"(...) Os senhores da aldeia têm a sua própria agenda política e resistem a quaisquer mudanças económicas e sociais que não se ajustem aos seus interesses financeiros. Juntos eles exercem um poder homogeneizante sobre as ideias, a cultura e o comércio que afectam as maiores populações de que se tem conhecimento desde sempre. Nem César, nem Hitler, nem Roosevelt nem qualquer Papa tiveram tanto poder como eles para moldar a informação da qual tantas pessoas dependem para tomar decisões sobre as mais variadas matérias: desde em quem votar até ao que comer". Na verdade, os gestores dos media criam, processam, refinam e presidem à circulação de imagens e informações que determinam as nossas crenças e atitudes e, em última instância, os nossos comportamentos" (...) "os gestores dos media tornaram-se gestores das mentes".
Meu Caro e distinto Amigo Nelson Pestana,
Destaco o teu posicionamento sobre o que ontem aqui deixei. Quero agradecer o teu comentário porque me permite ir um pouco mais além.
De facto, estudei o "Serviço Público de Rádio e Televisão". Auscultei muitas pessoas do topo da televisão portuguesa, figuras que estudaram e deixaram obras, outros autores que publicaram sobre esta temática, vasculhei muita documentação sobre os canais públicos e privados, sobretudo na Europa, tudo no âmbito de uma Dissertação sobre aquele tema. Tenho, por isso, uma opinião (a minha verdade entre tantas verdades) sobre o que concluí dever ser a "informação diária" e a "informação não diária". E porque sei que o debate destas questões, sobretudo a partidária, transporta muitas emoções e posicionamentos, intencionalmente, coloquei duas perguntas no meu texto. Apenas duas perguntas, porque julgo conhecer não apenas a realidade política regional e nacional, mas fundamentalmente os critérios que devem nortear a informação. Fugi, por isso, ao envolvimento e à emoção partidária, aprendendo com Umberto Eco que advertiu que a civilização democrática "se salvará se da linguagem da imagem fizer um estímulo à reflexão crítica e não um convite à hipnose". E li, também, meu Caro Nelson, em K. Popper e J. Condry, no livro "Televisão, um perigo para a democracia", "(...) que a democracia consiste em submeter o poder político a um controlo. É essa a sua característica essencial. Numa democracia não deveria existir nenhum poder político incontrolado. Ora, a televisão tornou-se hoje em dia um poder colossal; podemos mesmo dizer que é potencialmente o mais importante de todos, como se tivesse substituído a voz de Deus. E será assim enquanto continuarmos a suportar os seus abusos (...) pois nenhuma democracia pode sobreviver se não pusermos cobro a esta omnipotência". Um outro, Jacques Piveteau (in L'Extase de la Television), a páginas tantas, sublinhou que a televisão é geradora de "efeitos hemiplégicos no seio da família". É, por isso, que os defensores da cultura clássica referem que a imagem é sempre geradora de um certo tipo de escravidão.
Desculpa-me, Caro Nelson, mas não resisto a transcrever Ben Baddikian, citado no livro de Jorge de Campos, "A Caixa Negra": "(...) Os senhores da aldeia têm a sua própria agenda política e resistem a quaisquer mudanças económicas e sociais que não se ajustem aos seus interesses financeiros. Juntos eles exercem um poder homogeneizante sobre as ideias, a cultura e o comércio que afectam as maiores populações de que se tem conhecimento desde sempre. Nem César, nem Hitler, nem Roosevelt nem qualquer Papa tiveram tanto poder como eles para moldar a informação da qual tantas pessoas dependem para tomar decisões sobre as mais variadas matérias: desde em quem votar até ao que comer". Na verdade, os gestores dos media criam, processam, refinam e presidem à circulação de imagens e informações que determinam as nossas crenças e atitudes e, em última instância, os nossos comportamentos" (...) "os gestores dos media tornaram-se gestores das mentes".
Perante estes pressupostos exige-se, penso eu, equilíbrio, sobretudo num serviço público. A RTP não é privada! Porque uma eleição interna de um partido não é semelhante a um congresso partidário, tampouco idêntico a um acto eleitoral regional ou nacional para apurar os representantes do Povo em uma Assembleia Legislativa. Uma eleição interna é um assunto que deve ser tratado, no âmbito da informação diária, e com muita boa vontade, de um "especial informação" para divulgação dos resultados, mas nada mais do que isso. Ontem, o "serviço público" ofereceu aos madeirenses e portosantenses um tempo de emissão que quase ultrapassou o tempo de emissão de umas eleições regionais. Curiosamente, um dos factos importantes da semana política, a grave perturbação vivida no sistema regional de Saúde, foi abafada, completamente, por uma eleição partidária onde estão envolvidos aqueles que conduziram o sistema de saúde à gravíssima situação em que se encontra. E este facto, entre tantos outros, não é inocente. Na política o que parece é, dai que Umberto Eco tenha razão quando sublinha o "efeito de hipnose". E a Democracia, como reconhecerás, é muito mais do que uma eleição interna de um partido.
Meu Amigo, estou distante da actividade partidária. E sinto-me bem ao ter decidido manter as convicções, cada vez mais profundas e enraizadas em princípios e valores sociais, mas longe das emoções que, muitas vezes, a muitos, fazem perder o sentido do bom senso. A ela não voltarei porque há um tempo para estar e um tempo para ser espectador atento.
Um grande abraço de muita Amizade, consideração e estima pessoal. Bom Natal.
NOTA:
Resposta a um comentário publicado na minha página de Facebook.
Ilustração: Google Imagens.
Sem comentários:
Enviar um comentário