Análise da semana em Dnotícias
26 JAN 2020
1.A semana foi fértil em acontecimentos políticos. A maioria por motivos que não enobrecem a causa pública. Vejamos.
Aquele que deveria ser sido um dos momentos altos da actividade parlamentar e governativa ficou marcado, logo no arranque, por uma revelação que só deveria ter sido feita – a ser verdadeira – em situação excepcional e para defesa da honra.
Trazer conversas privadas, sejam elas quais forem, para a arena política é descer ao nível torpe e mesquinho. Revela muito sobre quem o faz. Inquinar o debate do Orçamento para 2020 com uma conversa, que um jura ter acontecido e o outro desmente, só serviu para alimentar o circo político que tão maus resultados tem gerado na mobilização eleitoral.
No episódio que opôs Lopes da Fonseca a Paulo Cafôfo os dois ficaram francamente mal no retrato. O primeiro pelos motivos atrás referidos. O segundo porque demorou 24 horas a dar explicações sobre uma questão levantada por um deputado no plenário. Por que razão demorou a responder? E porque o fez fora do hemiciclo? Se Lopes da Fonseca mentiu por que motivo não foi desmascarado de imediato, à frente de todos, na sede própria? Nem que fosse para defender a honra aquele que vai ser o próximo líder dos socialistas madeirenses tinha a obrigação de ter esclarecido, ali, a inadvertida revelação. Erro de palmatória de Paulo Cafôfo ou, então, chegou mesmo a sugerir um mega governo, com envergadura suficiente para albergar as clientelas do PS e do CDS... Este episódio foi indigno do parlamento, numa semana em que ficámos a saber que o Governo Regional já fez mais de 250 nomeações políticas, em apenas três meses. E há mais na forja. Ainda existem militantes à espera de uma colocação. Mesmo para os que continuam a lidar mal com a liberdade de expressão, os números não mentem e revelam que uma das prioridades desta coligação é disponibilizar jobs for the boys. Ou haverá algum lugar da administração pública ocupado por um não militante social-democrata ou centrista?
2. Se o CDS quisesse ter realmente uma voz preponderante na saúde teria indicado logo Mário Pereira para titular da pasta, fazendo depender a viabilização de um acordo de governo a essa condição. Tal como aconteceu com a presidência do parlamento. Seria o mais natural, sabendo que o sector fora eleito como uma das bandeiras políticas do partido nas anteriores legislaturas, com as ideias e propostas do agora director clínico a servirem de base programática. Isso não aconteceu e no meio do turbilhão de nomeações atabalhoadas, a médica Filomena Gonçalves foi obliterada pelo sistema, desnecessariamente.
Será interessante ver, agora, a coabitação de Mário Pereira com Pedro Ramos, com quem tantas divergências teve num passado recente. A escolha do primeiro não foi uma decisão do segundo. Foi-lhe imposta pelo presidente do Governo, após um encontro com o líder do CDS, “agastado” por não ter os seus ‘boys’ instalados no Serviço de Saúde.
Veremos o que vai mudar na saúde e se o médico ortopedista vai pôr em marcha a sua estratégia, mesmo que ela colida com a vontade de Pedro Ramos e de todos os “poderes instalados” no hospital, como advertiu há não muito tempo. A coesão funcional e política desta coligação passa por aqui.
P.S.: Pedro Ramos desmentiu, no debate do Orçamento da Região, os números revelados pelo DIÁRIO sobre as cirurgias em lista de espera (21.400). Desafiado a revelar os verdadeiros dados oficiais, recuou e nada disse, porque sabe que, de facto, houve um aumento em relação ao ano anterior. Os doentes não são números, mas estes são determinantes para se aferir a dinâmica e o sucesso de políticas e serviços.
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