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segunda-feira, 31 de março de 2025

Para que a memória não se apague


A avaliar pelas primeiras conclusões, talvez se possa dizer que se tratou de dinheiro perdido nessa pressuposta investigação sobre a pobreza regional. Com que então "onde há muito turismo há mais pobreza"! Esta uma conclusão sumária do padre Agostinho Jardim Moreira, vice-presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza e responsável por um estudo realizado na Região, para perceber as razões mais substantivas dos quase 30% de pobres na Madeira. Segundo li esta manhã, "(...) foram 21 meses de trabalho intenso para que este ambicioso estudo pudesse aplicar os instrumentos de investigação previstos e devolver à sociedade e aos parceiros da RAM um melhor conhecimento sobre a pobreza neste território". Intenso trabalho, sublinho!



Ora bem, não era necessário um estudo externo sobre este drama. Bastaria que os governantes tivessem memória, fossem verdadeiros, deixassem a hipocrisia política e utilizassem os meios ao seu dispor para acompanhar, estudar e desenvolver políticas estruturantes de combate a este flagelo social. Repito, tivessem memória. Infelizmente, nada retiveram ao longo do tempo.

Há quinze anos assisti a uma conferência do Doutor Alfredo Bruto da Costa (1938/2016) que esteve na Região para abordar as questões da pobreza. Anotei que, num estudo nacional, realizado entre 1995 e 2000, nesse intervalo de seis anos, o investigador tinha concluído, reparem bem, que 80% dos madeirenses tinham passado durante dois ou mais anos por uma situação de pobreza; que 30% viviam em pobreza regular, dos quais 15% em pobreza persistente. Sublinhou, então, que a "armadilha da pobreza era a armadilha das desigualdades" e que "(...) tudo o que fosse combate à pobreza mantendo o padrão da desigualdade" não tinha sentido, pois apenas mantinha tranquila uma parte da consciência política. Disse mais: que não se pode cair no círculo vicioso de que "os pobres são pobres porque são pobres", antes "os pobres são pobres porque os ricos são ricos". O investigador que, para além de notável académico foi Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, instituição ligada à Igreja Católica, teve a resposta do PSD, enxovalhando-o e apelidando-o de comunista, gonçalvista e de outros epítetos. 

E porquê? Porque havia que manter a ilusão da prosperidade da "obra pública" como se a negação da pobreza pudesse ser medida em função das toneladas de cimento ou pelo número de viaturas em circulação. Tenho presente, na Assembleia Legislativa, as palavras de um secretário dos Assuntos sociais: que a pobreza na Madeira rondaria os 4%, mais tarde corrigida pelo presidente do governo de então para um valor entre os 8 e os 10%. O secretário chegou a enaltecer que a Madeira tinha menos pobres que a Suécia (9%). Espantoso, não é?

Depois, também tenho presente, a luta do Dr. Bernardo Martins, no plenário e em sede de Comissão dos Assuntos Sociais da Assembleia, em Julho de 2011, através da apresentação de um Projecto de Resolução, que estipulava o ano 2012 como o Ano Regional de Combate à Pobreza e Exclusão Social. Esse projecto foi chumbado pelo PSD, da mesma forma que, durante anos, o governo, através dos seus deputados, tudo fez para bloquear a criação do Banco Alimentar Contra a Fome (propostas do PCP e do PS). Eu conheço a trama porque, juntamente com o Dr. Bernardo Martins, tive uma reunião, em Lisboa, com a Drª Isabel Jonet, Presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares. Inclusive, Bernardo Martins, face à intransigência do governo da Madeira, já em 2010 tinha proposto um estudo sobre a realidade da pobreza na Madeira. Em vão, infelizmente. E também tenho presente que o ex-Presidente do Conselho Directivo do Centro de Segurança Social da Madeira, Dr. Roque Martins, foi demitido por ter dito a verdade factual sobre a pobreza na Região. 

O estudo agora apresentado surge, assim, com muitos anos de atraso e sejam quais forem as conclusões e as propostas daí resultantes, tenho por certo que a hipocrisia política perdurará mais algum tempo. O governo não me parece que seja portador de uma ideia estruturante nas várias áreas e domínios. Há uma mentalidade que subsiste. Ainda em Outubro de 2023, a actual presidente da Câmara do Funchal, Drª Cristina Pedra, este é um mero exemplo, recusou a existência de pobreza extrema na Madeira dizendo que o País e a Madeira, "estão bem longe da tristeza que é a falta de rendimento" (...) na Madeira não é preciso roubar para comer" (...) porque "há uma rede integrada de associações e entidades" que garantem refeições em lugares condignos. (Dnotícias, página 13, 21.10.2023).

Com aquelas declarações, a Drª Cristina Pedra clarificou o seu posicionamento que constitui o pensamento vigente: desde que haja uma rede que, digo eu, esconda a pobreza extrema ou não, desde que se disponibilizem uns apoios financeiros, desde que o associativismo possibilite umas salas, mesas, cadeiras e umas refeições, tudo com dignidade, o drama da pobreza fica resolvido ou atenuado e a consciência política tranquilizada. Ora, em circunstância alguma, devemos adoçar as asperezas da vida e a dignidade do ser humano. As questões sociais devem ser encaradas com a máxima frontalidade e de forma nua e crua. E nunca foram.

"(...) Não é de migalhas que os excluídos precisam. A esmagadora maioria precisa de um pensamento económico estruturado que torne mais igual o que é estruturalmente assimétrico e dependente; a esmagadora maioria dos pobres não precisa quem lhes venham dizer que "têm de tomar a cana em suas mãos e pescar", quando o pensamento político rouba-lhes as canas, as linhas, os anzóis e o próprio isco em benefício de alguns que conhecem bem os corporativismos, os subtis "monopólios", as "fortunas mal explicadas", os interesses partidários e, sobretudo, as teias e os labirintos dos vários poderes; a esmagadora maioria precisa de uma escola para a vida e não de uma escola que, sorrateiramente, promova a triagem fazendo-os desistir; a esmagadora maioria precisa de salários decentes que evitem a rua, a mão estendida à caridade (palavra que me irrita), a vergonha e o assistencialismo que cresce à vista desarmada; a esmagadora maioria precisa de uma cultura e mentalidade que a escola e a família não disponibilizam; a esmagadora maioria necessita de políticos que não olhem para a eleição seguinte, mas para a geração seguinte". - in blogue, da minha responsabilidade: www.comqueentao.blogspot.com (21.10.2023).


Respeito e muita consideração nutro pelas mais diversas instituições que combatem a pobreza, de dia e de noite, respeito o notável trabalho das paróquias que matam a fome e esbatem casos muito sérios de carências várias, mas entendo também que não é pela via do penso rápido da "caridade" que os problemas se resolvem. É pela via política, com deliberações que "dêem o peixe mas também a cana", em simultâneo, como salientou o Professor Alfredo Bruto da Costa. A "caridade" deve ser o fim da linha, o ataque às margens, para quem mergulhou tão fundo que experimenta dificuldades em se erguer. A caridade não resolve, a prazo, problema algum, apenas se destina a esbater os erros dos políticos. 

Disse Amartya Sen, Nobel da Economia em 1998: "Um Homem com fome não é um Homem livre". Será que interessam as múltiplas fomes?

Ilustração: Google Imagens/Dnoticias

sexta-feira, 28 de março de 2025

A Gronelândia, quem diria, em tamanha animação com Trump!


Por

O problema de fundo é mesmo uma questão de geopolítica. Para Trump tudo se resolve mercantilizando. Compra-se, vende-se. Parece que o sucesso não vai bater-lhe à porta, pois não há vendedor.



Terras raras e geoestratégia

Donald Trump, logo após os resultados eleitorais, antes ainda da posse em Janeiro de 2025, torna pública a posição que assumira durante a sua primeira Presidência, em 2019, manifestando de novo a vontade de comprar a Gronelândia, uma ilha do Ártico, a maior do Mundo, com uma dimensão equivalente a quatro Franças e, uma população residente à volta de 56 000 pessoas. E avança com a “fanfarronice”, que lhe é típica e que, em bom português, se traduz por: “se não for a bem, vai a mal”.

Esta declaração, que já repetiu várias vezes, descarregou, em Copenhaga, a capital da Dinamarca e em Nuuk, a da Gronelândia, uma enorme repulsa, tendo o então líder político da Ilha, Mute Egede, reagido da seguinte forma: “A Gronelândia é nossa. Não estamos à venda e nunca estaremos.”

Recentemente, a 11 de Março, houve eleições na Ilha. Quem as ganhou foi o partido da oposição de centro-direita, que conta conduzir o território no caminho da independência, de forma calma e suave. O segundo partido, mais votado, tem uma posição relativamente alinhada nesta matéria, pelo que é natural entenderem-se para a constituição dum novo governo. A coligação partidária de Mute Agede (ecologista e social-democrata) saiu do governo e ocupa agora a terceira e quarta posição no Parlamento.

Mais pormenor menos pormenor, a independência constituiu tema importante nestas eleições na maior Ilha do Mundo, território autónomo do Reino da Dinamarca desde 1979, saída da União Europeia, muito antes do Brexit, por opção própria em 1985, após três anos de enfadonhas negociações. Se um território destes, com uma economia tão diminuta, levou três anos para resolver a sua situação com a União Europeia, difícil será imaginar o cabo dos trabalhos de um Brexit ou de um outro qualquer país que, porventura, venha a atravessar-se no caminho, apesar da “vaga de desburocratização”, recentemente prometida pela presidente da Comissão.

O modelo de desenvolvimento futuro

O que divide, efectivamente, a Gronelândia é o modelo de desenvolvimento futuro, no âmbito de uma independência. Tamanhos parecem ser os recursos naturais, dos minerais ao petróleo, à pesca, à agricultura (embora de potencialidades reduzidas) e até mesmo a natureza/turismo. Grande aparenta ser a riqueza potencial, mas não se vislumbra por ali um largo entendimento quanto às formas de a materializar. E, segundo um estudo de opinião, a exploração de minérios ainda passaria, mas nunca a exploração de urânio que lhe está associada.

Terras raras e petróleo existem. Talvez não na quantidade que se pensa. Alguns analistas interrogam-se sobre o porquê de tanto interesse dos EUA, da Europa e da China nas terras raras da Gronelândia, para não enveredarem por locais mais seguros como Brasil, Canadá, os próprios EUA ou ainda países de África, onde as reservas identificadas são maiores e de melhor acessibilidade. Até porque na Gronelândia, a exploração destes recursos não é pacífica, sobretudo no tocante aos efeitos ambientais, dadas as características do território.

Não são ainda conhecidos os efeitos da exploração dos minérios nos glaciares. Há quem aponte para cenários muito complexos e imprevisíveis no Oceano Atlântico e mares do Ártico.

Apesar destas incertezas todas, a animação e ambição pelas terras raras da Gronelândia fervem por muitos lados, por razões bem diferentes. No caso da China, para manter o seu domínio mundial. Nos restantes e, designadamente EUA e UE, para “cortar” o cordão umbilical de sua dependência da China.

Na realidade, como se viu no artigo anterior, a China tem uma posição dominante, a nível mundial, sobretudo de natureza tecnológica, (mineração, refinação e transformação), difícil de igualar e tem vindo a sedimentar terreno no tratamento que confere aos países produtores de terras raras, porque se relaciona com eles em termos cordatos, de satisfação para as duas partes e não numa óptica de exploração tipo colonial.

Em 2024, o governo da Gronelândia estabeleceu uma estrutura regulatória “exigente” para a mineração, com padrões ambientais de tipo ocidental, sujeitando os investimentos a estas regras. O estabelecimento destas normas veio trazer dificuldades sobretudo à China, não na qualidade dos projectos, mas nos apêndices burocráticos. Com tudo isto, beneficia sobretudo a União Europeia, o que também é natural, dada a Gronelândia ser um território autónomo da Dinamarca, país da UE.

Mas, uma linha perpassa a grande maioria da população, a defesa do ambiente, e uma grande consciência de que, apesar dos avanços nas tecnologias da mineração das terras raras, um elevado grau de poluição persiste na sua exploração e, dadas todas as pressões, quer dos EUA, quer da Europa para afastar a China (apesar de deter a tecnologia mais avançada) permanece relutância da população por esta linha de desenvolvimento. Contudo, tem havido umas experiências aqui e ali e estão identificadas duas zonas onde se localizam as maiores reservas da Ilha.

As pescas e o turismo

Tem ganho algum peso um outro modelo de desenvolvimento assente nas pescas, turismo e na agricultura embora reduzida, devido às condições climáticas. Assinale-se que as exportações da Gronelândia são fortemente tributárias da pesca que representam 90% e contribuem para 25% do PIB da Ilha, que soma um pouco mais de 2 mil milhões de dólares.

A posição geoestratégica

Donald Trump entende que a Gronelândia é fundamental à segurança dos EUA que já dispõe de uma base militar na Ilha. Por outro lado, a rota pelo mar do Norte já está livre de gelo durante 10 meses/ano e com uma previsão de 100% a 25 anos.

A China tem cobiçado esta rota, associando-a à sua nova rota da seda. Aqui reside o grande problema. Primeiro, a China nem é um país do Ártico e, segundo, há uma grande vontade dos EUA e também da Europa de afastar a China para bem longe.

O problema de fundo é mesmo uma questão de geopolítica, de influência no futuro. Para Trump tudo se resolve mercantilizando. Compra-se, vende-se. Parece que o sucesso não vai bater-lhe à porta, pois não há vendedor.

O potencial sucesso de Trump começa a entrar em fase acinzentada, pelo menos, no que toca à economia mundial ou mesmo nos EUA, que até já levou a OCDE a baixar as perspectivas económicas no seu relatório intercalar de Março 2025, devido aos aumentos de constrangimentos da sua política económica nas trocas comerciais e nas incertezas dos investidores e consumidores. O relatório intercalar até contém uma simulação dos efeitos no PIB de um aumento médio das taxas aduaneiras de 10% sobre as economias e um dos países mais atingidos é os EUA (2º), só atrás do México (1º).

Tudo indica que “o sucesso” de Trump não passa pelo exibicionismo. Mas numa maior prudência e bom senso, o que nos parece, fora do seu modelo de gerir a política. Contudo, não há dúvidas. Algo de fundo está em mudança e a União Europeu, sobretudo, anda aos papéis, porque ainda não descobriu como, nem onde se posicionar.

quarta-feira, 26 de março de 2025

Das Eleições: Regionais e Nacionais


Por
Henrique Sampaio
Funchal Notícias

1.Tendo em conta as duas sondagens que foram conhecidas a escassos dias do acto eleitoral, percebeu-se logo que a grande questão, a incógnita, era saber se o partido mexicano local obteria ou não maioria absoluta.



Numa terra com as características da Região, nada já constitui surpresa. A rede tentacular montada há 49 longos anos e uma sociedade marcadamente conservadora e subserviente, só ruirá quando ocorrer um cataclismo. Foi isso que sucedeu em 2013, quando, nas eleições autárquicas desse ano, o polvo laranja só resistiu em 4 das 11 câmaras municipais. Tudo porque, na sequência da aplicação do famigerado PAEF (Plano de Ajustamento Económico e Financeiro), os madeirenses e portosantenses viram as suas condições de vida e de trabalho serem fortemente degradadas. Foi, de resto, essa conjuntura que levou o auto-intitulado “único importante” a sair de cena. Consciente de que, a manter-se no poder, nas eleições desse ano de 2915, muito provavelmente, e na melhor das hipóteses, não garantiria a maioria absoluta e teria de negociar, o que como é sabido não faz parte do seu adn político caudilhista.

Entretanto, nas eleições regionais seguintes, de 2019, o maior partido da oposição, o PS, convenceu-se de que chegara a sua hora. À pressa, substituiu o então líder, Carlos Pereira, e foi buscar à autarquia funchalense, o seu messias, Paulo Cafôfo. O desfecho é por demais conhecido: não só não ganhou essas eleições como, dois anos depois, perdeu a principal autarquia local. E, de seguida, Cafôfo foi de ziguezague em ziguezague. Demitiu-se da liderança partidária e anunciou o regresso ao ensino, para, escassos meses volvidos, embarcar para o palácio das Necessidades, e daí, de novo, para a chefia do partido. Um autêntico saltimbanco.

E, se dúvidas houvesse, sobre a existência de um eventual efeito Cafôfo, os resultados das eleições de Maio passado revelaram que o mesmo já se desfizera. Daí que insistir na sua candidatura (passados dez meses) e esperar por um desfecho diferente, por uma espécie de milagre das rosas, era, como se veio a comprovar, manifestamente utópico e suicidário. Com efeito, conseguiu a proeza de ser ultrapassado pelo JPP, como 2ª força política com representação parlamentar. Repetiu-se, aliás, o que já sucedera nas referidas eleições de 2015, na ocasião com o CDS, numa candidatura protagonizada, registe-se, pelo “apparatchik” que reclama o mérito de ter sido o patrono de Paulo Cafôfo.

Devo confessar que não sei se o PS-M tem conserto (lá diz o ditado, o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita). Agora, não tenho dúvidas que para ganhar credibilidade política urge romper com a clique instalada em redor da actual liderança. Ou seja, são precisos novos protagonistas, o que significa deixar de dar palco a gentinha há demasiado tempo instalada, até porque também fazem parte dos perdedores, para já não falar de personagens inenarráveis, como o ex-autarca de Água de Pena que continua como par(a)lamentar! Uma urgência que não pode esperar, na medida em que a actual liderança não dispõe de quaisquer condições políticas para conduzir os processos eleitorais que se avizinham. Tornou-se, aliás, factor de chacota. Ontem mesmo, no seu blogue (“Duas ou três coisas”), o embaixador Francisco Seixas da Costa escrevia: “O cabeça de lista do PS pela Madeira teve a sua 10ª derrota. Perder 10 vezes não é uma coisa por aí além; bem pior seria 20 vezes, não é? E assim até pode entrar no Guiness! Mas ao PS nunca ocorreu tentar outro nome? É uma ideia «fora da caixa», eu sei!, mas pensem nela!”.

Por outro lado, e ao contrário do que muita gente alega, também não me surpreendo por Miguel Albuquerque, apesar de constituído arguido, ter voltado a ganhar as eleições, ficando à beira da maioria absoluta. Para os mais distraídos ou esquecidos, recordo que, em 2010, Isaltino Morais foi condenado a dois anos de prisão por fraude fiscal e branqueamento de capitais (a célebre conta na Suíça), e, liberto da prisão, candidatou-se de novo à Câmara Municipal de Oeiras, tendo voltado a ganhar as eleições, com maioria absoluta. No entendimento da denominada vox populi, a explicação sustentar-se-á numa espécie de argumento: “rouba, mas faz”. E não deixa de ser sintomático que, tendo o líder nacional do PSD à época, Marques Mendes, lhe retirado a confiança política, o mesmo se prepare para recandidatar-se à referida autarquia, contando desta feita com o apoio do mesmo PSD.

Voltando à temática regional, não restem dúvidas de que, tal como no passado, o CDS disponibilizar-se-á para garantir as condições de estabilidade governativa, muito provavelmente com a moeda de troca já conhecida: a presidência do parlamento. Por muitas declarações solenes que faça o seu líder é esse o objectivo que o move, pouco se importando em saber se no futuro próximo o CDS desaparecerá do mapa eleitoral. E, já agora, que também não subsistam quaisquer dúvidas: um partido, como o PPD/PSD, em que, para evitar a perda do poder, todos os meios são lícitos, se o resultado eleitoral tivesse sido outro, seria, se necessário, encontrada uma solução, nem que fosse preciso afastar o actual líder, se, entretanto, falhassem as possibilidades de entendimento com outros partidos, com base na presente liderança. No plano nacional, a avaliar pela mais recente sondagem divulgada pelo semanário Expresso (edição da passada sexta-feira, dia 20 do mês em curso), as questões de natureza ética que envolvem o primeiro-ministro, Luís Montenegro poderão não ser determinantes no desfecho do resultado das eleições legislativas nacionais antecipadas de 18 de Maio próximo.
 
Umas eleições que, ao contrário das regionais, foram precipitadas pelo próprio Luís Montenegro que preferiu submeter-se a novo sufrágio, em lugar de dar explicações em sede parlamentar.

Desengane-se, porém, quem pense que a questão ética se resolve nas urnas. Quem assim procede está a ajudar a disseminar ainda mais o populismo que se foi instalando, também, entre nós.

O que, certamente, estará a deixar deveras satisfeito o novo D. Sebastião, o almirante Henrique Gouveia e Melo. Que vem sendo apresentado como uma espécie de regenerador da Pátria. E, ou muito me engano, ou mais tarde ou mais cedo, haveremos de o ver a abençoar a criação de um novo partido, tentando reeditar o que Ramalho Eanes não conseguiu com o PRD, esperançado naturalmente noutro resultado.

Em todo o caso, em nada favorecerá esse desiderato, ver pela enésima vez a gritar contra o sistema, uma figura como AJJ que personifica ele próprio esse mesmo sistema, a que, de resto, atribuiu a designação de “máfia no bom sentido”!

Num ano, em que o calendário já contemplava eleições autárquicas e presidenciais no início do próximo, impor aos portugueses uma outra ida às urnas não abona a favor da tão reclamada estabilidade governativa, até porque nada garante que o actual cenário parlamentar se venha a alterar significativamente. Montenegro e o PSD devem ter concluído que fazê-lo agora configura menos riscos eleitorais do que tal suceder no próximo ano, na sequência de uma provável rejeição do Orçamento de Estado. Entenderão que o dinheiro que foram distribuindo por diferentes sectores profissionais (professores, médicos, forças policiais, oficiais de justiça, etc.) terá um efeito favorável no eleitorado. Poderão é estar simultaneamente a desvalorizar os graves problemas, por exemplo, no acesso à saúde que prometeram solucionar em dois meses e que, longe de melhorar, se agravaram, e a bomba relógio que constitui o sector da habitação com os dramas subjacentes que comporta. Sem esquecer todo o noticiário que, como se tem constatado, irá continuar a vir a público em torno da empresa Spinumviva.

*por opção, o presente texto foi escrito de acordo com a antiga ortografia.

Post-Scriptum: 
1) Esclarecimento: Em 2015, no rescaldo das eleições regionais desse ano, comuniquei ao secretário-geral do PS, António Costa, as razões que me levavam a abandonar a filiação partidária. Poderia tê-lo feito publicamente, mas remeti-me ao silêncio. A leitura que expresso no presente texto, está amadurecida há largo tempo. Se não a transmiti antes, fui apenas para não ser acusado de ter contribuído para o descalabro eleitoral de domingo passado.

2) Gaza: Israel continua impunemente a praticar em território palestiniano crimes de guerra, que configuram comportamentos próprios de um estado pária. É preciso pôr fim a esta barbárie!

segunda-feira, 24 de março de 2025

Enquanto assim for...


Não me recordo a data, tampouco se apresentei este acetato numa "Comissão Permanente" ou no decorrer de uma reunião do "Secretariado". Tenho presente que aconteceu há uns treze para catorze anos. Para ser perceptível e rápido junto dos pares, utilizei a matriz SWOT, uma ferramenta para caracterizar os ambientes interno e externo, neste caso, do partido. Fui encontrar este documento junto de um outro com uma frase de Péricles (495/429 aC): "O que eu temo não é a estratégia do inimigo, mas os nossos próprios erros".


Com as devidas correcções em função do tempo que estamos a viver, a matriz, então elaborada, parece-me, que  continua, no essencial, verdadeira. Em alguns casos bem pior, com o subtil afastamento de pessoas e a integração ou manutenção de outras sem reconhecimento nem político nem social. 

Sempre parti do pressuposto que há um tempo para estar e um tempo para sair. Eu tive o meu tempo, certamente cometendo erros, e saí. Outros também o fizeram. Nem para "senadores" serviram e o resultado foi o que se viu. 

Preocupante, porque a Democracia precisa de respirar.

Mas, enquanto assim for...

domingo, 16 de março de 2025

Farto de eleições? Não esteja!


Por
Fátima Ascensão
Dnotícias

Por cá e por lá, estamos mergulhados numa crise política. Podemos ter a tentação de considerar que se deveria deixar governar o partido que está no poder. Porém, é preciso ter em consideração as razões pelas quais estão a ser convocadas eleições.



São questões de conflitos de interesses e de dúvidas sobre a boa governação e gestão de dinheiros públicos. Não é uma questão de somenos. Por cá, Albuquerque está a ser investigado e metade dos Secretários Regionais foram constituídos arguidos. Montenegro contou uma história às pinguinhas que não convence e a sua idoneidade foi posta em causa para o exercício das funções como Primeiro-Ministro.

Casos de fortuna após o exercício de cargos governativos exigem escrutínio. O dinheiro não cai do céu. Custa-nos muito descontar o que descontamos no final do mês. Faz-nos falta esse dinheiro. Não brinquem conosco. O dinheiro público tem de ser usado de forma séria.

Não é aceitável a teoria de que só é um bom político quem fica rico após o poder. Se tem “ganhos extraordinários” tem de explicar como conseguiu o dinheiro. Os políticos respondem pela boa gestão pública.

É verdade que outros partidos também tiveram historial de má governação e houve líderes que só pensavam no seu umbigo. Mas, onde estão esses líderes agora? Afastados!

E qual a estratégia do PSD, nacional e regional? Reconduzir os causadores da instabilidade. Na minha opinião, um erro. O que demonstra esta recondução? Provavelmente que se tomou de “assalto” o partido para chegar ao poder. Com que objetivo? Bem comum ou benefício próprio? Sá Carneiro deve estar bem desiludido com o seu PSD. Não é, definitivamente, o partido que ajudou a criar.


A experiência regional já demonstrou quais os partidos que têm “apetência” para fazer acordos de governação com o PSD. No próximo domingo, temos a oportunidade de avaliar o trabalho realizado por todos os partidos que se aproximaram do PSD. Estão satisfeitos com a oposição realizada? Foi mesmo oposição, andaram a engonhar ou a jogar areia para os olhos?

A questão que se coloca nestas eleições regionais é simplesmente esta: Acredita em Miguel Albuquerque, mesmo com tudo o que tem acontecido, ou prefere uma outra solução? Porque quem vota no PSD-Madeira nas eleições do próximo domingo sabe que está a votar pela manutenção de Miguel Albuquerque como Presidente do Governo Regional da Madeira.

Os partidos que ficarem na oposição, se são contra a liderança de Miguel Albuquerque, vão fazer acordo com o PSD-Madeira? Na última semana, o líder nacional da Iniciativa Liberal afirmou ponderar um acordo com PSD-Madeira desde que não seja Miguel Albuquerque quem governe. E os outros que já fizeram acordo?

Não tenham a inocência de pensar que não indo votar, anular o voto, ou votar em branco vão conseguir ter qualquer impacto sobre a situação política.

Se está descontente, a melhor solução é escolher um partido da lista dos partidos que vão a jogo. Só faz a diferença quem vai votar e escolhe o partido que considera o melhor, ou então o mal menor entre todos à escolha.

sábado, 15 de março de 2025

E assim se passaram 49 anos!


Quase cinco décadas a escutar o mesmo vinil, as mesmas faixas, os mesmos temas e sons, os mesmos artistas, às vezes, em novos lançamentos com breves variações à guitarra e à viola, parece-me extremamente cansativo. A agulha há muito que riscou o disco!



Respeito quem goste, mas não faz o meu jeito de estar na vida. Aprecio a liberdade e rejeito amarras sejam elas quais forem; sempre me dei bem com o pensamento livre, colocando na borda do prato, na esteira de Régio, o convite dos que dizem, com olhos doces, "vem por aqui"; prezo o respeito pela democracia, intensamente vivida em toda a sua extensão, e distancio-me da ausência de rigor, dos subterfúgios, da mentira dita com tez de seriedade; não sinto qualquer atracção pela "moral de rebanho", sobre a qual falou Friedrich Nietzsche no quadro do mundo político.

A vida, a vivência e a convivência ensinaram-me isso. Colocaram-me nesse patamar. Voto em princípios e valores que estão para além das pessoas que encarnam a oferta política. Sempre com a noção que até posso vir a me sentir defraudado, porém, com a plena convicção que posso corrigir na próxima ronda.

O que detesto é observar que a cor, há 49 anos, seja mais importante que os princípios, valores e críticas abundantemente feitas, mesmo que em surdina. Sei da teia subtil e pacientemente engendrada, sei das cumplicidades, dos interesses, por ínfimos que sejam, conheço a lógica do cesto de cerejas, mas não me conformo que se reduza a democracia a um sentido obrigatório, quando são variados os pratos do menu.
Mais, o acto de votar devia ser obrigatório e sujeito a penalização. Se todos nós usufruímos de uma mancheia de direitos que o exercício da política nos concede, também temos o dever de participar, expressando o sentimento daquilo que consideramos ser, nesta conjuntura, o melhor para o país ou para a região.

Por isso, votem!

Ilustração: Google Imagens.

quinta-feira, 13 de março de 2025

Em busca de terras raras num ambiente incivilizado cada vez menos raro


Por

Neste contexto, todas as economias mundiais têm uma forte ligação umbilical à China neste domínio e, concordemos, a China tem em suas mãos um grande trunfo que certamente vai/está a utilizar em sua causa.



As cenas da Sala Oval (28/02/2025), onde o contrato de exploração das Terras Raras e outros recursos naturais ia ser assinado pela Ucrânia e EUA, mereciam entrar numa película cinematográfica de Faroeste, de há alguns anos a esta parte. Faltaram as pistolas. Mas o esbracejar das personagens, as carrancas, os gestos corporais substituíam bem essa falha e imaginando uns empurrões que andaram bem por perto, nem pistolas eram necessárias e, assim, ficava criado o cenário perfeito para um Western americano moderno. Serão estes os sinais dos novos tempos?! Uma perda de qualidade face aos clássicos filmes de cowboys, mas é o que temos agora.

Entrando nas Terras Raras

Uma nota. A designação de Terras Raras não decorre de não existirem em vários locais do Planeta, mas de outras duas/três razões: não existem em estado puro na natureza, mas ligadas a muitos outros materiais e, assim, para as obter, é preciso um desmonte de “montanhas” de pedra e outros aglomerados; segundo, para separar “as gramas” de metais de terras raras são precisas tecnologias de alto teor de sofisticação, de difícil domínio, que a China levou tempo a aperfeiçoar; terceiro, não há (por enquanto) alternativas ao uso destes metais extraídos de Terras Raras que se apresentam como fundamentais para as indústrias de ponta do século XXI.

Sobre as Terras Raras, fala-se muito e pouco se diz e, por vezes, esse pouco distorcendo a realidade. Estatísticas existem. Sobre as tecnologias também muito está escrito por cientistas de qualidade científica comprovada. Sobre a história da situação presente, já menos se sabe, mas os EUA são os principais responsáveis ao empurrarem para a China a poluição e a “fábrica” do Mundo, quando as relações eram amigáveis, e que esta soube aproveitar bem no processo da sua industrialização.

A China, concordam os especialistas, tem um avanço muito difícil de igualar ou ultrapassar por outro país que pretenda apostar em sector tão determinante, por múltiplas razões ligadas à produção, ao domínio tecnológico ao longo de toda a cadeia produtiva (mineração, transformação e refinação, sobretudo estas últimas) e à contratualização na exploração dos metais de Terras Raras, porque as empresas chinesas são conhecidas por não imporem condicionalidades políticas ou valores contrários aos usos e costumes tradicionais das regiões onde operam, nomeadamente em África.

Ora, esta situação que levou tempo a consolidar-se é, de algum tempo a esta parte, um dado adquirido. Assim, para um potencial concorrente que tenha de fazer este percurso – dominar as tecnologias e oferecer melhores condições de comercialização – torna-se uma tarefa de extrema dificuldade como referem os investigadores da matéria.

A China, um actor decisivo a nível mundial

Ao dirigente chinês Deng Xiaoping, o Homem que esteve na origem da mudança estratégica de abertura da economia chinesa (1978), é atribuída uma frase marcante: o Médio Oriente dispõe de petróleo e a China de metais de Terras Raras.

O panorama mundial das Terras Raras é sensivelmente este: a China produz cerca de 60% das Terras Raras (17 metais) a nível mundial e transforma e refina cerca de 80% do seu total, tornando-se o actor decisivo das cadeias de fornecimento destes metais.

Se a esta situação se juntar os BRICS+ de que a China faz parte, o panorama complica-se com países como a Indonésia, rica em alguns destes 17 produtos, elevando a quota mundial acima dos 90%. É obra em sector tão determinante para as indústrias de futuro. Neste contexto, todas as economias mundiais têm uma forte ligação umbilical à China neste domínio e, concordemos, a China tem em suas mãos um grande trunfo que certamente vai/está a utilizar em sua causa.

E sabendo-se que não há fabricação de componentes electrónicos, não há investigação e equipamentos médicos, não há equipamentos militares sofisticados, não há centrais solares e eólicas, nem IA, isto é, na prática, poucas soluções técnicas escapam às Terras Raras, esta realidade torna-se um sufoco, sem um grande entendimento de fundo entre os países. Aqui temos uma área em que é fundamental uma diplomacia muito oleada a funcionar com todas as pinças, o que nem sempre acontece e as grandes tensões políticas EUA/China não facilitam. Pormenorizando um pouco, temos os EUA dependentes das importações da China em cerca de 80% e a UE numa percentagem mais elevada (90%).

Esta situação tem levado as administrações americanas e outras que apostam em muitos destes novos sectores de alta tecnologia a procurar fontes alternativas de Terras Raras e de outros metais críticos, para sair desta dependência chinesa.

As soluções não se apresentam fáceis. Há uns anos largos, o Ocidente apercebeu-se do “entalanço” e começou com algum cuidado a procurar formas de remedeio.

Trump com a forma tão “impetuosa” de agir que já se lhe conhecesse, queria “comprar” a Gronelândia, transformar o Canadá no 51º estado americano, porque também tem por lá uns quantos metais críticos e apercebeu-se que a Ucrânia dispõe de algum interesse, como se verá a seguir, e Zelensky entrou no jogo, esquecendo-se que tinha um compromisso com a União Europeia, segundo um relatório da Comissão publicado em Janeiro de 2025. Não se percebe como tudo isto foi sendo esquecido. Pelo menos, não percebo e não ouvi ninguém falar do assunto. Há aqui algo escondido que soa muito a falso.

As potencialidades da Ucrânia (revista « Conflits »de 26 de Fevereiro de 2025)

Segundo o Instituto das matérias-primas da UE, a Ucrânia detém cerca de 7% das reservas mundiais de grafite, essencial para a fabricação de baterias. O lítio, o “ouro branco” da transição energética, é presente em quantidades notáveis nomeadamente em Donetsk e Dnipropetrovsk. Segundo a Reuters, a Ucrânia dispõe igualmente de 20% das reservas europeias de titânio, crucial para a aeroespacial e indústria militar e de Zircónio utilizado nos reactores nucleares. As Terras Raras, indispensáveis aos semicondutores e equipamentos militares, são concentradas em Kramatorsk e Marioupol. O Instituto Geológico americano estima que a Ucrânia poderia transformar-se num fornecedor importante para a Europa (?).

Só olhando para os nomes dos locais, infere-se que grande parte dos metais (50%) se situam em zonas sob o domínio da Rússia, outro problema adicional para a contratualização.

Resumindo, sem entrar no domínio da política de como estancar a guerra, talvez fosse um bom caminho começar por um entendimento sobre as terras raras e outros recursos, mas certamente mais actores teriam de entrar no circuito. Constou que a Rússia estaria aberta a negociar com os EUA, mas num plano de igualdade, o que não parece ser o caso da Ucrânia e, no caso da Rússia, certamente com a vantagem de poder recorrer ao apoio da China no domínio das tecnologias.

A situação apresenta-se bem complexa. Sem negociações a três ou a quatro, em separado, porque as condições são diferentes, dificilmente haverá caminho para o entendimento e uma contratualização bem sedimentada.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

sábado, 1 de março de 2025

A vergonha em directo

 

Já foi tudo dito. Portanto, uma única palavra me ocorre: vergonha. Estou certo que milhões de americanos terão o mesmo sentimento, depois daquela palhaçada trumpista. Tudo leva a crer que aquilo que se passou na Sala Oval foi encenado. Intencionalmente pensado. Um encontro àquele nível, em circunstância alguma face às delicadas matérias em negociação, é aberto à comunicação social. Depois, naquelas circunstâncias, não é ao vice-presidente que compete enquadrar e defender seja o que for e da forma como o fez, dando o mote para que Trump vociferasse da forma tão abstrusa. 



O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, suportou, estoicamente, aquele inqualificável ataque de dois homens, estes sim, impreparados para o exercício das suas funções de moderadores e diplomatas. Putin invadiu e conquistou espaços territoriais; Trump quer espaços territoriais geradores de riqueza. Qual deles o melhor? Entretanto, milhões sofrem e uma nação é espezinhada.

Assisti a uma peça entre dois palhaços de gravata e um Senhor que deseja a paz, mas não a qualquer preço. Porque há princípios, porque muitos milhões já morreram e, sobretudo, porque está em causa o equilíbrio num mundo em crescente ebulição.

Ilustração: Google Imagens.