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sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Um casamento por "amor" ou por interesse?


Em circunstâncias normais são defensáveis os acordos políticos que viabilizem uma governação. Acordos à direita do leque político são tão legítimos quantos os conseguidos à esquerda. Desde que a seriedade e a transparência dos programas políticos estejam assegurados, olho para as coligações ou acordos de governação de forma absolutamente pacífica. O julgamento vem depois, no decorrer dos actos eleitorais.



O que me parece, eu não diria ridículo mas muito pouco sensato, são todos aqueles comportamentos difíceis de entender. No concelho de Santana (Madeira) vive-se uma situação que permite perceber o descarado jogo de bastidores que extravasa o espaço concelhio. Recuemos no tempo.

Em 2019, nas Legislativas Regionais, o CDS, com três deputados eleitos, poderia ter viabilizado um governo PS/CDS. Essa não foi a opção. A maioria parlamentar foi conseguida, legitimamente, com o PSD. Nada a opor! Tratou-se uma opção, claramente à direita.

Em 2021, nas eleições autárquicas, o PSD e o CDS juntaram os trapinhos, em alguns concelhos, e tentaram a vitória. Em Santana, pese embora as negociações, o CDS, líder no concelho, preferiu apresentar-se só. Uma opção também legítima. Ganhou a Câmara, mas, para a Assembleia Municipal, o povo entregou 10 mandatos ao CDS, 9 ao PSD e 2 ao PS. Isto é, o CDS, para ter maioria absoluta no órgão principal, garantir a eleição do presidente (e da mesa) e inviabilizar uma eventual lista do PSD, precisa agora dos votos ao PS. E lá foram bater à porta dos socialistas, sublinha o Dnotícias, negociaram e até conseguiram.

O curioso desta situação que, em condições normais, poderia ser considerada legítima, é o facto de, nesse encontro, ter participado o secretário regional do governo de coligação PSD/CDS, indicado pelo CDS. É aqui que surgem algumas perguntas: como é possível ser parceiro e, obviamente, apoiante do governo e, no concelho de Santana, ser um inflexível adversário político? Do ponto de vista partidário como é que estas duas faces da mesma moeda podem ser conjugadas e toleradas? Neste quadro, pergunto, poderão ser pacíficas as relações políticas no seio do governo ou, doravante, uns já estarão a olhar para os outros com desconfiança? A prazo, quais os resultados na tal estabilidade da governação regional?

É evidente que tudo é possível. "Engolir sapos" é o que mais se verifica no exercício da política. Este é um claro comportamento que evidencia um desacordo com a matriz dos valores de cada partido. Talvez seja de trazer à colação a historieta de um casamento por amor ou por interesse. E diz o sujeito: casei por "amor" porque não tenho nenhum interesse nela (Coligação).

Ilustração: Google Imagens.

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