Das intervenções na Assembleia Legislativa, fundamentalmente, as oriundas da maioria parlamentar, até a alguns artigos de opinião e declarações de circunstância, é recorrente a manifestação de uma sintomatologia que, pessoalmente, enquadro no complexo de inferioridade. Conheço o essencial da História da Madeira, fundamentalmente, as lutas que enfrentaram os verdadeiros autonomistas face a pensamentos e posicionamentos retrógrados. Sempre houve, lá parra trás, uma inconsciente ou mesmo intencional necessidade de ter a "patinha em cima". Porém, os tempos são outros e estes quarenta e tal anos demonstraram que essa doentia preocupação praticamente não existe. Que continuam por resolver dossiês que merecem outros enquadramentos, obviamente que sim, mas com a democracia estabilizada, com a necessária adultez dos governantes, com muito diálogo e bom senso, sem o chapéu na mão, julgo que não existe necessidade de um permanente e quase ódio figadal. Aliás, processos por resolver, muitos que envolvem financiamento, existem e ainda bem que continuarão a existir, pois será sinónimo de vitalidade entre as partes.
Estou mais próximo da tese do complexo de inferioridade relativamente a outras, de um sentimento de que se é menos relativamente aos parceiros, o que leva a levantar a voz e dar gritos coléricos, escritos ou através de inusitadas e anti-sociais declarações. Ainda hoje li um artigo de opinião do Dr. Eduardo Jesus (DN-Madeira) que fala de uma "ameaça à autonomia regional", complementada na fantasia "do que seria o poder central a mandar no território regional" (...) da hipotética "submissão inqualificável dos poderes regionais" (...) e que a autonomia não pode ser "o espaço para os novos governadores do território" tudo isto como se não existisse uma Constituição da República (Artigo 225º e seguintes) e um Estatuto Político-Administrativo.
Existe, portanto trata-se de uma imaginação criadora de factos que não correspondem à realidade. O que existe é um claro complexo de inferioridade, repito, que deveria ser expurgado, porque ele acaba por exprimir uma fuga às responsabilidades. Quando as situações decorrem mal, quando a pressão e o escrutínio crescem, então, surge a necessidade de branquear e de alijar para outros as responsabilidades que pertencem a quem governa. Não é descortinável perceber as razões que leva um ex-governante a escrever que se assiste "a uma negação do nosso espaço, à submissão inqualificável dos poderes regionais" (...) que o futuro da Região está "à mercê dos centralistas, daqueles que têm vindo a mostrar total indiferença quando lidam com os problemas dos madeirenses e portossantenses, provando que, o que está em curso, é um movimento de conquista da Região sem conteúdo, sem sensibilidade e sem conhecimento que possa valer qualquer confiança ou credibilidade". Ininteligível, digo eu, este arrazoado, até porque, por um lado, demonstra medo de eventuais mudanças, que a acontecerem serão democráticas, por outro, porque assume um tom ditatorial (nós ou o caos), mas, sobretudo, contradiz, em absoluto, o discurso da "Madeira Nova" vendido durante muitos anos, aos madeirenses e porto-santenses, independentemente de quem governou na República.
Escreve, ainda, o articulista que "os madeirenses e os porto-santenses não desejam, não querem, nem merecem voltar atrás num regresso a um passado que não deixa saudades nem traz boas memórias" (...) e que "a autonomia não é o espaço para os novos governadores do território". Esbocei um sorriso ao mesmo tempo que dei comigo a abanar a cabeça em sinal de tristeza por aquilo que estava a ler. Regressar a um passado de seis mil milhões de dívidas, de perseguições, pobreza, abandono, insucesso escolar e de permanentes ofensas aqui produzidas? Obviamente que não. Portanto, deduzo, que tudo aquilo são fantasmas, sensação de governo assombrado, arrepios por uma alegada perda e alucinações sem fim. Estou em crer, também, que se trata da necessidade de vender um produto político fora de prazo. Até porque, uma larga maioria, por duas vezes, rejeitou tais posições nas eleições autárquicas, dando claras indicações que 40 anos é muito tempo e que todas as músicas acabam por cansar. Pessoalmente, não tenho qualquer complexo de inferioridade!
Ilustração: Google Imagens.
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