Tenho pelo Padre José Luís Rodrigues uma enorme admiração e respeito pelo seu múnus sacerdotal. É um Homem de quem se gosta de ouvir ou ler, porque se aprende. Que me perdoem outros, mas este faz parte do limitado leque que assume, publicamente, o que lhe vai na alma. Como poucos, pelo menos para mim, sabe contextualizar a Palavra em função da vida real. São suas estas palavras, insertas no seu blogue: "Sou sacerdote. Gosto muito do que faço. Ora bem, e o que se há-de esperar de quem é feliz! Assim, o que mais desejo neste mundo é que os outros também sejam muito felizes". Declaração que o obriga sair da lengalenga para estar com outros e ao serviço dos outros. Porque é um Homem de uma invulgar abertura, por isso mesmo, há já algum tempo, abriu o seu blogue, pedindo, individualmente, a muitas pessoas, a resposta a uma pergunta tão simples quanto complexa: "Deus e eu". A este propósito tenho lido depoimentos que me deixaram a reflectir. Chegou a minha vez e lá deixei o meu pensamento. Um texto que partilho com todos os que por aqui passarem. Escrevi-o com o coração e com a cabeça em Cristo.
"Eu, leigo, me confesso. Não sou e nunca fui dado a rituais. Cansa-me a repetição, a ausência de inovação, porque me desvia do fundamental. Recebi o baptismo, transmitiram-me e liguei-me à Mensagem da Palavra que fala, entre outros, de amor, tolerância e solidariedade. Daí que, nas raízes do meu pensamento, esteja sempre a vida e os outros, tendo por elemento central a pergunta: se sou feliz, por que razão os outros não o deverão ser? A resposta não a encontro nos simbolismos para a qual a Igreja empurra, tampouco em uma fé desprovida de sentido ou em uma caridade que eterniza a vida dos que vivem na margem. Não significa isto o meu total abandono pelos cerimoniais, mas a profunda convicção que a Palavra, aquela que me transmitiram e que julgo ter sabido cruzar com as múltiplas circunstâncias da vida, aquela que me fez moldar a personalidade e sobretudo o carácter. Cristo apresenta-se aos meus olhos de espectador, observador e actor, como o portador do estandarte, o Homem referência que luta contra as vicissitudes e contra os desequilíbrios sociais. Cristo é muito mais que a Igreja Católica, burocrática, conservadora, ostentatória e com muitos preocupantes escândalos de permeio. Jesus Cristo é muito mais que o Estado do Vaticano e as suas secretarias de Estado (!). Cristo é muito mais que rezas, pecados, confissões, dogmas e sucessivos batimentos no peito em sinal de arrependimento. Depois, Jesus Cristo não pede sofrimento para a libertação, pede amor e honestidade aos Homens. Portanto, Cristo é a Palavra, cuja narrativa visa humanizar comportamentos e atitudes a todos os níveis e escalas. Só que, muitas vezes, interrogo-me, por onde andará, porque tão distraído me parece, face a tanto atropelo, maldade, terror, fome, miséria e ausência de compaixão. Ele que transborda amor e que manda rebentar as amarras, como permite os poderes, todos os poderes, que colocam o homem contra o homem? Acabo por me guiar nas profundas convicções que a Mensagem traduz, interferindo onde posso e devo, na certeza que contribuo para uma sociedade melhor. Sinto isso ao fazer, com regularidade, a pergunta: cumpriste?
Esta é, no essencial, a minha relação com Deus. A do leigo que acredita na utopia como um caminho para a consecução da fraternidade entre os Homens."
Publicado no blogue:
O Banquete da Palavra
http://jlrodrigues.blogspot.pt/
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