FACTO
"Albuquerque considera a entrevista de Costa um "rol de aldrabices".
Fonte: DN-Madeira.
Fonte: DN-Madeira.
COMENTÁRIO
Com este palavreado a Região da Madeira não vai longe. Li a entrevista do Dr. António Costa, Primeiro-Ministro e Secretário-Geral do PS, concedida ao DN-Madeira. Por não possuir o total domínio dos dossiês, confesso que tinha algumas reservas na relação Região da Madeira-República, derivado do facto, também, de quase diariamente ser bombardeado com declarações no quadro do "inimigo externo", isto é, tudo o que está bem feito na Região a nós (governo) se deve; tudo o resto é consequência daqueles malvados da República! São já muitos anos a escutar esta musiquinha, enfadonha e repetitiva. Entretanto, o visado veio à Madeira, contou o outro lado da história, esclareceu várias situações, as quais não encaixam no habitual e truculento discurso regional. E zás, o que ele disse é um "rol de aldrabices".
Depois de ler a entrevista e de reler algumas passagens, vários dossiês, pelo menos para mim, ficaram mais claros, pois passei a dispor de um contraponto político. E neste interesse em conhecer tudo em pormenor, aguardei pela natural resposta política do governo regional. Esperava que ela constituísse um novo contraponto que me (nos) ajudasse a melhor decifrar os vários enquadramentos. De resto, era fundamental que assim fosse, tim-tim-por-tim-tim, com dados e argumentos consistentes. Poderia o governo realizar uma conferência de imprensa ou elaborar um comunicado, mas não, preferiu, à margem de uma inauguração, disparar mais com o fígado do que com a cabeça. A entrevista é um "rol de aldrabices", disse o presidente.
Ora bem, admitamos que o seu pensamento crítico por aí se enquadra. Só que a sua responsabilidade política implicaria que não entrasse pelo lado da ofensa, como se o seu interlocutor fosse "um espertalhão, um trapaceiro, um ladrão, um parasita, um velhaco, um oportunista, um patife, um burlista, um intrujão, um trambiqueiro, um explorador", eu sei lá, basta ir ao dicionário e verificar o significado de aldrabão. Quem pratica uma aldrabice é, naturalmente, um aldrabão. Certo? Com aquele palavreado a Região não vai longe. Perderá sempre e nunca se afirmará no quadro autonómico.
Ora, o sentimento com que fiquei, até que outros dados sejam disponibilizados, é que o presidente do governo foi apanhado. Ou melhor, o seu governo. Normalmente, quando falham os argumentos, alguns partem para a ofensa. O que é grave quando se trata de pessoas que lideram instituições ao mais alto nível. Neste caso, ambos pertencem ao Conselho de Estado. Confirmou-se, desta feita, a "dupla personalidade" de que falava o secretário-geral do Partido Socialista.
É claro que, no exercício da política, ninguém espera "abraços e beijos" entre concorrentes com bases ideológicas distintas. Porém, uma coisa é o direito ao pensamento livre e diferenciado, outra a má educação mesmo que à distância. Seja a quem for e porque motivos forem. Aliás, quem anda há muitos anos pela política deveria saber que o povo detesta a ofensa. Foi chão que poucas uvas deu! De que serviu, questiono, o tal "contencioso das autonomias"? Ainda não interiorizaram que o formato de fazer política ao longo de quarenta anos, pertence a um passado irrepetível. Hoje, esse povo exige decência e argumentos consistentes. Repito, com aquele palavreado a Região não vai longe. Exigir e não ser subserviente é uma coisa. Detesto quem ande com o "chapéu na mão". Outra bem diferente é ser agressivo. E isto é para ambos os lados da barricada. Trata-se, no essencial, de uma questão de adultez política.
Ilustração: Google Imagens.
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