FACTO
O presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque, o Presidente da Câmara do Funchal e outras personalidades visitaram o novo Savoy. Na oportunidade disse que sentia "muito orgulho nesta obra" (...) "É um empreendimento belíssimo".
COMENTÁRIO
Eu não discuto a estética enquanto ramo da filosofia. Isso obrigar-me-ia a um estudo aprofundado para determinar o que são, por exemplo, as emoções que uma obra pode gerar para dizer que ela é bela. Não fiz esse esforço, portanto, não emito uma opinião, porque seria sempre discutível, superficial e sem fundamento. Obviamente que formulo um conceito quando olho para um edifício, para o traço arquitectónico, sobretudo os incomuns, para os materiais utilizados, para as suas cores e o seu enquadramento paisagístico, que me leva a configurar uma ideia, a minha, distante do rigor do olhar científico que só outros, os que estudaram, podem e, pedagogicamente, devem assumir. Daí que nunca me atreveria a qualquer comentário se tivesse responsabilidades públicas. Compreendo-as à luz de outros factores!
Porém, de conversas que ao longo dos anos fui mantendo, circunstancialmente, com várias figuras da arquitectura, da engenharia e não só, das viagens que fiz e do olhar que dediquei, desde a monumentalidade aos cantos e recantos das cidades, parando, olhando e contemplando, é óbvio que tenho uma leitura. Repito, apenas minha. Apertando o zoom até à cidade do Funchal, aprendi, por necessidade da função de vereador, alguns aspectos sobre o seu fabuloso anfiteatro. Foi o Engº Danilo Matos que um dia me disse, a propósito de duas torres de vinte e tal andares que queriam construir onde hoje se encontra o La Vie: o Funchal tem uma escala e essa escala não deve ser pervertida. Temos um anfiteatro para respeitar. Esta frase, para mim, ao jeito de ovo de Colombo do conhecimento básico, fez-me despertar para a consolidação de uma leitura que entendo ser essencial, mesmo nada sabendo de ESTÉTICA. Ora, o que ali está, se é belo ou não, o Dr. Miguel Albuquerque, jurista e político, lá saberá. Para mim, ignorante que sou nesses domínios, assumo que aquilo é uma aberração, simplesmente porque foge ao tal sentido de escala que a autarquia deveria respeitar. Mas isto sou eu a dizer. Em contraponto, o Senhor Presidente do Governo, esse, sente "orgulho", ainda por cima porque é "belíssimo".
Arquivo próprio. |
De resto, no plano da responsabilidade política, esta visita de várias personalidades ao local, desde o Presidente da Assembleia Legislativa ao Representante da República, passando pelo Presidente da Câmara do Funchal e pelo secretário das Finanças (ex-administrador do Grupo AFA), pelo que me apercebi, todos terão ficado babados ou vergados à "obra" prima do empresário Avelino Farinha. Fiquei com a ideia de um primeiro passo para o branqueamento de uma decisão política, pelo que li de pessoas avisadas, entre outros, o caso concreto do Arquitecto Rui Campos Matos, ao tempo líder da Ordem dos Arquitectos na Madeira (ler artigo aqui). Em 2017 escreveu um artigo sobre a luta, em vão, pela tomada de consciência dos cidadãos ao que ali seria construído. Eis um excerto: "(...) como ingénuos que somos, preferimos continuar a acreditar que o Funchal não é Playa del Ingles e que as características identitárias que herdou, e o distinguem de todas as outras cidades, devem ser preservadas; preferimos acreditar que é possível transformá-lo, acrescentar-lhe novidades, sem destruir o nexo da sua história e da sua escala urbana. Na verdade, na nossa ingenuidade, preferimos continuar a acreditar nos políticos que elegemos (que são homens como nós), e recusaremos sempre, como reza o ditado, atribuir à malícia ou à venalidade aquilo que cabalmente se pode atribuir à estupidez (...)". Dir-se-á que a Economia mandou a política às malvas e a "obra-prima" foi em frente.
Fico por aqui, mas, sinceramente, como gostaria de escutar a opinião do Arquitecto Rafael Botelho, aquele que orientou o primeiro Plano Director do Funchal aprovado em 1972!
Ilustração: Google Imagens e Arquivo pessoal.
Sem comentários:
Enviar um comentário