Quando olho para aquela triste Assembleia, para aquela monumental mentira que ali se desenvolve pela estridente gritaria da maioria política, onde todas as propostas são chumbadas, como se fossem portadores de uma verdade suprema e absoluta, como se ali estivessem os crâneos, os grandes pensadores, os filósofos, os políticos de craveira superior, os que "dão luzes ao mundo", fico a pensar se esta gente que por aí anda, amargurada, ferida no seu orgulho, que olha para os filhos e neles não vê futuro, sem esperança, se esses milhares de homens e mulheres não terão uma palavra a dizer neste descalabro social! Terão, com toda a certeza, porque a democracia mede-se pelo cinto.
Cruzei-me, ao início da manhã, com um jurista. Na rápida conversa, do tipo, mais um fim de semana, o bom tempo que se faz sentir, etc, rapidamente, passámos à situação política regional. E aí falou-me, em abstrato, claro, de casos que lhe entram escritório adentro. Pessoas do grupo social que se configurou designar por classe média que, há muito pouco tempo, ele empresário, ela bem empregada, com filhos e com a sua casa e carro(s), hoje encontram-se perdidos, sem saber como sair do redemoinho em que se encontram. Estão completamente sugados pelo desastre regional. A empresa faliu e ela ficou desempregada. Um quadro suficiente para qualquer pessoas ficar de coração apertado. Imagino o drama dessa(s) família(s), ou melhor, das centenas de famílias que hoje, na Região, estão mergulhadas nessa desesperante angústia. O Senhor Bispo Emérito D. Teodoro de Faria, na edição de hoje do DN, assumiu: "Para dizer que há pobres entre nós basta ter os olhos abertos. Eles entram-nos pela porta dentro". Complemento: só o governo não vê, só os deputados da maioria na Assembleia Legislativa da Madeira não conseguem enxergar, porque veem o mundo dos outros à semelhança do seu bem estar.
É evidente que folgo com a declaração do Senhor D. Teodoro de Faria, mas não deixo de dizer que a Igreja tem acrescidas culpas neste processo, porque foi demasiado serena, branda e, por vezes, cúmplice perante os erros que estavam a ser cometidos, porque não basta, Senhor D. António, revitalizar as instituições caritativas numa lógica de andar atrás do prejuízo, Ela tem de assumir um discurso firme que coloque, proativamente, em alerta os cidadãos e o poder político. O que aconteceu e acontece é que, lamentavelmente, a Igreja, embora faça todos os possíveis por não parecer, assume o discurso partidário da maioria. A situação do Jornal da Madeira constitui, apenas, uma ponta do icebergue das relações que bloqueiam essa atitude firme contra os comportamentos políticos que se desviam da própria Palavra. Neste caso, o governo rouba quatro milhões anuais da boca dos pobres. Isto para não falar da falta de sensatez no "caso" do Padre Martins Junior, da Ribeira Seca. Porquê? Que cumplicidade política é essa? Depois, há muitos subsídios em jogo, há muitas igrejas construídas não pelo Povo, mas pelos interesses do poder político, e tudo isto, eu compreendo, todos compreendem, que tem limitado a participação livre da Igreja.
Desviei-me um pouco do que vinha a desenvolver, em função das palavras de D. António de Faria. A conversa desta manhã com o tal jurista, não que eu não tenha a noção do que está a acontecer, mas porque quando os assuntos são trazidos à colação, deles tomamos uma melhor consciência. E quando olho para aquela triste Assembleia, para aquela monumental mentira que ali se desenvolve pela estridente gritaria da maioria política, onde todas as propostas são chumbadas, como se fossem portadores de uma verdade suprema e absoluta, como se ali estivessem os crâneos, os grandes pensadores, os filósofos, os políticos de craveira superior, os que "dão luzes ao mundo", fico a pensar se esta gente que por aí anda, amargurada, ferida no seu orgulho, sem esperança, que olha para os filhos e neles não vê futuro, se esses milhares de homens e mulheres não terão uma palavra a dizer neste descalabro social! Terão, com toda a certeza, porque a democracia mede-se pelo cinto.
Ilustração: Google Imagens.
2 comentários:
Caro André Escórcio
O cidadão Teodoro Faria, enquanto esteve ao serviço à frente da sua diocese, nada via, nada ouvia, tudo silenciava. Agora que se reformou, recuperou os sentidos e a fala. Cura milagrosa!
E assim, enquanto o bispo no activo lhe dá continuidade à técnica de assobiar para o lado, Teodoro Faria pretende calar as vozes que criticam a Igreja Católica madeirense por não se insurgir contra as injustiças sociais gritantes que há por todo o lado.
Bom dia e obrigado pelo seu comentário.
Parece-me evidente que um tenta destapar aquilo que outro tapa! Só que, hoje, soube-se oficialemnet (já era conhecido)que são mais de 21.000 os desempregadoe e que, provavelmente, até Agosto, podemos atingir os 25.000. Uma situação que é de calamidade. Tudo isto é muito preocupante.
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