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quinta-feira, 21 de junho de 2018

CHOQUE ECONÓMICO (I): A TERCEIRA VIA


Não vivemos a excitação e o entusiasmo próprio das mudanças, nem sequer partilhamos a euforia e a serenidade dos bons momentos. Vive-se numa estranha letargia, com um desconfortável nó na garganta, num vazio que tarda em preencher. Por isso, decidi contribuir com uma visão alternativa para a nossa economia. Não é verdadeiramente algo extraordinário até porque não há muitos caminhos para retirar os estrangulamentos que afectam a economia madeirense. Mas é um exercício que apela à reflexão. Fica claro, pelo menos para mim, que só com coragem política, sem cumplicidade oportunista, com competência e com consistência programática será possível combater os obstáculos que travam o crescimento económico e limitam o bem estar dos madeirenses.


Em primeiro lugar, é preciso saber do que estamos a falar. Só identificando os alvos pode ser determinada a escolha dos protagonistas para os desafiar. Quem não faz assim, está a colocar a carroça à frente dos bois. E ao optar por esta atitude pode ter duas razões: ou porque quer manter o status quo, mesmo que disfarce a evidência desta equação com um triplo salto mortal à retaguarda com saída em apenas um patim, ilegal (pelos menos em competições a valer) mas vistoso, ou, porque, efectivamente, não sabe o que quer. Em ambos os casos o resultado final ameaça ser catastrófico.
Em segundo, é preciso identificar com rigor os remédios necessários para uma trajectória de mudança. Mais uma vez, as soluções só serão eficazes se encontrarem as personalidades descomprometidas com os problemas ou, em alternativa, capazes de os enfrentar, sem rabos de palha! Lembro, a este propósito, um episódio do nosso passado comum: Santos Costa, ex-secretário regional que tutelou a gestão portuária, prometeu uma mudança durante 12 anos seguidos neste sector que é absolutamente estrutural para a nossa região. Prometeu, mas nunca mudou nada.
Em terceiro lugar, é preciso lideranças com nervos de aço para não ser comprometida com trocas de votos, com benesses ou com palmadinhas nas costas e tapetes vermelhos estendidos ocasionalmente para amansar ímpetos renovadores ou afrouxar egos sebastianistas. Este costuma ser o típico ardil que normalmente compra quem vive num paradoxo indecifrável: personalidades que o que têm a mais em vaidade e sobranceria, falta em estrutura psicológica, carácter, sentido de missão e serviço público.
Então comecemos pelo início. De que estamos a falar? Que matérias exigem mudanças? Do meu ponto de vista as principais são as seguintes: gestão e exploração dos portos da Região; gestão aeroportuária e operacionalidade do aeroporto; modelo de mobilidade aérea e marítima; gestão e exploração dos benefícios fiscais da Zona Franca da Madeira e investimento directo estrangeiro; os fundos disponíveis para financiar a economia; a relação entre universidade, sistema regional de inovação e empresas; a complexidade da paisagem e ecossistema regional e o défice de planeamento ; a corrupção e promiscuidade entre economia e política; a política fiscal; a gestão das contas públicas; e, não menos importante, os fundamentos autonómicos e a sua prática para a consolidação do desenvolvimento da RAM.

Que remédios podem ser aplicados? Não há uma solução milagrosa. Há um mix de opções políticas cuja única estrutura comum é a convicção da importância de mudar, desalojar e reverter o que tem impedido a convergência da Região com o resto do país, apesar das excelentes condições e do povo disponível e trabalhador. Os remédios não se encontram dentro de um baú ou num livro de economia, muito menos catalogado por uma qualquer ideologia. 

As políticas alternativas devem ser um misto de bom senso com análise prévia dos eventuais resultados baseando as decisões na sua viabilidade e na consciência do contexto do nosso arquipélago. Há frases feitas, teorias e até opções políticas que resultaram noutros locais e que nunca resultarão na Madeira. A opção de um bom remédio não é indiferente do que se conhece do paciente.
Finalmente, que liderança está mais preparada para um desafio repleto de dificuldades. Do meu ponto de vista, a exigência de quem se propõe a este desafio tem de ser a maior possível. É preciso demonstrar humildade perante os adversários e opiniões distintas, resiliência e perseverança perante as adversidades, robustez política perante os desafios e lealdade perante o seu grupo nunca esquecendo o cumprimento de compromissos perante os cidadãos que representa.
Neste contexto, e só com estas exigência, será possível reabilitar o sistema económico regional para o preparar para uma caminhada que incorpore a esperança de sermos melhores e mais felizes. São essas aliás as expectativas dos cidadãos da Madeira e Porto Santo.
Continuarei nos próximos artigos a definir as pistas para este complexo desafio...

NOTA
Artigo da responsabilidade do Dr. Carlos Pereira, publicado na edição de ontem do DN-Madeira.

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