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domingo, 28 de dezembro de 2014

JÁ NÃO ESCRAVOS, MAS IRMÃOS


Este assunto ganha cada vez mais pertinência, ainda mais se pensarmos que vivemos num mundo cheio de barbaridade, de pobreza, de exploração do homem pelo homem e de uma falta tremenda de respeito de uns pelos outros. A escravidão volta com toda a força. Quando se pensava que o desenvolvimento humano podia conduzir a humanidade para uma sã convivência, onde os valores democráticos ditavam a conduta humana, afinal, vemos a barbárie cada vez mais generalizada, a corrupção torna-se pão de cada dia, impondo como referência de sucesso a falta de respeito e o roubo descarado, mesmo que isso ponha em causa a justiça, o bem comum e faça mergulhar na pobreza povos inteiros.


A mensagem do Papa Francisco justifica a reflexão sobre a necessidade da fraternidade humana a partir deste pressuposto: «Infelizmente, o flagelo generalizado da exploração do homem pelo homem fere gravemente a vida de comunhão e a vocação a tecer relações interpessoais marcadas pelo respeito, a justiça e a caridade. Tal fenómeno abominável, que leva a espezinhar os direitos fundamentais do outro e a aniquilar a sua liberdade e dignidade, assume múltiplas formas sobre as quais desejo deter-me, brevemente, para que, à luz da Palavra de Deus, possamos considerar todos os homens, «já não escravos, mas irmãos» (nº 1).
Por isso, as denúncias não se fazem esperar. O Papa diz: «Penso em tantos trabalhadores e trabalhadoras, mesmo menores, escravizados nos mais diversos sectores, a nível formal e informal», por isso, pensamos em tantos trabalhadores entre nós, aqueles que têm a sorte de ainda terem trabalho, que são humilhados, insultados na sua dignidade, explorados a todos os níveis. Quantos estão assinar papéis e mais papéis como se tivessem recebido, mas no fim não receberam nada e se receberam não viram o justo valor? Quantos estão a trabalhar várias horas ao dia sem que recebam qualquer compensação por esse trabalho extra? Quantos andam a pedinchar trabalho por todo o lado e são recebidos com palavras brutas, má criação e arrogância? Quantos neste mundo não encontram leis e entidades que os protejam como deve ser? – A exploração dos trabalhadores intensificou-se com a desumanidade neoliberal que enlouqueceu muitos governantes.
Perante a desgraça da emigração e migração dos povos que procuram melhores condições de vida diz o Papa Francisco: «Penso também nas condições de vida de muitos migrantes que, ao longo do seu trajecto dramático, padecem a fome, são privados da liberdade, despojados dos seus bens ou abusados física e sexualmente». Face à tragédia que tem sido os últimos tempos entre nós com a emigração deve fazer-nos pensar a sério esta questão. Continua o Papa: «Penso no “trabalho escravo”», que a mobilidade de hoje está a gerar por todo o lado. Há «as pessoas obrigadas a prostituírem-se, entre as quais se contam muitos menores, e nas escravas e escravos sexuais; nas mulheres forçadas a casar-se, quer as que são vendidas para casamento quer as que são deixadas em sucessão a um familiar por morte do marido, sem que tenham o direito de dar ou não o próprio consentimento».
Há também «menores e adultos, que são objecto de tráfico e comercialização para remoção de órgãos, para serem recrutados como soldados, para servirem de pedintes, para actividades ilegais como a produção ou venda de drogas, ou para formas disfarçadas de adopção internacional». E os «que são raptados e mantidos em cativeiro por grupos terroristas, servindo os seus objectivos como combatentes ou, especialmente no que diz respeito às meninas e mulheres, como escravas sexuais. Muitos deles desaparecem, alguns são vendidos várias vezes, torturados, mutilados ou mortos».
NOTA:
Um artigo do Padre José Luís Rodrigues, hoje publicado no DN-Madeira.
Ilustração: Google Imagens.

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