Pode ser legítimo, pode constituir um exercício de liberdade individual, mas não me parece correcto. Não é não me parece, constituem, isso sim, dois monumentais deslizes com efeitos políticos desagradáveis para o próprio e para o partido do qual é secretário-geral. O primeiro, deu-se naquele momento na Auto-Europa, onde, subtilmente, mostrou o seu apoio ao actual Presidente da República, esquecendo-se que as bases do seu partido têm, obviamente, uma palavra a dizer. O segundo, foi o de permitir que o seu nome figurasse entre os nomes da Comissão de Honra da candidatura do Senhor Luís Filipe Vieira à presidência do Sport Lisboa e Benfica. Ambos os casos constituem deslizes reprováveis.
Começo pelo Benfica. Desde criança, talvez motivado pelas vitórias europeias nos anos 60, nutro simpatia pelo Benfica. Sou um daqueles que se o Benfica ganhar, tudo bem; mas se perder, também tudo bem! Simpatia é uma coisa, outra é viver doentiamente os resultados. Quero lá saber! Comigo, além fronteiras, o mesmo se passa com o Real Madrid. Sou sócio há 70 anos do Marítimo, com quotas pagas, mas há 40 que não entro no estádio. Ora, o Dr. António Costa pode ser fervoroso sócio do Benfica, mas não se pode esquecer que é Primeiro-Ministro. E não se pode esquecer que há processos que decorrem nos Tribunais que, alegadamente, não só não deixam bem vista a Magistratura, como pessoas activas no clube. Só por isto deveria ter o cuidado de não se envolver.
Depois, a questão da Presidência da República. Não foi um apoio explícito, mas foi interpretado como tal. Os partidos não têm dono, mas às vezes parece-me que sim. O Dr. Marcelo R. Sousa foi, sem margem para qualquer dúvida, uma lufada de ar fresco depois de dez anos do Professor Cavaco Silva. Eu votei no Professor Sampaio da Nóvoa (independente) e voltaria a fazê-lo, embora, deste mandato do Professor Marcelo sejam poucas as situações que desaprovei. Gosto de um Presidente que esteja no meio do povo, mas aprecio, também, um certo recato, porque gosto de sentir que a Presidência constitui uma reserva de todos nós. Pessoalmente, o presidente não tem nem deve estar em todas as situações e muito menos falar de tudo. Porém, não deixo de sublinhar que, globalmente, fez ou está a fazer um bom mandato.
Só que, politicamente, o contrato com o Povo foi de cinco anos e manda a Democracia que, em Janeiro, tenhamos de escolher o nosso próximo Presidente. Seja quem for. Eu voto no perfil de um candidato, em alguém que tenha uma história pessoal para contar, voto nas características que o candidato reúne de inteligência, leitura e experiência internacional, capacidade de diálogo, respeitabilidade, serenidade, independência e honestidade. Neste momento, não voto, sequer, por ser candidato apoiado por este ou por aquele partido. Voto na pessoa.
De regresso ao Dr. António Costa, por respeito aos seus camaradas de partido e ao povo em geral, "dar com o cotovelo" no Professor Marcelo Rebelo de Sousa, tem explicação política, lá isso tem, mas "não vou por aí". Felizmente, no quadro das minhas referências políticas (ideológicas, também), sociais e culturais, há outras opções. Até porque não existem insubstituíveis, por maior agrado que tenham gerado.
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