Não vejo o Doutor Cavaco penitenciar-se pelos dez anos de Primeiro Ministro onde o setor primário foi arrasado e com a educação que viveu o pior momento da história recente, com cinco ministros por si nomeados em dez anos. Não se penitencia do défice que atingiu uma cifra superior a 8,9% do PIB. Esqueceu-se, como já aqui referi, do descalabro dos governos liderados por Durão Barroso/Santana Lopes, e que foi o governo do Engº José Sócrates que diminuiu o défice excessivo para valores de 2,6% (2007 e 2008). Esqueceu-se que tudo isso foi feito sem colocar em causa o apoio social que conheceu, a partir de 2005, um dos maiores e mais consistentes incrementos junto dos mais carenciados da sociedade. Lembro-me, por exemplo, da baixa no preço de 4.000 medicamentos que significou uma poupança para os portugueses de 726 milhões de euros; o Complemento Solidário para Idosos, instrumento poderoso para atenuar a pobreza de 200.000 portugueses; o apoio pré-natal; o Salário Mínimo que cresceu 20% nos últimos cinco anos; o Abono de Família, uma das prestações mais importantes que cresceu 25% no mesmo período. Tratou-se, aliás, do maior aumento de sempre conjugado com o 13º mês desta prestação social; a Acção Social Escolar, baseado nos escalões do abono de família, e que veio a beneficiar milhares de alunos e suas famílias; o apoio à parentalidade, onde a licença passou de cinco para dez dias de licença, acrescido de mais um mês caso o pai ficasse com a criança; a reforma da segurança social permitindo safar o País que se encontrava no abismo para uma situação de garantia de futuro.
Não nutro qualquer simpatia institucional pelo Senhor Presidente da República, Doutor Cavaco Silva. Tal como muitos observadores e comentadores, o Presidente, em muitas situações, o melhor que poderia fazer era estar caladinho, ou, pelo menos, ter memória fresca, para além da registada, no sentido de não colocar portugueses contra portugueses, em um momento muito particular da nossa História. Isto vem a propósito do prefácio do livro "Roteiros VI", onde desenvolve um claríssimo e, politicamente, violento ajuste de contas com o antigo Primeiro Ministro, Engº José Sócrates. O texto do prefácio que pode ser lido aqui, o Presidente da República acusa o ex-Primeiro Ministro de falta de "lealdade institucional que ficará registada na história da nossa democracia". A resposta, através do Dr. Silva Pereira (ex-Ministro) não tardou: "O PR não tem nenhuma espécie de autoridade moral para acusar quem quer que seja de deslealdade institucional", assumiu que ele, Doutor Cavaco "é o campeão da deslealdade" e justificou com o caso da "célebre intriga das escutas" em Belém, que classificou como "uma pura inventona de ataque sórdido ao governo em funções", isto no decorrer do primeiro mandato de José Sócrates. E disse mais, que, "neste momento, alguém devia recordar ao senhor Presidente da República (PR) que ele ainda está em funções", pelo que aquele prefácio termina "da pior maneira um ano absolutamente desastroso no exercício da função presidencial, que conduziu, aliás, às mais baixas quotas de popularidade de que há memória".
Pode-se e aceito, naturalmente, as posições de análise crítica ao Engº José Sócrates. Não está, como qualquer outro, imune a críticas à sua governação. Assisti a muitas iniciativas de relevante interesse nacional, mas também outras deixaram-me com muitas reservas. Nunca vi nem vejo é o Presidente da República analisar, globalmente, o desempenho do nosso País, durante o tempo do Engº Sócrates, em função do contexto internacional, da crise que varreu todos os países, o facto de todos terem sido apanhados de surpresa, de nenhum economista ter previsto a situação a que a Europa chegou. A surpresa e progressiva degradação sistémica teve de ser gerida em tempo real, o que, no caso do nosso País, com históricas fragilidades estruturais, tornou a situação insustentável. Não vejo o Doutor Cavaco penitenciar-se pelos dez anos de Primeiro Ministro onde o setor primário foi arrasado e com a educação que viveu o pior momento da história recente, com cinco ministros por si nomeados em dez anos. Não se penitencia do défice que atingiu uma cifra superior a 8,9% do PIB. Esqueceu-se, como já aqui referi, do descalabro dos governos liderados por Durão Barroso/Santana Lopes, e
que foi o governo do Engº José Sócrates que diminuiu o défice excessivo para
valores de 2,6% (2007 e 2008). Esqueceu-se que tudo isso foi
feito sem colocar em causa o apoio social que conheceu, a partir de 2005, um dos
maiores e mais consistentes incrementos junto dos mais carenciados da sociedade.
Lembro-me, por exemplo, da baixa no preço de 4.000 medicamentos que significou
uma poupança para os portugueses de 726 milhões de euros; o Complemento
Solidário para Idosos, instrumento poderoso para atenuar a pobreza de 200.000
portugueses; o apoio pré-natal; o Salário Mínimo que cresceu 20% nos
últimos cinco anos; o Abono de Família, uma das prestações mais importantes que
cresceu 25% no mesmo período. Tratou-se, aliás, do maior aumento de sempre
conjugado com o 13º mês desta prestação social; a Acção Social Escolar, baseado
nos escalões do abono de família, e que veio a beneficiar milhares de alunos e
suas famílias; o apoio à parentalidade, onde a licença passou de cinco para dez
dias de licença, acrescido de mais um mês caso o pai ficasse com a criança;
a reforma da segurança social permitindo safar o País que se encontrava no
abismo para uma situação de garantia de futuro. Esquece-se de tudo e prefere, através de um prefácio pobre e numa defesa aferrolhada, bombardear quem não pode ter acesso, neste momento, ao contraditório. Aliás, começa-se a perceber os constantes desvios do Presidente para não se cruzar com o Povo, o seu incómodo aos insultos e algumas declarações que são de todo pouco consentâneas com a figura de Presidente.
Depois e a terminar, não esqueço o fato de ele, perante a bagunça política registada na Região Autónoma da Madeira, nunca ter tido uma palavra, uma chamada de atenção ou uma mensagem à Assembleia Legislativa da Madeira. Percebe-se, ou melhor, eu percebo!
Ilustração: Google Imagens.
2 comentários:
Caro André Escórcio
Tem razão no que diz. Cavaco Silva é um desastre. O seu índice de falta de popularidade atingiu o imaginável.
Mas também temos de ver que, nesta situação, diga o que disser, apanhará sempre com toda a artilharia pesada. Passou a ser moda...
Perdigão perdeu a pena, não há mal que lhe não venha.
Obrigado pelo seu comentário.
Independentemente das posições políticas, entendo que o Presidente deveria ser uma referência, mas o que noto é que vive, permanentemente, apesar do forçado sorriso, num profundo azedo que não ajuda. Ele acaba por forçar a memória, trazendo ao presente o seu próprio passado, quando deveríamos arrumá-lo na prateleira das infelicidades, olhando-o, agora, como o sujeito do equilíbrio, do distanciamento e de alguma esperança. E não é ou não está a ser.
Um abraço.
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