Não entro nessa polémica Madeira vs Açores. Quando dá jeito, a Madeira é apresentada como região singular; em outros momentos, na mó de baixo, os governantes tentam, das duas, uma: ou desviar as atenções ou, então, chutar para Lisboa as responsabilidades. Já não há pachorra para este entranhado formato de fazer política. Libertem-se, por favor.
Ontem, o primeiro-ministro lamentou o facto do défice da Madeira ter agravado em uma décima o défice do sector público administrativo. Hoje, o vice-presidente do governo regional da Madeira, Dr. Pedro Calado, veio exigir um pedido de desculpas de António Costa aos madeirenses. Atirou-se como se a casa local não tivesse telhados de vidro. Pedido de desculpas, porquê? Compulsando a história do processo, não será verdade que o défice da Madeira é sete vezes superior ao dos Açores? Não é verdade que, ao contrário dos Açores, os madeirenses e porto-santenses estão a pagar impostos sem um diferencial que poderia chegar aos 30%? É falso ou verdadeiro que a Região escondeu mais mil milhões de dívidas e que o valor global da dívida chegou aos 6.3 mil milhões? Pedir desculpas porquê?
Mas tudo isto, embora preocupante, porque influenciará, por muitos anos, a vida colectiva da Região, não teria uma dimensão política relevante, quando a agressividade discursiva pode colocar em causa a solução de vários dossiês. Pessoalmente, entendo que a Madeira deve discutir de igual para igual, sem qualquer vénia de chapéu na mão, porém, nunca com as mãos cheias de pedras. Essa forma de actuação não é facilitadora de nada. As negociações tornam-se mais difíceis, todos compreendemos.
E quanto às contas... quando o Dr. Pedro Calado foi vereador da Câmara do Funchal, a autarquia dava lucro! Li várias vezes declarações nesse sentido. Eram as suas contas. Porém, em 2013, verificou-se que a dívida da Câmara do Funchal, afinal, era superior a 100 milhões de euros! Enquanto cidadão, leio as suas declarações e fico, agora no governo, com o mesmo pressentimento.
Finalmente, talvez fosse preferível uma certa contenção discursiva. Ainda esta semana o DN deu conta, que em apenas três meses, o vice-presidente do governo contratualizou 19 funcionários políticos para o seu gabinete. Ficou-se também a saber que o vice-presidente dos Açores, para nove ilhas, nomeou, apenas, sete para o seu gabinete. São os tais telhados de vidro que deveriam exigir outro tipo de comportamento. Porque uma coisa é, eventualmente, dizer, com números, que a apreciação do governo da República não é correcta; outra é a forma e o tom agressivo como se equaciona. Uma é o saudável combate político; outra, é regressar aos tempos de Jardim.
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