Há para aí uns senhores que desejam chegar ao poder e falam que "é preciso saber respeitar o legado histórico de Alberto João Jardim", classificam-no de "herói até o ano 2000", de um período de "enorme fulgor", "de uma revolução largamente positiva na região" (...) no quadro do "desenvolvimento que a Madeira conheceu" e que "agora não é momento de olhar para o passado, mas de perspetivar o futuro". Depois, como que a marcar uma ligeiríssima diferença entre iguais, a criticazinha que, enfim, foi pena não ter havido renovação e que o seu modelo está "esgotado". Como se houvesse ou possa vir a existir alguma diferença entre Jardim antes de 2000, Jardim depois de 2000 e um qualquer outro da mesma área política, depois de 2014. Do meu ponto de vista, todos fazem jus ao slogan da Beneton: "todos diferentes, todos iguais", politicamente, claro. No essencial, aquilo que os une, os princípios e valores políticos e partidários, apresentam-se transversais. A figura de Miguel de Sousa que, pelo seu discurso consubstanciado em artigos de opinião indigeríveis por João Jardim, no momento da verdade, isto é, no momento de dizer NÃO ao Orçamento da Região para 2015, vergou-se, votando, favoravelmente, ao lado de Jardim. Ah, apresentou uma "declaração de voto", quando se sabe que tais declarações não têm nem valor nem significado político. Votou a favor, ponto final. Todos os candidatos que, directa ou indirectamente, estão no hemiciclo votaram a favor. Ponto final!
Tiveram nas mãos a possibilidade de demonstrarem a diferença sobre o que realmente desejam para o futuro, mas encolheram-se dando, uma vez mais, um voto de confiança a Jardim. Podiam ter obrigado o governo a uma negociação na Assembleia, ouvindo os seus pares da bancada da maioria bem como as propostas da oposição; podiam ter imposto, ali mesmo, as regras daquilo que dizem ser um "novo ciclo", mas não, encolheram-se, não esgotaram sequer os tempos atribuídos, chumbaram tudo em sede de "debate" na especialidade e com uma distinta lata política, vêm cá para fora assumir a diferença com um discurso politicamente desonesto. Esta declaração diz tudo ou quase tudo: "(...) depois disso, dada a má qualidade da sua equipa de governo, foi o desastre", porque enterraram a Madeira "em dívida pública e obras que têm tanto de absurdas como de desnecessárias".
Após quarenta anos de domínio político, de controlo quase absoluto das instituições públicas e privadas, da governamentalização da Assembleia, depois de todos terem estado à beira da mesa do orçamento, face, ainda, ao silêncio político entre 2000 e 2014, a questão que se coloca é se estes entes políticos demonstram alguma credibilidade para falarem, com autoridade, de um "novo ciclo"?! Não têm e, por isso mesmo, considero-os as seis cabeças de um monstro designado por jardinismo. Umas cabeças mais brandas, outras mais acutilantes, outras, ainda, que pensam por outras cabeças, mas todas envolvidas e polvilhadas com os pozinhos do jardinismo.
Cabe à oposição, custe o que custar, acabar com esta treta da venda de gato por lebre. Enquanto é tempo e esse tempo está a esgotar-se.
Ilustração: Google Imagens.
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