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domingo, 10 de outubro de 2021

Um texto de trivialidades partidárias. De Economia zero!

 

Faço minhas as palavras de Carlos César, quando questionado sobre o artigo do ex-Presidente da República Professor Cavaco Silva. Disse que não tinha lido o artigo publicado no Expresso desta semana e confessou-se "sempre muito desactualizado em relação à produção literária do professor Cavaco Silva". Desta vez senti a necessidade de o ler. Cheguei ao final e voltei atrás a certas passagens e à síntese da jornalista Ângela Silva. O sentimento com que fiquei é que aquela figura, que fez um longo percurso político de mais de 30 anos, apesar da idade (82 anos), não percebeu, ainda, que, bem ou mal, tudo tem o seu tempo e que ele já teve o seu. 



Passo ao lado do seu posicionamento político-partidário, respeitável como qualquer outro, e situo-me na forma como articula as ideias do texto. Para um Doutorado em Economia, seria expectável ler um conjunto de propostas consistentes no quadro da economia europeia e mundial. Espremido, restaram vulgaridades, melhor dizendo, banalidades, que qualquer cidadão, à mesa do café, é capaz de pronunciar, quando faltam os conhecimentos técnico-científicos transversais que um debate económico necessariamente exige. Foi mais linguagem de "campanha eleitoral", fora de tempo, do que pedagogicamente seria exigível. Como sempre, há ali no que o ex-Presidente da República resolveu escrever, um crónico azedume, uma acidez discursiva, um permanente mau humor na articulação das ideias despidas de originalidade e relevância. A espaços regressou à sua habitual viagem pelo passado, ao jeito de "eles" espatifaram tudo quanto deixei! Com uma ressalva, "eles", sempre os outros, nem souberam aproveitar o que Passos Coelho fez. 

O Professor de Economia (!), talvez porque "não lia jornais e raramente tinha dúvidas", passados tantos anos, ainda não percebeu as razões mais substantivas da crise de 2008, considerada por muitos economistas como a pior crise económica desde a Grande Depressão (1929) que abalou todo o Mundo ao longo da década de 30; nem percebeu o resultado da nova crise, agora de natureza pandémica, também à escala mundial. Não percebeu, sequer, as consequências destes factos num país perférico, pobre e muito dependente. O Catedrático (!) escreveu a um nível que, pelo menos para mim, já não é admissível para um estudante de Economia. Caíu no pântano das divagações partidárias, prenhes de um subtil auto-elogio, com a arte da intencional (por exclusão de partes) exaltação de si próprio.

Pela formação académica e porque foi Primeiro-Ministro (10 anos) e Presidente da República (10 anos) o texto publicado no Expresso não deveria descer à trivialidade, ao lugar-comum, antes, como leio em outros economistas de referência, subir, com rigor científico, aos posicionamentos de análise que permitem a reflexão e o estudo. Ao lê-lo fiquei com a imagem de um rufar de tambores de uma qualquer associação ou do "cantar" de uma metralhadora HK21 disparando os cartuchos da cinta. Tão grave quanto isso, o Professor Cavaco Silva não tem noção do que, genericamente, o povo português pensa dele, quando comparado com a lufada de ar fresco trazida pelo Professor Marcelo Rebelo de Sousa. Ao invés de resguardar-se, o Professor Cavaco Silva expõe-se de uma forma desconjuntada, passando a imagem de uma caterpillar em fim de vida, com muitos parafusos soltos. Pouco mais faz do que barulho! Li o artigo e certas passagens trouxeram-me à memória o carinho do povo pelo também ex-Presidente da República Dr. Jorge Sampaio. Ou mesmo o General Ramalho Eanes. Que diferença!

Ilustração: Google Imagens.

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