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terça-feira, 18 de outubro de 2011

"SOMOS GOVERNADOS PELO HOMEM DO LIXO"


Tudo o que foi sufragado, favoravelmente, pelo eleitorado há apenas quatro meses está, já, no lixo! E foi para isto que se chumbou o PEC IV?

Pedro Tadeu, Jornalista, assina, na edição de hoje do DN-Lisboa, um texto que merece atenção. Não pelo trocadilho em que assenta a primeira parte do texto, mas naquilo que é essencial, isto é, no trabalho político muito pouco sério, dramatizado e que consubstancia um roubo aos portugueses, em geral, que não têm culpa alguma do estado a que muita coisa chegou e que ultrapassa as fronteiras do país. Somos mais consequência do que causa. Mas vamos ao texto:
"Se nos dermos ao trabalho de ler o curriculum profissional de Pedro Passos Coelho, constatamos, para além da vida política, estar lá alguma experiência empresarial com cargos sucessivos de director, administrador e presidente, fundamentalmente em empresas de tratamento de resíduos.
Tratamento de resíduos é um nome modernaço, embrulhado com a fita garrida da defesa do ambiente, para identificar a prosaica recolha de lixo. Ou seja, o primeiro-ministro é um homem do lixo.
Poderíamos dizer, depois do anúncio do saque ao contribuinte que o próprio fez na televisão para explicar o próximo Orçamento do Estado, que só quem está habituado a fazer um trabalho sujo estaria disposto àquele difícil papel.
É possível pensar que aquele homem sente a redenção da mesma missão visionária do presidente da Câmara de Paris que, no final do século XIX, enfrentou multidões a exigirem manter o direito de deitar no meio da rua o lixo que faziam em casa, em vez de se sujeitarem a um sistema de recolha.
Uma terceira hipótese é a de o País ter acumulado tanta porcaria que só um especialista em lixo será capaz de proceder, com eficácia, à limpeza.
Olhemos, porém, os factos. Passos Coelho deitou para o lixo a promessa de que não cortaria subsídios de Natal e 13.º mês. Deitou para o lixo a garantia de que não haveria aumento de impostos. Deitou para o lixo a insensata redução da taxa social única. Deitou para o lixo (ou, pelo menos, pôs na reciclagem) os cortes nas gorduras do Estado que beneficiam os poderosos (empresas de capitais públicos de gestão e utilidade suspeita, fundações com objectivos ridículos, autoridades que fingem que regulam, organismos e observatórios inócuos, etc., etc.). A caminho do lixo, aposto, está também a prometida redução de assessores dos ministérios em 20%. Tudo o que foi sufragado favoravelmente pelo eleitorado há apenas quatro meses está, já, no lixo".
Pergunta, finalmente, o jornalista, se há ou não alternativa. Obviamente que sim, "mas, é verdade, esse não é trabalho de tratamento de resíduos, é trabalho político complexo. Isso, o nosso homem do lixo parece não saber ou querer fazer". Curiosamente, na mesma edição do DN o Professor Universitário Vítor Escária, questiona "se foi para isto que se chumbou o PEC IV"! Estou cada vez mais convencido que este orçamento de Estado constitui o primeiro acto de campanha eleitoral de 2015. Aí abrirão os cordões à bolsa.
Ilustração: Google Imagens.

3 comentários:

PicaPau disse...

Está enganado senhor professor.
O chumbo do PEC 4 foi para por na rua Sócrates.
O tal que fez com que agora estejamos a passar pela vergonha da ajuda internacional e pela perda de soberania que a acompanha.
As medidas são de Passos, mas o que obrigou às mesmas é de Sócrates.
E do seu PS.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Exacto, o chumbo ao PEC 4 foi para colocar fora o Engº Sócrates. Quanto à "vergonha", aí, discordo.
Penso ser necessário contextualizar as situações. Apesar de eu ter sido um crítico em relação a algumas decisões dos seis anos de governo da responsabilidade do Engº Sócrates, tenho de colocar em um dos pratos da balança o que de muito bom foi realizado em vários sectores da governação. E não nos podemos esquecer que foi o seu governo, com algumas penalizações para os portugueses, que conseguiu trazer o défice de 6,8 deixado pela Drª Manuela Ferreira Leite, para um valor abaixo dos 3%. E foi a crise internacional que arrastou Portugal para a situação em que está. A Grécia está com uma dívída pública de 157% do PIB, a Itália com 123%, a Irlanda com 112%, Portugal com 101%, a Bélgica com 97%, a França com 84,7%, a Alemanha com 82,4%, a Áustria com 73,8% e Espanha com 68,1%. Espanha que teve, há poucos anos, superávit!
Os Estados-membros que não aderiram à moeda única estão em melhor situação económica, desde a Grã-Bretanha à Bulgária. (Vidé revista FOCUS, nº 626, página 35).
Sobre esta matéria, obviamente que não podemos atirar para um culpado aparente, se bem que, como todos os governos, aspectos da governação existam sempre criticáveis. E de que maneira!

PicaPau disse...

Senhor professor
Os 6,8% respeitam a um ano em que o PSD foi governo menos de metade do ano. E esse valor foi "criado" por Constâncio e serviu para que Sócrates pudesse iniciar a sua governação de forma incontinente, gastando até esse valor.
Se analisar convenientemente, essa crise internacional nem atingiu Portugal. Como sabe os bancos portugueses estavam longe dos problemas do sub prime. Mas foi justificação óptima para Sócrates gastar à tripa-forra no ano eleitoral de 2009. E foi esse ano e o seguinte, em que o Estado gastou mais 20% do que conseguia obter de receitas, situação que nos trouxe ao ponto actual.