Ontem acompanhei uma grande parte a audição parlamentar, na Assembleia da República (AR), com a presença do ex-Ministro Dr. Manuel Pinho. À noite uma entrevista com o seu advogado. Ora bem, três aspectos de princípio: primeiro, só é respeitado quem se dá ao respeito; segundo, quando alguém assume um compromisso deve cumpri-lo; terceiro, em circunstância alguma os deputados devem assumir uma atitude inquisitorial.
A investigação e, depois, a Justiça que resolvam as alegadas situações que, dizem, o Dr. Manuel Pinho estará envolvido. Por um lado, se nem arguido é e, por outro, foi definido, antecipadamente, o âmbito da audição parlamentar que excluía, por exemplo, as relações profissionais ou não com o ex-BES, logo, os deputados da Comissão deveriam ter cingido as perguntas ao quadro acertado entre as partes e que foram consideradas de interesse pelos grupos parlamentares (política de energia). Aliás, desde há muito que se sabe que o Dr. Manuel Pinho, no âmbito da sua estratégia de defesa, assumiu ser ouvido pela Assembleia da República, só depois de prestar esclarecimentos no Ministério Público.
Alguns deputados não quiseram saber do acordo, confirmado pelo presidente da Comissão, e em uma atitude desprestigiante, aproveitaram a transmissão em directo para, através de uma bateria de perguntas, enxovalhá-lo na praça pública. Ele a nenhuma respondeu e, quanto a mim, fez bem. Mandaria a dignidade que se se circunscrevessem ao acordado (energia e, fundamentalmente, a EDP). Mas o que mais me entristece não é isso. O que não suporto é, sobretudo, a atitude inquisitorial e de superioridade como as perguntas são colocadas. A Assembleia não se substitui à Justiça e mesmo aí, respeitando a separação de poderes, há condutas a respeitar. Não são os políticos que dizem, sistematicamente, "à política o que é da política e à Justiça o que é da Justiça"? Portanto, seja em que quadro for, não faz sentido que alguns deputados aproveitem para amesquinhar, ofender e, sub-repticiamente, fazer um julgamento antes da Justiça. Não aceito isto.
Não sei se o ex-ministro está ou não envolvido em negócios pouco éticos ou mesmo ilícitos. Se está, a Justiça concluirá, certamente. O que se pede aos deputados é respeito pelas pessoas e que, no decorrer de audições ou de comissões de inquérito, não se arvorem em justiceiros. Todas as perguntas podem e devem ser feitas, mas com enquadramentos que respeitem a dignidade de uns e de outros.
Ilustração: Google Imagens.
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