É óbvio que, para quem desempenha o papel de vereador da oposição, tem de olhar para as situações e denunciá-las, ao mesmo tempo que, espera-se, em contraponto, uma posição propositiva. O "jogo" democrático assim o exige. Porém, há um aspecto que deve ser tido em conta e que se exprime em uma só palavra: memória. Se, no tempo certo, um político não levanta a sua voz, mesmo estando no poder o partido com o qual se identifica, parece-me falho de credibilidade quando, mais tarde, se apresenta em tom crítico relativamente a situações face às quais deixou o marfim correr.
Ora, o desordenamento das zonas altas do Funchal tem uma paternidade, exactamente quem o permitiu durante trinta e sete anos consecutivos de maiorias absolutas. O silêncio que perdurou, os remendos introduzidos, as cumplicidades das Juntas de Freguesia que não alertaram, a ausência de coragem política para travar a construção de génese ilegal, os ouvidos de mercador perante tantos que solicitaram um plano integrado de desenvolvimento, faz parte de um rosário de muitas contas. Por isso, vir agora falar de políticas "inconsequentes" quando essas partiram de um partido, hoje na oposição, parece-me desajustado e à revelia de um mínimo de respeito político por si próprios.
Corrigir o desordenamento das zonas altas do Funchal levará tantos anos quantos aqueles que temos de democracia.Não sei se chegarão. E se houver muito dinheiro disponível!
Ilustração: Google Imagens.
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