O grande problema está em ser prospetivo, nessa capacidade de trazer o futuro ao presente e, perante uma situação real, definir objetivos finais, o que pressupõe os intermédios e isso, logo à partida, implica três perguntas simples e profundas: onde estou, onde quero chegar e que passos tenho de dar para lá chegar. Estas questões nunca foram formuladas, planearam no adro da igreja, "ouvindo" o povo como se o povo tivesse capacidade para ir muito mais além da estrada que o leva ao poio, a energia elétrica e a água. O desenvolvimento é muito mais do que isso e o bem estar não passa apenas por aí. As questões transversais de natureza económica, as questões financeiras, a estrutura do sistema educativo, a estrutura do sistema de saúde, a política social de rigor e exigência, as políticas do trabalho, o cumprimento de todos os planos de ordenamento, tudo isto não pode ficar sujeito a circunstancialismos balofos, ao paleio de natureza política que não tem em conta a transformação graduada no tempo e, entre outros, o princípio da prioridade estrutural.
Agora é a Tâmega que anuncia o despedimento de 100 trabalhadores, amanhã, seguir-se-ão, lamentavelmente, outras empresas. De facto, se não há obras, não resta alternativa. Dirão, alguns, pois, consequência da crise. Entendo que não, a crise não explica tudo. A montante do drama do despedimento está a ausência de planeamento a todos os níveis: planeamento educativo, através de um sistema capaz de preparar para a diversidade e com especial relevo para a formação técnico-profissional qualificada, planeamento no que concerne à diversidade equilibrada de respostas em todos os setores da economia, planeamento ao nível dos investimentos públicos onde prevalecesse a noção básica que o espaço territorial da Região é limitadíssimo, impondo o rigor e o princípio do essencial relativamente ao acessório, planeamento ao nível do ordenamento comercial e da organização do trabalho, enfim, poderia aqui enunciar mais uns quantos itens, porém a palavra-chave do desastre que estamos a viver continuaria a ser: planeamento. Foi a loucura inauguracionista, este "prà frente, sempre" de natureza apenas política, a pensar na eleição seguinte e não na geração seguinte que, nesta Região, todos os dias se agudiza o desastre social. A crise não apareceu por um simples estalido de dedos. É evidente que a conjuntura nacional e internacional seria aqui sentida, mas tivéssemos nós uma economia mais sustentável, um crescimento e um desenvolvimento com inteligência, inovação, criatividade e, certamente, hoje, a nossa capacidade de resposta seria outra, inclusive, a capacidade dos empresários poderem correr o risco que o desenvolvimento faz apelo, estaríamos com níveis de confiança invejáveis no plano nacional. Estamos hoje a pagar a fatura dos desequilíbrios, a fatura das megalomanias e a fatura da Madeira não ter sabido rodear-se dos técnicos e dos políticos mais capazes. A Madeira esteve e está entregue a um grupo de pessoas com lacunas graves no conhecimento e entregue a um homem que se impôs, apenas no plano político, e que a ignorância conduziu-o ao patamar de homem providencial.
Ora, o crescimento e o desenvolvimento sustentáveis não se constroem à custa de homens de grande umbigo, de visão curta, cujo horizonte termina onde os olhos alcançam. O grande problema está em ser prospetivo, nessa capacidade de, perante uma situação real, definir objetivos finais, o que pressupõe os intermédios e isso, logo à partida, implica três perguntas simples e profundas: onde estou, onde quero chegar e que passos tenho de dar para lá chegar. Estas questões nunca foram formuladas, planearam no adro da igreja, "ouvindo" o povo, ao jeito de "quem dá mais?", como se o povo tivesse capacidade para ir muito mais além do pedido da estrada que o leva ao poio, a energia elétrica e a água. O desenvolvimento é muito mais do que isso e o bem estar não passa apenas por isso. As questões transversais de natureza económica, as questões financeiras, a estrutura do sistema educativo, a estrutura do sistema de saúde, a política social de rigor e exigência, as políticas do trabalho, o cumprimento de todos os planos de ordenamento que tornasse a Madeira única e distintiva, tudo isto não podia ter ficado sujeito a circunstancialismos balofos, ao paleio de natureza política que não tem em conta a transformação graduada no tempo e, entre outros, o princípio da prioridade estrutural.
O governo que tanto se lamenta, se olharmos lá para trás para todo o seu historial de atropelos, é o único culpado pelo desastre social. Viveu todos os momentos como se fossem os últimos e, de forma egoísta, alimentou uma cadeia de subservientes e de subsidiodependentes, mantendo e comprando o silêncio que lhe garantia o coro da asneira coletiva. O desemprego, os 21.000 confirmados e o crescimento desse número assustador é fruto de uma crise, sim, mas de uma crise que vem de longe, de muito longe, que tem origem no poder de quero, posso e mando e de secundarização pela construção do futuro. Não é a Constituição da República a culpada, não é a Lei de Meios, não foi a Lei das Finanças Regionais, mas a incapacidade do Dr. Alberto João Jardim ser estadista. Foi um político, e mau político!
Ilustração: Google Imagens.
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