A Justiça, obviamente, trata dos casos que vão surgindo, mas não trata da questão política, se ela existe! Tampouco, não compete, primeiro, à investigação e, depois, aos juízes, pronunciar-se sobre matéria que são da competência de outras instituições. E é aqui que quero chegar. Vejo, em tudo isto, muitos silêncios comprometedores. Seria bom que aqueles que desfrutam de tribunas privilegiadas para falar ao povo começassem já a fazer a pedagogia da tolerância, do respeito pela diferença de opinião, pelas regras da democracia e pela Palavra. Enquanto é tempo.
O assunto não é novo. Há uma história que vem desde os tempos pós 25 de Abril. A história da intolerância, do bombismo, dos incêndios nas viaturas daqueles que não alinhavam com o pensamento de uma maioria que lançava a sua estrutura de domínio total, a história da pressão e perseguição a algumas figuras que acabaram por sair da Região, enfim, há uma memória que deve ser tida em conta. É evidente que tudo isso teve um tempo, tendeu para a normalização porque essa maioria impôs-se e conquistou a supremacia que dura há trinta e tal anos. Hoje, por razões múltiplas, depois de um largo período de vacas gordas, paulatinamente, crescem os sinais da decadência política, consubstanciados na preocupante dívida pública, na acelerada diminuição do bem estar das pessoas, na pobreza, etc., fatores aos quais se juntam um evidente cansaço de uma significativa parte da população que olha para estes repetitivos governantes com desconfiança e alguma comiseração. Certo é que, ao longo de três décadas criaram-se muitas estruturas organizacionais, muitos entenderam que os lugares políticos que ocupam constituem um emprego para a vida e, portanto, neste novo contexto, onde o poder absoluto se esboroa, parece-me evidente que o conflito é suscetível de regressar. É natural que grandes e pequenos poderes se tornem muito frágeis. Como, com que meios, qual a dimensão do conflito e através de quê, não sei. Agora, preocupa-me os sinais que vamos tendo de clara intolerância. A vandalização de viaturas, para já, constitui um alerta que deve ser tomado em consideração. Subestimar este quadro, interpretando-o como coisa de somenos importância, passar ao lado porque não se deve extrapolar alegadas questões de retaliação pessoal para um quadro mais alargado da participação política, parece-me inaceitável. A Justiça, obviamente, trata dos casos que vão surgindo, mas não trata da questão política, se ela existe! Tampouco, não compete, primeiro, à investigação e, depois, aos juízes, pronunciar-se sobre matéria que são da competência de outras instituições. E é aqui que quero chegar. Vejo, em tudo isto, muitos silêncios comprometedores. Seria bom que aqueles que desfrutam de tribunas privilegiadas para falar ao povo começassem já a fazer a pedagogia da tolerância, do respeito pela diferença de opinião, pelas regras da democracia e pela Palavra. Enquanto é tempo.
Ilustração: Google Imagens.
2 comentários:
Senhor Professor
A História parece repetir-se, porém é bom não esquecer que as circunstâncias actuais são outras e,assim, talvez as coisas venham a ter um outro desfecho..."Quem com ferro mata,com ferro morre."
A tolerância tem limites...
Obrigado pelo seu comentário.
Caríssimo, é exatamente isso que temo.
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