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sábado, 5 de outubro de 2019

Eu naif me confesso


HELDER MELIM
DN- Madeira
04 OUT 2019

O CDS, já foi em Lisboa o “partido do táxi”, aqui e agora é o partido de sidecar (3 lugares)

Apesar dos meus 66 anos, de a vida me ter mostrado quase tudo e o seu contrário, de vez em quando ainda tenho uns laivos de naïveté, e espero que a vida seja ética e honesta e que as pessoas e os partidos se movam por ideologias e princípios e não por interesses. Caso flagrante foi o das recentes eleições para a ALR. Acreditei que o CDS, por já ter sido o principal partido da oposição, por ter sofrido na pele durante 43 anos todas as prepotências e desaforos do jardinismo, por ter assente a sua campanha no slogan “mudança segura”, por ter afirmado repetidamente que “estava de espírito aberto” para negociar à direita ou à esquerda (desde que o PCP e o BE não estivessem incluídos), por ter propagandeado que “respeitaria a vontade do eleitorado” fosse, de facto, capaz de promover uma mudança.


Nunca esperei que o CDS se “enfiasse de cabeça”, imediatamente, à primeira oportunidade, numa coligação com o PPD. Às 19:01h do dia 22, foi “amor à primeira vista” entre o fidalgo espúrio e falido e a filha roliça do lavrador abastado que estava com os “pés amarelos” por estar há 43 nos com o “rabo à porta”. Perante essa realidade, foi fácil ignorar os factos e interpretar os 60,58% de votos conta a continuidade, como sendo uma indicação clara e explícita dada pelo eleitorado para se coligar com o PPD. Nem o revisionismo dos passados 43 anos, nem as “desculpas da treta”, conseguem disfarçar minimamente esta realidade concreta. A ambição e a ganância pura e dura são quem mais ordena. A ética e os princípios só valem para consumo externo e para a campanha eleitoral. Saliento que não houve qualquer tipo de acordo pré-eleitoral entre o PPD e o CDS.
Os 43 anos de agruras e amarguras foram de imediato esquecidos devido às promessas dos “amanhãs que cantam”. A “mudança segura”, base da campanha do CDS, “mudança” essa que era diametralmente oposta à continuidade de Albuquerque, foi, imediatamente abandonada. Daniel Oliveira, escreveu: “...o JPP e o CDS (que passaram para metade), foram vítimas da vontade de mudança.” (Expresso de 23/09/19). Quanto ao “espírito aberto”, foi o que se viu, na primeira reunião com o PPD, na qual, sem hesitar “fechou” logo o “negócio”, sem sequer se dar à maçada de ouvir o que o PS tinha para oferecer. Grande abertura de espírito, não é? Quanto a “respeitar a vontade do eleitorado”, o CDS fez exatamente o contrário do que os eleitores expressamente indicaram.

“Trocando por miúdos”, se considerarmos os partidos que disseram explicitamente que queriam a mudança, quer fosse ela “segura” do CDS ou, “alternativa” do PS, totalizam-se 41,52% dos eleitores, e se a estes, somarmos os eleitores, que tanto à esquerda como ao centro e à direita, não votaram na “continuidade” de Albuquerque, temos 60,58% dos votos (sem falar nos brancos e nulos que também não querem saber de Albuquerque).

Confesso que o erro de análise foi inteiramente meu, embalado pelo “canto de sereia” de Rui Barreto, feito numa voz calma, profunda, pausada, vinda diretamente do coração. “Com papas e bolos se enganam os tolos” e confesso, a mim enganaram-me, levando-me a acreditar na mudança (mas não a ponto de votar neles).
Deixei-me enganar por considerar que a melhor solução governativa seria uma coligação, ou uma espécie de “pacto de regime” entre o PS, CDS e JPP, partidos moderados, um da esquerda, outro da direita e outro de Santa Cruz, que através de negociação e de “check and balances”, conseguissem um consenso sobre um conjunto de princípios com o objetivo de extirpar o Jardinismo da sociedade madeirense, acabar com o compadrio e com a corrupção. Enganei-me redondamente porque o CDS, não está interessado em nenhuma mudança, o que me leva a pensar que, afinal os 43 anos de críticas e “oposição” do CDS, foram apenas uma questão de “inveja pessoal” vulgar de Lineu, pois ao garantirem a sobrevivência do PPD, indissociável do jardinismo, das suas ideologia e praxis, farão com que tudo permaneça tal como está, em vez da “mudança” que reiterada e explicitamente prometeram ao eleitorado. Todavia aí já terão “um quinhão” e tudo passará a estar bem.
Sobre o tema VJSilva no Público de 24/09/19, escreveu “... o CDS que, no entanto, não deixou de celebrar pateticamente esses gloriosos três por cento como a confirmação do triunfo “do centro e da direita” (só porque iriam permitir a Albuquerque salvar por um triz a maioria absoluta perdida pelo PSD?)”.

Que ganhou o CDS com a coligação? Muito pouco. Era expectável uma Vice-presidência, como Passos fez com Portas; Albuquerque, contudo, não “abre mão” de Calado, e este não quer concorrência. Era expectável que o 2º partido da coligação tivesse direito à presidência da ALR, mas Albuquerque não “abre mão da presidência”. Terão direito no máximo, a uns lugarzitos para os boys e girls, a uma ou duas secretarias regionais, de segundo plano e controladas por Calado, como já acontece atualmente.

Em troca deste “prato de lentilhas”, devido a Rui Barreto estar “esgalgado” pelo poder, perdemos a oportunidade de ouro de mudar a Madeira. Daniel Oliveira dixit: “ Bem diferente seria se tivesse conhecido uma liderança que não se servisse dos recursos públicos para enriquecer uma pequena elite refém do seu poder pessoal. Estas quatro décadas foram marcadas pelo poder de um egomaníaco desqualificado que transformou a política local num chiqueiro boçal.”) (Expresso - Daniel Oliveira 23/9/19).
Penitencio-me mais uma vez por num fugaz momento ter-me deixado iludir e acreditado que um partido apologista de um conservadorismo social (estratificação e costumes), fiscal (diminuição dos impostos para os ricos), Liberalismo económico (mercado sem regras ou reguladores), populista de direita (a culpa de tudo é das esquerdas, nós daremos tudo a todos), fosse capaz de fazer qualquer “mudança”. O CDS fez apenas o que os neoliberais fazem de melhor, ou seja: “aproveitar-se da situação” sem o mínimo escrúpulo, coligando-se se necessário com o diabo, desde que isso lhe garanta o acesso ao poder e a servir os seus interesses bem como os da sua clientela.
Rui Barreto e “sus muchachos”, conseguiram colocar 60,58% dos votantes (86.742) com cara de “idiotas”, porque tiveram a veleidade de pensar que podiam mudar para melhor.
O CDS, já foi em Lisboa o “partido do táxi”, aqui e agora é o partido de sidecar (3 lugares), neste caminho rapidamente será o partido da scooter, do skate ou até, de andar a pé como aconteceu com o BE e o PTP. No próximo domingo logo veremos. (Escrito em 29/09/19).

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