Este assunto ganha cada vez mais pertinência, ainda mais se pensarmos que vivemos num mundo cheio de barbaridade, de pobreza, de exploração do homem pelo homem e de uma falta tremenda de respeito de uns pelos outros. A escravidão volta com toda a força. Quando se pensava que o desenvolvimento humano podia conduzir a humanidade para uma sã convivência, onde os valores democráticos ditavam a conduta humana, afinal, vemos a barbárie cada vez mais generalizada, a corrupção torna-se pão de cada dia, impondo como referência de sucesso a falta de respeito e o roubo descarado, mesmo que isso ponha em causa a justiça, o bem comum e faça mergulhar na pobreza povos inteiros.
A mensagem do Papa Francisco justifica a reflexão sobre a necessidade da fraternidade humana a partir deste pressuposto: «Infelizmente, o flagelo generalizado da exploração do homem pelo homem fere gravemente a vida de comunhão e a vocação a tecer relações interpessoais marcadas pelo respeito, a justiça e a caridade. Tal fenómeno abominável, que leva a espezinhar os direitos fundamentais do outro e a aniquilar a sua liberdade e dignidade, assume múltiplas formas sobre as quais desejo deter-me, brevemente, para que, à luz da Palavra de Deus, possamos considerar todos os homens, «já não escravos, mas irmãos» (nº 1).
Por isso, as denúncias não se fazem esperar. O Papa diz: «Penso em tantos trabalhadores e trabalhadoras, mesmo menores, escravizados nos mais diversos sectores, a nível formal e informal», por isso, pensamos em tantos trabalhadores entre nós, aqueles que têm a sorte de ainda terem trabalho, que são humilhados, insultados na sua dignidade, explorados a todos os níveis. Quantos estão assinar papéis e mais papéis como se tivessem recebido, mas no fim não receberam nada e se receberam não viram o justo valor? Quantos estão a trabalhar várias horas ao dia sem que recebam qualquer compensação por esse trabalho extra? Quantos andam a pedinchar trabalho por todo o lado e são recebidos com palavras brutas, má criação e arrogância? Quantos neste mundo não encontram leis e entidades que os protejam como deve ser? – A exploração dos trabalhadores intensificou-se com a desumanidade neoliberal que enlouqueceu muitos governantes.
Perante a desgraça da emigração e migração dos povos que procuram melhores condições de vida diz o Papa Francisco: «Penso também nas condições de vida de muitos migrantes que, ao longo do seu trajecto dramático, padecem a fome, são privados da liberdade, despojados dos seus bens ou abusados física e sexualmente». Face à tragédia que tem sido os últimos tempos entre nós com a emigração deve fazer-nos pensar a sério esta questão. Continua o Papa: «Penso no “trabalho escravo”», que a mobilidade de hoje está a gerar por todo o lado. Há «as pessoas obrigadas a prostituírem-se, entre as quais se contam muitos menores, e nas escravas e escravos sexuais; nas mulheres forçadas a casar-se, quer as que são vendidas para casamento quer as que são deixadas em sucessão a um familiar por morte do marido, sem que tenham o direito de dar ou não o próprio consentimento».
Há também «menores e adultos, que são objecto de tráfico e comercialização para remoção de órgãos, para serem recrutados como soldados, para servirem de pedintes, para actividades ilegais como a produção ou venda de drogas, ou para formas disfarçadas de adopção internacional». E os «que são raptados e mantidos em cativeiro por grupos terroristas, servindo os seus objectivos como combatentes ou, especialmente no que diz respeito às meninas e mulheres, como escravas sexuais. Muitos deles desaparecem, alguns são vendidos várias vezes, torturados, mutilados ou mortos».
NOTA:
Um artigo do Padre José Luís Rodrigues, hoje publicado no DN-Madeira.
Ilustração: Google Imagens.
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