Não devia ser, mas é Senhor Padre Jardim Moreira (presidente da secção portuguesa da Rede Europeia Anti-Pobreza (REAP). Li a entrevista concedida ao DNotícias, publicada na edição de hoje. Uma entrevista que tem muito que se lhe diga. Fixo-me, apenas, numa excelente pergunta do jornalista Victor Hugo: "Havendo já um plano regional, este estudo (sobre a pobreza) não chega tarde? A resposta: "(...) Para Bruxelas conceder os fundos comunitários, exigiu à Madeira - um timing, uma estratégia, para poder avalizar verbas dos fundos comunitários. A verdade é que não estava feito o diagnóstico. Para não perder os fundos comunitários o governo avançou com uma estratégia. Fiz-me entender?"
Senhor Padre, pela comunicação social, conheço a sua luta desde há muitos anos, perante a qual me curvo. Mas digo-lhe: obviamente que se fez entender. Para quem, em qualquer sector, navega à vista, não haver diagnóstico dá sempre jeito. Se não se sabe onde está, não é possível determinar onde se quer chegar e, daí, os passos que têm de ser dados para lá chegar. A lógica tem sido esta: venha o dinheiro porque somos gente que conhece bem os cantos à casa. Por isso, quando o quadro político é este, o Senhor Padre Jardim Moreira sabe que de pouco valem os "estudos aturados, profundos e cientificamente sustentáveis que dê a visão da problemática, para depois ajustar as propostas às políticas públicas (...)", disse.
A pobreza tem dado jeito, Senhor Padre. Sou eu, agora, que lhe pergunto: fiz-me entender?
Mais, Senhor Padre Jardim Moreira, não devia fazer qualquer sentido um estudo numa Região Autónoma, região dotada de órgãos de governo próprio, estudo que irá custar entre 100 e 150 000,00 euros. Com 46 anos de governo ininterrupto, as CAUSAS mais profundas da pobreza, onde deviam radicar todos os programas, tinham a obrigação de estar minuciosamente estudados e há muitos anos implementados, com rigor, determinação, eficiência e eficácia. Nas questões sociais e em todos os sectores da governação, digo eu. Às exigências de Bruxelas, o governo regional devia responder com os estudos que justificaram as "políticas públicas" e os resultados conseguidos. Só que não havia "diagnóstico", não é?
E não se iluda Senhor Padre Jardim Moreira, mesmo que o Senhor presidente do governo da Madeira tenha dito que "espera muito deste estudo", depois de conhecida a situação real e propostos os caminhos para uma situação ideal, por aqui será sempre feito aquilo que dá jeito em todas as circunstâncias, inclusive, no campo "ideológico". Há uma alta probabilidade de assim ser, porque repito, por muito que me custe a perversidade desta afirmação, "a pobreza tem dado jeito". Fiz-me entender, distinto Padre?
E para realizar o estudo serão necessários dezoito meses? Eu sei que se trata de uma "encomenda" a uma empresa com natureza privada, mas sempre lhe digo que há teses de doutoramento realizadas em menos tempo! Neste caso, a conjugação de todas as variáveis da pobreza, as causas a montante e a jusante estão identificadas e constam de estudos já realizados, isto para além de todos os dados proporcionados pelos Institutos de Estatística e das centenas de intervenções políticas na Assembleia Legislativa da Madeira. Basta consultar o Diário das Sessões.
Ainda recentemente (27.10.22) o Senhor Padre Jardim Moreira sublinhou: "Se as famílias forem pobres, os filhos vão sofrer as consequências". A pergunta a fazer ao senhor presidente do governo regional devia ser esta: "então o senhor não sabe, 46 anos depois de Abril, que "se as famílias forem pobres, os filhos vão sofrer as consequências"?
Ilustração: Google Imagens.
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