Na política há duas palavras que me fazem sair do sério: interesses e ingratidão. Os partidos políticos estão muito à mercê de ambas. O jogo nos bastidores, as artimanhas meticulosamente construídas, os interesses em afastar e matar politicamente quem, eventualmente, faz sombra ou, simplesmente, de quem não se gosta, toda a engrenagem que se encontra por detrás do palco, mais complexo que um tabuleiro com peças de xadrez, que conduz a muitos venderem a sua consciência aos bocados, porque estão em causa interesses empresariais e ou obediências por favores ou posições atribuídas, tudo isto me repugna. Da mesma forma a ingratidão, como consequência. Quem não se vende, os intelectualmente sabedores e honestos, aqueles que pautam a vida pelo rigor e pelo conhecimento, que não têm medo de enfrentar o futuro, porque conhecem o terreno e os escolhos, que não andam com o nariz colado ao joelho, que constroem e deixam a sua marca alicerçada na qualidade que rejeita os medíocres e interesseiros, estes são, implacavelmente, afastados. Como vulgarmente se diz, fazem-lhe a folha, devagarinho, com tempo, semeando e regando a mentira, criando o ambiente até o golpe final.
O último dos preferidos pelo povo é que ganhou. Por que será? |
Na "primeira oitava" do recente congresso socialista, não posso conter as palavras em favor de um Amigo que muito estimo e considero. Não apenas no plano político. Mesmo distante da Região, segui o desenrolar dos trabalhos. E tenho que o dizer: parabéns, Amigo Carlos Pereira.
Dirijo-me a si. Sabe, Carlos, tão bem quanto eu, que "não ofende quem quer, mas quem pode", não é assim? Pois, a consciência do trabalho realizado, a luta pela não ingerência nas questões internas e regionais do partido, a ausência de qualquer referência, com substância elogiosa ao anterior presidente e restante direcção do PS-M, (absolutamente deselegante, mas percebo, ora se percebo que não foi um deslize!) no decorrer da intervenção de Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta do PS Nacional, sei lá, braço direito ou esquerdo de António Costa, toda esta mixórdia conduz-me à leitura, Amigo Carlos, que tudo foi pensado ao pormenor. António Costa não teve coragem de vir ao Congresso. Ele lá saberá as razões políticas do que terá gizado com outras conivências.
E tudo isto porquê? Pelo facto do Carlos, em 2015, ter assumido um claro NÃO à oportunista candidatura de Bernardo Trindade como cabeça de lista pela Madeira. A autonomia estatutária venceu a decisão unilateral de António Costa. O Carlos sabe que nesse momento assinou o documento da guerra e não um tratado de paz. E a bomba deflagrou agora. Há muito que ela vinha a caminho à velocidade dos interesses e do "afastamento" pela via "democrática".
Retomo o meu pensamento. Esse foi o momento-chave da "condenação" de Carlos Pereira, de sempre um dos mais brilhantes parlamentares da Madeira. Manobraram, sentaram-se à porta e esperaram que o funeral passasse. E já passou! Seria bom que alguns tomassem consciência de um outro provérbio bem português: "o acerto de hoje é o erro de amanhã".
Frequentemente, interrogo-me, se não será estranho que um dos melhores, o mais bem preparado em assuntos de economia e finanças, de onde depende tudo ou quase tudo, presença quase diária na comunicação social pelo seu sentido propositivo e sustentado técnica e politicamente, aquele que trouxe o PS de uma situação muito complexa para um patamar de credibilidade e notoriedade política e social, seja afastado e até, pasmo, pedido por uma alminha pequenina, a sua expulsão do partido. Isto leva-me a pensar na pequenez desde as alminhas de paróquia até aos engravatados, tidos por referências sebastiânicas e que agora surgem entre o denso nevoeiro. Que não se esqueçam, uns e outros, a figura triste que fizeram (que estão a fazer) e que "onde comem, deixam migalhas". E são esses sobejos que permitem diversas leituras, desde o porquê de agora surgirem até ao que lhes move(u). O tempo, grande mestre que é (o PS-M tem a obrigação de ganhar em 2019), estou certo, devolverá ao Dr. Carlos Pereira a dignidade e o reconhecimento político pelo trabalho realizado que abriu portas à vontade de mudança. Dignidade e reconhecimento que o povo reconheceu (vide sondagem), independentemente dos enquadramentos políticos de quem se pronunciou. Saiba o António Costa, a Ana Catarina e outros que "há mais marés que marinheiros".
NOTA
A minha crítica ao Dr. António Costa enquadra-se enquanto secretário-geral do PS. Nada tem a ver com o trabalho que está a realizar enquanto Primeiro-Ministro em prol de Portugal.
Ilustração: Google Imagens.
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