Quando nos levamos muito a sério e nos temos em grande conta, perdemos capacidade crítica e, muito importante, a faculdade de ouvir o que nos dizem sem achar que uma discordância (ou 27, sei lá!) é uma ofensa.
Por
André Barreto*
Dnotícias
24.10.2021
Podemos organizar workshops semanais ou colocar à discussão todos os assuntos e mais alguns mas tudo se transforma numa farsa porque o que verdadeiramente queremos é que nos transmitam os améns que nos achamos no direito divino de receber.
Ai de quem venha com alguma sugestão ou, crime de lesa-pátria, crítica que logo cai o Carmo e a Trindade, juntamente com a máscara de uma suposta polidez que em face do que entendem ser uma contrariedade, ainda se esboroa com maior rapidez.
Ser governante, por exemplo, é uma aspiração (boa) de muitos mas nem todos, lá chegando, compreendem bem o que isso deve significar e usam mal o poder que lhes é concedido. Trocar conselhos técnicos por assessorias de imprensa é o melhor exemplo do que acima refiro; a preocupação está na notícia, no dizer que se faz em vez de fazer.
Em certas empresas passa-se o mesmo. Conheço tantos sítios onde ainda impera a lei do chicote e onde só uma cabeça quer, pode e manda! Quem lá trabalha acaba por desmotivar-se e procurar outras soluções para a sua vida; até o cliente se está errado.
Também nestes sítios se organizam formações e se dão dicas sobre liderança, gestão de conflitos e afins mas o problema é sempre a prática. Bem pregam, estes Frei Tomás… Ainda assim, entendo melhor estas práticas no privado, uma vez que os decisores públicos devem sempre prestar contas a quem os elegeu e não, como tantas vezes parece, exigir que amochemos perante as suas tão magnânimas presenças.
Por tudo isto acho mesmo importante não perdermos a capacidade de rir de nós próprios e dos nossos defeitos mas, sobretudo de perceber que não somos os donos da verdade e dos bons costumes.
Podemos ter convicções, mais ou menos fortes, certezas várias e dúvidas ainda maiores. No meu caso, não as escondo nem receio partilhá-las, apesar de espartilhos como o número de caracteres que me dão para escrever. Sei que tenho boas intenções e que o que me move é positivo pelo que não vejo por que calar opinião ou esconder dúvidas.
Irrito-me, às vezes, quando aquilo que para mim é tão evidentemente errado não o é para outros. Estranho que verdades de La Palisse não o sejam para tanta gente e pasmo perante a capacidade de cair no mesmo logro vezes sem conta mas outros têm verdades de força igual. Na incompreensão, tenho portanto de perceber…
O que não suporto é a farsa! O fingir que se quer ouvir, que se procura entender, que se quer ajudar quando a montagem dos momentos de auscultação serve só para darmos essa notícia e dizer que estamos a fazer o que não estamos.
Se acham que sabem tudo e que não interessa o que podemos trazer para a discussão, então tratem de implementar essas enormes doses de sabedoria! E, se não for pedir muito, uma prestação de contas transparente sobre as ditas implementações era bem-vinda…
* Director Geral da Quintinha de S. João
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