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terça-feira, 3 de março de 2020

MORREU UMA ATLETA EXTRAORDINÁRIA...


Li na página de facebook do Doutor Gustavo Pires e aqui transcrevo, pela importância e sufoco de toda a narração. Para ler e reflectir.

Por favor..., entidades públicas e privadas... deixem-se de olímpicas hipocrisias... Não chorem lágrimas de crocodilo na medida em que já ninguém acredita.
Com a devida vénia reproduzimos um texto do blogue Endurance coordenado pelo jornalista Cipriano Lucas.


OS CAMPEÕES QUE PORTUGAL ESQUECEU

"Desde 2006 que os antigos campeões têm, por lei, direito a uma subvenção temporária de reintegração que nunca foi paga. Duas dezenas de ex-atletas candidataram-se a esse apoio pós-carreira. Muitos, sem recursos económicos nem formação, caíram numa situação de precariedade social.
Conquistaram medalhas olímpicas, mundiais e europeias. Bateram recordes. Surgiram com frequência nas televisões e nos jornais. Viajaram pelo mundo. Foram reconhecidos na rua e passaram a ser referência para os mais jovens. Alguns assinaram contratos publicitários e receberam subsídios de clubes e bolsas do Estado. Passaram os anos de juventude numa total dedicação ao desporto. A maioria não estudou. Poucos meses depois de arrumarem os equipamentos caíram no esquecimento. Com pouco mais de 30 anos, sem profissão nem formação, alguns deles investem em pequenos negócios em que só perdem dinheiro. Todas as portas se fecham. Os dirigentes políticos e desportivos esquecem-nos. Muitos passam dificuldades económicas.
Desesperam. Pedem ajuda, mas quem os idolatrou vira-lhes as costas. Hoje, campeões como Albertina Dias, que representou Portugal em três jogos Olímpicos, e a lançadora Teresa Machado, em quatro Jogos, bateram no fundo. Ambas tiveram de recorrer a trabalhos de empregada doméstica para sobreviver. Albertina Dias “Estou cansada de pedir ajuda e de falsas promessas. Decidi colocar as minhas medalhas à venda na Internet”, disse a campeã mundial de crosse em Amorebieta 93, agora com 46 anos. Antes, após o abandono das competições, bateu em inúmeras portas. Chegou a desenvolver um trabalho como monitora de atletismo em Gaia. Foi dispensada.
Apesar de existir um decreto-lei que contempla a integração de atletas no pós-carreira, este nunca foi aplicado (ver peça secundária). A única coisa que o País tem para lhes oferecer é uma colaboração avulso num projecto de Marcha e Corrida, em que poderão receber 120 euros para se deslocarem a escolas ou juntas de freguesia. Rita Borralho, maratonista olímpica em Los Angeles 1984, é outro caso de total indiferença por parte das instituições desportivas. “Bati a inúmeras portas e não tinham nada para mim. Nem nas federações, nem nas câmaras me quiseram receber”, recorda a vencedora da Maratona de Lisboa em 1991. “Quando venci a maratona de New Jersey, nos Estados Unidos, fui convidada para desenvolver actividades na área do atletismo no liceu local. Em Portugal, seria impensável aproveitar os seus ídolos em proveito das comunidades escolares. Nos EUA, todos os campeões estão integrados socialmente, recebendo apoios dos patrocinadores, sendo pagos para dar conferências e promovendo marcas desportivas”, revela para acrescentar de seguida: “Naquele tempo, por questões patrióticas, disse não ao convite americano, mas estou arrependida, até porque tinha a possibilidade de integração na comunidade luso-americana também como comentadora desportiva no jornal de língua portuguesa.” Hoje, revela a tricampeã nacional da maratona, “estou a desenvolver um projecto totalmente privado de assessoria desportiva de atendimento a pessoas que procuram a prática desportiva com atitude e qualidade de vida. Não quero treinar atletas de alto rendimento.” Antes, esteve no Brasil, durante mais de uma década, tendo regressado a Portugal para ser operada a um problema pulmonar. Teresa Machado A única lançadora portuguesa a chegar a uma final olímpica, recorda com amargura: “Antigamente batiam-me nas costas e prometiam mundos e fundos quando chegasse ao fim de carreira. Depois nada.”.
Teresa Machado, recordista de Portugal dos lançamentos do peso e disco, terminou, aos 39 anos, a sua longa ligação de 24 anos ao atletismo. A finalista do lançamento do disco nos Mundiais de Atenas 97, com um sexto lugar confessa: “Já abandonei a ideia de poder continuar ligada ao desporto como treinadora, ou outra actividade qualquer, porque as pessoas pensam que trabalhamos sem ganhar nada. Por outro lado, há muita falta de emprego e nós atletas acabamos por passar ao lado de muita coisa. Se estivesse noutro país, certamente que estaria enquadrada numa escola ou clube. Aqui, toda a gente me conhecia enquanto era campeã mas, agora todos se esquecem”, lamenta a atleta, que já foi mulher-a-dias e agora trabalha em fisioterapia com idosos. Moinhos Segundo estudo da empresa alemã Schips Finanz, 50% dos futebolistas terminam a carreira com dificuldades financeiras. “Cerca de 30% dos jogadores em actividade estão perto da ruína financeira, e 50% deles ficam em sérias dificuldades quando terminam a carreira”, diz esse estudo. Muitos têm vergonha de dar a cara. Em Outubro de 2010, o sindicato dos jogadores ajudou o antigo futebolista Moinhos com cinco mil euros. Tricampeão nacional pelo Benfica na década de 70 foi submetido a um transplante do foro cardíaco.
• Pós-carreira. Decreto-lei Apoio de reintegração de ex-atletas olímpicos “Aos praticantes desportivos de alto rendimento, que tenham integrado de forma seguida ou interpolada o Projecto Olímpico ou Paralímpico por um mínimo de oito anos, é-lhes garantido, após o termo da sua carreira, através do Decreto-Lei n.º 10/2009, de 12 de Janeiro o direito a uma subvenção temporária de reintegração, de montante idêntico ao nível da última bolsa que auferiram no âmbito daqueles projectos, a suportar pelo IDP, com os seguintes limites: a) Atletas medalhados: subvenção mensal correspondente a um mês (1375 euros) por cada semestre, até ao limite de 36 meses (48 600 euros); b) Finalistas (8 primeiros): subvenção mensal correspondente a um mês (1100) por cada semestre, até ao limite de 24 meses (26 400); c) Nos restantes casos: subvenção mensal correspondente a um mês (825) por semestre, até ao limite de 16 meses (13 200).”
Ex-olímpicos esperam apoios há 20 anos Os ex-atletas olímpicos têm direito, desde 2006, a uma verba de reintegração social após terminarem a carreira desportiva. Todavia, passados cinco anos, ainda nenhum atleta beneficiou desse apoio. Neste momento, o DN sabe que cerca de duas dezenas de atletas, em que se incluem António Pinto e Teresa Machado, aguardam a decisão final do Instituto do Desporto (IDP) sobre os dossiês de candidaturas de antigos campeões que completaram os oito anos no projecto olímpico, mínimos exigidos para ter acesso a essa verba (ver quadro). Em 1993, o governo de Cavaco Silva decidiu criar uma lei para compensar os ex-atletas pelos altos serviços prestados ao País com as suas vitórias internacionais. Definiu uma verba de 10 000 contos (50 000 euros), em forma de seguro, para a integração social de todos os atletas que durante 12 anos integrassem a alta competição. Todavia, 18 anos e cinco governos depois (com os primeiros-ministros António Guterres, Durão Barroso, Pedro Santana Lopes e José Sócrates), esse projecto de lei nunca foi efectivado. Finalmente, em 2009 – Decreto-Lei n.º 10/2009, de 12 de Janeiro –, foi consagrado um conjunto de medidas de apoio aos atletas após as suas carreiras, em obediência à Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto. Neste diploma, o número mínimo de anos em alta competição foi reduzido de 12 para oito, mas a verba prevista em 1993 (50 000 euros) foi reduzida e agora é atribuída em função dos níveis alcançados pelos atletas (medalhado, finalista e semifinalista). Assim, na melhor das hipóteses, só os atletas medalhados poderão receber 48 600 euros (1350 euros a multiplicar por 36 meses)."
(...)
cipriano lucas
DN

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