centralizado, padronizado e maximizado onde o verbo debitar tem mais espaço que o verbo participar. O aluno, neste sistema, não está no centro, mas na periferia, porque, primeiro, está o acto burocrático, o que contraria o princípio que "uma escola se faz de pessoas e de emoções”.
Esta foi uma semana dominada pelos assuntos da Educação. O DN, desde Segunda-feira, que tem vindo a apresentar documentos da maior importância. Reflexões, entrevistas, comentários, enfim, trabalhos muito importantes que constituem um convite ao estudo. A semana terminou com mais um excelente Congresso do Sindicato de Professores da Madeira (SPM), o 10º, com um conjunto de convidados de "mão-cheia" e com uma plateia atenta e, pelo que me deu a perceber, interessada em beber as reflexões ali produzidas. Ainda esta manhã, os dois painéis foram soberbos. Não vi ninguém da estrutura política regional a acompanhar as intervenções. São momentos raros para aprender e para reflectir. Enfim...
Entretanto, o DN-Madeira pediu-me que respondesse a duas questões que constam da edição de hoje. Aqui ficam as minhas respostas:
1. Durante esta semana, ficámos a perceber que as queixas dos professores são muitas e, segundo os próprios, impedem o cabal exercício da profissão. O que seria preciso para que, realmente, um professor pudesse o ser na plenitude?
O Sistema Educativo tem de caminhar no sentido da sua reinvenção organizacional, curricular e programática. A sua matriz continua marcada por um certo taylorismo, com uma agravante, foi reforçado o mecanismo vertical de funcionamento. O sistema funciona com um interruptor: o governo “pensa” e os professores agem. O sistema fechou-se sobre si próprio, enclausurou-se, não se deixou fecundar por outras ciências, conhecimentos e relações sociais de grande importância para o seu sucesso. Os professores não podem ser profissionais da obediência e os alunos apenas meros aprendizes. O princípio da participação é determinante. Não é possível sentir-se bem num sistema centralizado, padronizado e maximizado onde o verbo debitar tem mais espaço que o verbo participar. O aluno, neste sistema, não está no centro, mas na periferia, porque, primeiro, está o acto burocrático, o que contraria o princípio que "uma escola se faz de pessoas e de emoções” (como me referia, há tempos, uma distinta Colega). Li que "(...) um pedagogo italiano disse que para ensinar Latim ao João, mais do que saber Latim, é preciso conhecer o João". Esta Escola não conhece nem está organizada para conhecer o João. O João é um número e o professor é um número porque falta pensamento organizacional à escola. Contrariar esta estrutura só é possível quando todos os estabelecimentos de educação e ensino gozarem de plena autonomia organizacional e pedagógica, no quadro de um projecto partilhado e de formação, quando dispuser de menos alunos por escola e por turma e quando o professor sentir que há políticas de família adequadas.
2. Não é um paradoxo reclamar mais autonomia nas escolas e nos currículos e, ao mesmo tempo, pedir a participação de toda a sociedade?
Despertar o desejo de aprender é um trabalho de toda a sociedade. Da família à escola, passando pelo ambiente social, a interligação tem de ser perfeita. É uma questão de construção da mentalidade. Reporto-me ao Professor Miguel Guerra para sublinhar que se não existir uma complementaridade entre os pais e toda a sociedade, poderá significar que “estamos a alimentar um monstro, e os primeiros a serem devorados por esse monstro são eles".
Portanto, não basta novos estabelecimentos de ensino, tampouco substituir o quadro preto e o giz por quadros interactivos multicolores. A tecnologia nunca salvará o mau ensino se ele não estiver alicerçado em um pensamento estruturado. Se perguntarmos qual é o objectivo da escola obtemos inúmeras respostas. Isto acontece porque não se debate a Educação. Há um divórcio entre as variáveis do sistema. Dispomos de um excelente Departamento de Ciências da Educação na UMa, mas alguém o ouve? Sabe, o poder não tem medo dos professores mas de quem pensa. Conclusão: há ausência de conhecimento para intervir no âmago do sistema. Ficam pelas margens.
Depois, é a questão designada por Michael Young, o “conhecimento poderoso” que o Professor Domingos Fernandes salienta num seu artigo. Hoje temos uma escola cheia de iniciativas, mas vazia de significado poderoso para a vida. Isto significa que a Escola funciona, mas desligada do desenvolvimento. Confunde-se escolarização com educação e acesso com sucesso. Neste quadro gizado com um “complicómetro” na mão, trabalha-se o aluno percentagem e não o aluno pessoa. Daí o atraso e o desencanto dos professores.
O Sistema Educativo tem de caminhar no sentido da sua reinvenção organizacional, curricular e programática. A sua matriz continua marcada por um certo taylorismo, com uma agravante, foi reforçado o mecanismo vertical de funcionamento. O sistema funciona com um interruptor: o governo “pensa” e os professores agem. O sistema fechou-se sobre si próprio, enclausurou-se, não se deixou fecundar por outras ciências, conhecimentos e relações sociais de grande importância para o seu sucesso. Os professores não podem ser profissionais da obediência e os alunos apenas meros aprendizes. O princípio da participação é determinante. Não é possível sentir-se bem num sistema centralizado, padronizado e maximizado onde o verbo debitar tem mais espaço que o verbo participar. O aluno, neste sistema, não está no centro, mas na periferia, porque, primeiro, está o acto burocrático, o que contraria o princípio que "uma escola se faz de pessoas e de emoções” (como me referia, há tempos, uma distinta Colega). Li que "(...) um pedagogo italiano disse que para ensinar Latim ao João, mais do que saber Latim, é preciso conhecer o João". Esta Escola não conhece nem está organizada para conhecer o João. O João é um número e o professor é um número porque falta pensamento organizacional à escola. Contrariar esta estrutura só é possível quando todos os estabelecimentos de educação e ensino gozarem de plena autonomia organizacional e pedagógica, no quadro de um projecto partilhado e de formação, quando dispuser de menos alunos por escola e por turma e quando o professor sentir que há políticas de família adequadas.
2. Não é um paradoxo reclamar mais autonomia nas escolas e nos currículos e, ao mesmo tempo, pedir a participação de toda a sociedade?
Despertar o desejo de aprender é um trabalho de toda a sociedade. Da família à escola, passando pelo ambiente social, a interligação tem de ser perfeita. É uma questão de construção da mentalidade. Reporto-me ao Professor Miguel Guerra para sublinhar que se não existir uma complementaridade entre os pais e toda a sociedade, poderá significar que “estamos a alimentar um monstro, e os primeiros a serem devorados por esse monstro são eles".
Portanto, não basta novos estabelecimentos de ensino, tampouco substituir o quadro preto e o giz por quadros interactivos multicolores. A tecnologia nunca salvará o mau ensino se ele não estiver alicerçado em um pensamento estruturado. Se perguntarmos qual é o objectivo da escola obtemos inúmeras respostas. Isto acontece porque não se debate a Educação. Há um divórcio entre as variáveis do sistema. Dispomos de um excelente Departamento de Ciências da Educação na UMa, mas alguém o ouve? Sabe, o poder não tem medo dos professores mas de quem pensa. Conclusão: há ausência de conhecimento para intervir no âmago do sistema. Ficam pelas margens.
Depois, é a questão designada por Michael Young, o “conhecimento poderoso” que o Professor Domingos Fernandes salienta num seu artigo. Hoje temos uma escola cheia de iniciativas, mas vazia de significado poderoso para a vida. Isto significa que a Escola funciona, mas desligada do desenvolvimento. Confunde-se escolarização com educação e acesso com sucesso. Neste quadro gizado com um “complicómetro” na mão, trabalha-se o aluno percentagem e não o aluno pessoa. Daí o atraso e o desencanto dos professores.
Ilustração: SPM
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