Adsense

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

A propósito de uma "algália"


Eram cerca das 17:00 horas. Saí do supermercado e liguei o rádio. Escutei não mais de três, quatro minutos. Desliguei. Na Assembleia Legislativa da Madeira, falava o Senhor Presidente do Governo no debate do Orçamento da Região para 2023. Eu sei que uma cópia não passa de uma cópia. O original é de difícil imitação. Não suportei o fraseado, neste caso dirigido ao representante do PCP, onde até falou da função de "algália" que este partido teve durante o acordo de incidência parlamentar entre o PS, PCP e BE. Palavra sem sentido e se tem, é tão pejorativo que não atingi.



"Algália" foi o mínimo, porque todos os da oposição foram presenteados. O anterior presidente batia forte e feio, "contava anedotas", distraía do assunto sério e, infelizmente, ainda animava. No meio daquilo dizia coisas com algum grau de assertividade. Este não, a cópia sai esborratada. Não gosto. Detesto. 

O debate do Orçamento deve ter elevação, deve ser um momento solene de exercício da democracia, de contraposição com argumentos consistentes e de demonstração da verdadeira face de um projecto político. O debate não deve permitir a desconversa, o bate-papo de mesa de café entre uma "milhada" e outra a ver quem paga a rodada.

O debate sério dispensa o pensamento pacóvio, a animosidade sem sentido e a gritaria insolente. A Assembleia é o primeiro órgão de governo próprio desta Autonomia e, desde logo, mesmo perante um povo desligado da coisa pública, deve ser educadora e séria. Mas não, parece que naquele metro quadrado de espaço de cada um, a soberba toma conta do racional e aquilo torna-se repelente, o que conduz ao afastamento, não sei se intencional, do ambiente político por parte dos cidadãos.

Azar meu, talvez como prova do dia anterior, hoje, quase nas mesmas circunstâncias, voltei a ligar e zás, dou com um secretário do Turismo e, imagine-se, da Cultura, a atirar-se, não percebi a quem, mas onde falava da escola primária e de reguadas, mas certamente não as podendo dar, ficava pelo seu discurso de contraponto. Voltei a mudar de estação.

Sinceramente, é que já não há pachorra para aturar vilipêndios seja lá de quem for. Aprendi ao longo da vida que o melhor improviso é o que está escrito. Isto é, parecendo improviso, sobre as diversas matérias, os tópicos dos raciocínios estão escritos e fundamentados. E sobretudo a consciencialização do que não deve ser dito. 

A Assembleia é um espaço nobre, pressupostamente, ali deveriam estar os melhores da sociedade (infantilidade a minha), debatendo os assuntos que a todos diz respeito. Não é um espaço de discussão (diferente de debate), de marginalidades, de generalidades, de banalidades e de infantilidades. A Assembleia não tem de ser, necessariamente, uma arena de gladiadores, de ofensa e "sangue". É preciso erudição, ironia cáustica, ponderação e maioridade nas atitudes e comportamentos.

Finalmente, regresso à "algália", apenas para questionar se a palavra e o seu significado também se aplica ao parceiro (legítimo) da sua coligação?

Ilustração: Google Imagens.

Sem comentários: