Não alinho em tudo o que leio, às vezes deixo ali em banho-maria, em uma espécie de tempo de levedura que me proporciona juntar os elementos que faltam, as tais correcções ou ajustamentos necessários, para que a ideia surja com maior consistência. Entre a levedura e a leviandade vai uma enorme distância. Penso que há muita leviandade em algumas coisas que se dizem por falta de tempo de levedura!
Sempre, mas desde sempre, coisa que não sei explicar, me coloquei em uma posição de não ter certezas. Mas, também, é verdade que nunca andei à espera da última moda para fazer um fato novo. Se por aí pensasse e agisse, certamente que não teria opinião formada e não actuaria, quando a vida se move em função do conhecimento existente, em função da actualização permanente dos conceitos. Gosto de partir da realidade e da análise dos contextos mas sempre com uma atitude de interrogação. Não sei se esta será a melhor atitude, mas é a minha. Considero-a prudente. Daí que aceite os posicionamentos dos outros, embora sempre na esperança que ajudem a trazer algo mais ao que se vai discutindo. Não me agrada, confesso, quando descubro que existe ou sobressai mais a atitude de martelar por martelar, de escrever por escrever ao correr das convicções ou pessoais ou de grupo, do conhecimento empírico, portanto, não sustentadas em estudos.
Os anos que levo permitem-me, felizmente, continuar a sonhar, mas também deram-me a consistência de saber destrinçar o certo do errado. Não alinho em tudo o que leio, às vezes deixo ali em banho-maria, em uma espécie de tempo de levedura que me proporciona juntar os elementos que faltam, as tais correcções ou ajustamentos necessários, para que a ideia surja com maior consistência. Entre a levedura e a leviandade vai uma enorme distância. Penso que há muita leviandade em algumas coisas que se dizem por falta de tempo de levedura!
Dizia o grande educador e filósofo brasileiro Paulo Freire (1921/1997) que "sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino". E deixou para reflexão de todos nós que "se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda" (...) "Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas e as pessoas transformam o mundo". Mas, para isso, sublinhava o Filósofo que "como professor não me é possível ajudar o educando a superar sua ignorância se não supero permanentemente a minha". O problema reside aqui, quando se fala do que não se sabe, quando nos deixamos ir pelo senso comum e não pelo conhecimento. Como disse Freire e eu, humildemente, acompanho-o nesta sua postura, "não posso continuar humano se faço desaparecer em mim a esperança", porque a "a educação modela as almas e recria os corações. Ela é a alavanca das mudanças sociais", até porque "aprender não é um acto findo. Aprender é um exercício constante de renovação", daí que "teoria sem a prática é puro verbalismo inoperante, a prática sem a teoria é um atavismo cego".
É por aqui, defendo eu, que devemos seguir, pelo "conhecimento que exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo. Requer uma acção transformadora sobre a realidade. Uma demanda, uma busca constante, implica invenção e reinvenção". É por aqui, por uma atitude de humildade, de reflexão permanente sobre o que se vai produzindo, quando se fala de uma intervenção precoce junto do aluno ou dos "chumbos", quando se fala do número de alunos por escola ou do número de alunos por sala, quando se fala de uma disciplina nuclear designada por Cultura Geral ou da arquitectura dos espaços escolares, quando se fala de currículos e programas ou da autonomia dos estabelecimentos de educação e ensino, quando se fala de dinheiro para o desporto profissional ou de magros orçamentos para o sistema educativo, quando se fala de professores a mais ou de sistema educativo a menos, quando se fala de conhecimento e de competências ou da ignorância altifalante.
E termino esta breve reflexão do muito que gostaria de escrever com uma nova alusão a Paulo Freire: "ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa, por isso aprendemos sempre" e "ai de nós, educadores e educadoras, se deixarmos de sonhar sonhos possíveis". É a morte do sistema, digo eu.
Ilustração: Google Imagens.
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