Adsense

domingo, 26 de setembro de 2010

ESCOLA A TEMPO INTEIRO (ETI) E FAMÍLIAS A MEIO TEMPO (FMT)


Sobre a Escola a Tempo Inteiro, diz o Professor Santana Castillo, que se trata de uma: "aberração pedagógica e social que nacionalizou crianças e legitimou a escravização dos pais". Concordo.


Li um texto de Paulo Guinote que me entusiasmou. Tal qual quantos outros. Este corresponde, exactamente, àquilo que há muito luto e que se traduz em uma frase muito simples: a escola a tempo inteiro constitui uma boa solução para um problema errado. "É uma aberração pedagógica e social que nacionalizou crianças e legitimou a escravização dos pais", como sublinha o notável Professor e pensador das questões da Educação, Santana Castillo. Paulo Guinote, autor do blogue "A Educação do meu Umbigo" clarifica:
"(...) Por isso, a Escola a Tempo Inteiro é apenas algo que se destina a apaziguar as “famílias” que, cada vez mais, são obrigadas a trabalhar em condições mais precárias e vulneráveis. Que não podem faltar, sob pena de perda do posto de trabalho no final do contrato. Que são obrigadas a cumprir horários incompatíveis com uma vida familiar harmoniosas. Numa altura em que, cada vez mais, as famílias são menos do que nucleares. A Escola a Tempo Inteiro é um óptimo contributo para todos os empresários e empregadores que defendem a desregulação - pelo abuso - do horário de trabalho dos seus empregados. Se é isso que vai desenvolver o país? Abrindo mais umas dezenas de centros comerciais para as “famílias” tentarem desaguar as frustrações ao fim de semana?Quem defende as “famílias” deveria defender, em coerência com os seus princípios, que o Estado protegesse a vida das ditas “famílias” a partir da melhoria das suas condições de vida. A defesa da Escola a Tempo Inteiro é a admissão de um fracasso, de uma derrota e não o seu contrário (...)".
Tão simples quanto isto. Deixaram andar, permitiram a desregulação do mundo do trabalho, seguiram a lógica duvidosa de "nada mais certo no futuro que o emprego incerto", ou que a "empresa do futuro se chamaria Eu, SA", espremeram o trabalhador, esqueceram-se das lutas de Chicago, desorganizaram as regras base do mundo do trabalho e, agora, baseado no princípio de maria-vai-com-as-outras, o capitalismo selvagem, à boleia dessa desregulação e da fraqueza das pessoas, incapazes de lutarem pelos seus direitos, o País, a Região e um pouco por aí fora, transformaram a escola em um armazém de crianças, enquanto lá fora os pais lutam por uns euros.
São as famílias a meio tempo que emergem, em contraponto à Escola a Tempo Inteiro! E os mesmos que a criaram são capazes de dizer que as famílias são as células da sociedade. Constituem a base da aprendizagem, a base dos princípios e dos valores sociais, da Educação geral e específica. Mas como? Com pais a recolherem os filhos tardiamente que mal dá, em muitos casos, para o banho, os "deveres da escola" (outra coisa a rever), o jantar e xi-xi cama! Como é que se pode educar neste completo divórcio entre filhos e pais? Pais que o são, muitas vezes, ao fim de semana! Que construção familiar é possível? É evidente que se safam neste processo aqueles que dispõem de Avós a Tempo Inteiro. Que ajudam, mas não substituem. 
Estes governantes não sabem o que estão a fazer. Deveriam visitar outros espaços, ler um pouco mais questões desta natureza que, sublinho, são muito mais profundas que publicar histórias para criancinhas, tomarem consciência da necessidade de uma nova (re)ORGANIZAÇÃO SOCIAL capaz de uma maior produção e distribuição da riqueza, mas salvaguardando os aspectos determinantes na construção equilibrada do edifício humano. Deveriam visitar muitos países que não alinham nesta loucura e não embarcaram na facilidade das ETI e desses "regimes cruzados" que constituem um ataque aos direitos das crianças e das famílias. Engenharias, como se as crianças fossem materiais de construção! 
O problema é que por aqui, nesta "paróquia" tão pequena e tão fácil de organizar, os mentores continuam a "avançar mas sem pensar". Espero que este problema seja reconvertido para que a família possa, de facto, ser a tal célula determinante no equilíbrio social.
Ilustração: Google Imagens.

3 comentários:

elvira disse...

Olá Professor Escórcio.
Gostaria de dizer-lhe que gostei muito destes artigos sobre as ETI´s.
Continue e parabéns pelo Blogue!

elvira disse...

Ah, esqueci-me de dizer que Escola Fabril e Escola a Tempo Inteiro: qualquer semelhança é pura coincidência...
Um abraço
elvira

André Escórcio disse...

Obrigada pelo seu comentário.
E muito obrigada pelo entusiasmo manifestado.
Trata-se de um assunto de relevante importância e que deveria ser debatido, mas como julgo que sabe, é muito difícil...
Muito obrigada.