Aprecio a História e a monumentalidade. Encantam-me os cantos e recantos das cidades. Enfeitiçam-me os grandes e pequenos lugares que esmagam pela sua beleza, manifestada em cuidados mil na preservação patrimonial de tudo quanto outros deixaram como legado. Seduz-me e cativa-me a idiossincrasia dos povos, tentando percebê-los no seu vaivém, angústias e felicidades. Confesso que dou pouca importância à gastronomia, embora constitua um momento também de fruição da cultura local. Mas isso passa-nos pela garganta e morre! A outra permanece e faz-me, tantas vezes isso acontece- me, rememorar e sentir o prazer daquilo que os olhos registaram. E quando se juntam a fotografia e o vídeo, a conjugação torna-se perfeita.
Já por duas vezes por lá tinha passado. Voltei a calcorrear todos ou quase todos os espaços de Roma, pelo menos aqueles que ninguém deve secundarizar. Não apenas a icónica Praça de S. Pedro, a sua Catedral, os museus do Vaticano, a majestosa Santa Maria Maggiori, o Coliseu e a Via Ápia, mas tantos outros desde praças de belíssima arquitectura até aos museus e à "escondida" Basílica dei SS Quattro Coronati.
Mas não é destas particularidades da beleza construída ao longo de muitos séculos que aqui me traz. São outras que demonstram as fragilidades dos nossos tempos. Roma está vergonhosamente suja, do centro histórico até ao Vaticano. A erva cresce por todo o sítio, os jardins uma lástima, as avenidas pejadas de lixos pelo chão ou em sacos e contentores a abarrotar. É difícil alguém perceber se existe qualquer preocupação na separação de lixos. Arrepia tanto desleixo, tanto sem abrigo e tanto tráfego em claríssimo desrespeito pelos peões.
Entro no espaço sagrado de S. Pedro. Uma pequena multidão vagueia os olhos pelo ambiente. No meio dela, centenas de vendedores de bugigangas, lembranças, lenços, bilhetes de acesso a qualquer coisa, pedintes, refrigerantes, tudo ao preço do "ouro", eu sei lá, o que por lá anda! Mais grave, ainda. Dentro da catedral, seja para quem for, com ou sem fé, sendo um local de culto, respeito, recolhimento, também de apreciação do monumentalidade, obviamente que sim, passo os olhos e vejo indivíduos sentados no chão, de ipad jogando qualquer coisa, meninas fotografando-se em poses narcísicas que, julgo eu, se destinam a uma postagem em uma qualquer rede social, uma vozearia desenquadrada do espaço, enfim, um quadro absolutamente desagradável. Saio da Catedral com um dos meus netos, ele com um dos braços nos meus ombros, olha-me e diz-me: "oh avô, não foi Cristo que expulsou os vendilhões do templo? Estes são os vendilhões de animais e cambistas do Século XXI". Pois, respondi, isto está a precisar de uma nova limpeza! Porque Ele terá dito: "(...) não façais da casa de meu Pai uma casa de negócio."
Ilustração: Google Imagens.
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