Perante o caos, urge questionar: que raio de autonomia integramos se nem o mais básico e prioritário conseguimos assegurar? - Um artigo de Roberto Ferreira, publicado na edição de hoje do DN-Madeira.
1) O ruído insuportável à volta do setor da saúde parece não ter fim à vista. Dia sim, dia sim, denuncia-se a falta de um medicamento, de uma vacina, a impossibilidade de se realizar um exame, uma máquina de diagnóstico avariada, um serviço hospitalar sem médicos suficientes para suprir as necessidades. Para compor o ramalhete ficamos a saber, por estes dias, que a lista de espera para cirurgias aumentou, em vez de diminuir. 16 mil e 300 madeirenses aguardam por uma operação, muitos há mais de uma década. Sim, leu bem. Há quem (des)espere há mais de 10 anos para entrar no bloco operatório. Quando isso acontecer – se acontecer – estará ainda vivo? Em muitos casos os tempos médios de espera, indicados por patologia, não são respeitados.
Não se deve fazer demagogia nem usar pequena política quando se fala da saúde. Contudo o que se está a passar com esta área tão sensível na Região não pode nem deve ser encoberto, nem observado como se de falhas pontuais se tratassem. Perante o caos, urge questionar: que raio de autonomia integramos se nem o mais básico e prioritário conseguimos assegurar? Quem é responsável por esta situação? O governo regional? O da república? Ou somos todos nós, contribuintes pagadores e cumpridores, ao deixarmos a situação resvalar a este ponto? Que falta para que se tomem medidas capazes de estancar o estado debilitante em que se encontra a saúde na Madeira? Na torrente crítica fala-se de interesses privados que se sobrepõem aos da população, que envolve médicos e clínicas privadas. O que se sabe, em rigor, sobre a eventual promiscuidade?
Urgem respostas, cabais, esclarecedoras, convincentes, porque com a saúde não se brinca, não se raciona, muito menos se joga e ironiza. As pessoas vivem há tempo demais com a interrogação, com a dúvida e com as falhas permanentes de um setor que não tem tido a paz que deve marcar a sua ação.
Não podem ficar reféns desta ou daquela falta, “falha temporária” ou o que se quiser chamar. Este ruído em torno da saúde desenrola-se há tempo demais, subsiste há muitos anos, por entre silêncios cúmplices e promessas inconsequentes de quem lidera o setor. Não podemos encolher os ombros, nem protestar apenas quando o mal nos bate à porta. A pouca vergonha tem de acabar. Pela sua saúde, mexa-se!
2) A atividade política regional centra-se em duas figuras: Paulo Cafôfo e Rubina Leal. Todos os dias os dois aparecem nos jornais e na televisão, por motivos distintos.
O primeiro como presidente do município, a segunda no papel de secretária da Inclusão. Estamos a cinco meses das eleições e os principais candidatos fazem tudo para divulgar as suas propostas. Convém, no entanto, não nos deixarmos inebriar pela espuma de alguns discursos, nem pela demagogia típica da época.
Observando a uma distância considerável – que permite maior frieza de análise – dei por mim a pensar: quantos anos o PSD governou a Câmara do Funchal? Quantos anos Miguel Albuquerque esteve na presidência? Quantos anos Rubina Leal esteve ao seu lado?
Em que situação financeira deixou o PSD a principal autarquia da Madeira? Essa dívida aumentou desde 2013 – ano em que o PSD deixou de mandar - ou, pelo contrário, diminuiu?
Que dizem os relatórios independentes sobre o os resultados alcançados pela equipa de Cafôfo, designadamente o Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses? Convém saber e efetuar uma apreciação comparativa entre o antes e o depois.
Pode-se fazer mais pela cidade? Sim, sim e sim. Em diversas áreas. O que não se deve fazer é confundir cargos para “picar o ponto” junto do cidadão eleitor diariamente. Isso, por si, não é suficiente. Estamos em 2017...
P.S.: A Festa da Flor é o maior cartaz turístico da Madeira. Uma vez mais está ao nível do melhor que se faz por cá. Os hotéis estão cheios, os turistas andam na rua, a economia mexe. A Região agradece.
NOTA
Transcrito, com a devida vénia, do DN-Madeira.
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