As análises não podem ficar pela rama, pois isso qualquer um é capaz de as fazer; as análises devem ir ao desconhecido, ao cruzamento das variáveis de onde possam ser extraídas conclusões substantivas. A páginas tantas, um comentador discorreu sobre a mensagem da candidatura do PS. E aí veio à baila, se bem me recordo, que foi "o grupo Blandy com um outro grupo qualquer que congeminaram uma alternativa de poder". Apenas duas palavras: ignorância altifalante. Eu sei do que falo porque acompanhei todo o processo. E mais não digo por respeito à instituição à qual pertenço.
Em um programa de televisão escutei um comentador. Segui-o com natural atenção. Pancada aqui, pancada ali e, inevitavelmente, vieram à baila os resultados do Partido Socialista nas recentes eleições regionais. Já aqui o disse, mas, repito, face à importância social de qualquer meio de comunicação, os comentários de análise devem ser fundamentados e, para isso, os meandros dos processos conhecidos, estudados e amadurecidos. É muito diferente sentar-se em uma mesa de café com um grupo de amigos e, circunstancialmente, conversar sobre um assunto. Outra coisa é sentar-se com as vestes de comentador para uma grande audiência. Dizia um ex-presidente dos Estados Unidos: se queres falar durante dez minutos prepara-te durante uma semana; se queres falar uma hora, pode ser já! É esta noção de responsabilidade que, enquanto cidadão espectador, gostaria de ver nos comentadores, até porque aprecio quem me venha elucidar sobre pontos de vista que eu próprio não fui capaz de lá chegar. As análises não podem ficar pela rama, pois isso qualquer um é capaz de as fazer; as análises devem ir ao desconhecido, ao cruzamento das variáveis de onde possam ser extraídas conclusões substantivas.
Ora, a páginas tantas, um comentador discorreu sobre a mensagem da candidatura do PS. E aí veio à baila, se bem me recordo, que foi "o grupo Blandy com um outro grupo qualquer que congeminaram uma alternativa de poder". Apenas duas palavras: ignorância altifalante. Eu sei do que falo porque acompanhei todo o processo. E mais não digo por respeito à instituição à qual pertenço. Não tenho o direito nem o hábito de divulgar processos que são exclusivamente do foro interno. Mas os comentários não ficaram por aí. Um dos "analistas", falando sobre a estratégia da candidatura do PS, disparou: "(...) constitui uma equipa com chineses, foi buscar um chinês (...) estratégia do Futre, depois viriam aviões com chineses, como turistas (...) arranjam pessoas que não estão cultivadas (...) com a cultura madeirense (...) há pessoas ali, tu olhas para aquele quadro dos secretariáveis (...) e conheces dois ou três, e quem são, são sempre os mesmos (...)". Repito: ignorância altifalante até na sequência do pensamento. E porquê? Desde logo porque não percebeu a intenção política do PS em apresentar uma equipa de governo. Essa estratégia visou, mesmo nas actuais circunstâncias de constrangimento político-social, quebrar o mito que a oposição não tinha figuras credíveis para o exercício do poder. Até o Professor Marcelo disse o mesmo! E o mito caíu pela demonstração da qualidade das pessoas que aceitaram fazer parte de um governo alternativo: dois doutorados, um em fase de doutoramento, dois economistas com peso técnico e político, um gestor e ex-secretário de Estado do Turismo, uma administradora hospitalar para os assuntos sociais e família (ex-deputada), um gestor especialista em finanças e uma mulher de grande rigor e competência política nos assuntos parlamentares. O analista não percebeu ou não quis perceber, certamente porque não leu, as grandes alterações apresentadas no organograma de governo. Mais ainda, não procurou saber o que diziam as duzentas páginas propositivas do documento apresentado em Fevereiro passado ao qual foi dado o título de "Bases Estratégicas do Programa de Governo". Documento que, no essencial, foi publicado, sector a sector, em dez páginas de publicidade no Diário de Notícias da Madeira. Páginas que, mais tarde chegaram a 70% das habitações dos madeirenses através de um Jornal de Campanha. Isto para além da distribuição pessoa a pessoa por toda a Região.
Mas não deixo passar a frase "(...) constitui uma equipa com chineses, foi buscar um chinês (...)". Aqui é mau demais para ter de ouvir semelhante despautério. O Engº Rui Oliveira, tem habitação na Madeira (nas Colinas da Achada), é militante do PS-Madeira, tem um MBA em negócios internacionais e é doutorando em Administração na Manchester Business School. Circunstancialmente, pelo seu inegável valor, é Chief Executive Officer (CEO) de uma multinacional com escritórios, entre outros, em Xangai, Moscovo, S. Paulo, Luanda. Trata-se de um quadro de topo, com quem convivi durante a recente campanha e posso aqui testemunhar quanto agradável e importante foi dialogar com esta figura jovem e com um sustentável conhecimento e visão do Mundo. Sendo assim, foi muito desagradável o comentário feito.
E o que dizer da Doutora Liliana Rodrigues e do Doutor Thomas Dellinger (doutor por extenso), ambos professores da Universidade da Madeira? Os seus currículos falam por si. E o que dizer do Dr. Maximiano Martins, que para além da sua experiência política na Assembleia da República, foi gestor do Programa Específico de Desenvolvimento da Indústria Portuguesa (PEDIPP) entre 1996/2002, e do Programa Operacional de Economia? E o que dizer do Economista Carlos Pereira? Será que não bastaram quatro anos na Assembleia Legislativa da Madeira para testemunhar o seu conhecimento no sector da Economia? Não foi ele que, desde 2007, alertou para o descalabro das finanças regionais? Não é ele que atende, diariamente, muitos jornalistas da Madeira e do Continente, que o procuram (e bem) para perceberem os meandros das contas públicas? E alguém pode pôr em causa a experiência do Dr. Bernardo Trindade que durante seis anos foi Secretário de Estado do Turismo?
Eu diria que não foi a equipa possível, mas a equipa desejável que muito poderia ter feito pela Madeira nesta hora de angústia. Ora, a questão dos resultados eleitorais é outra e não deve ser analisada de forma tão superficial. Até com a força dos cartazes alguns teceram comentários pouco abonatórios. Há alguma dúvida, por exemplo, que a Madeira está falida? Que havia necessidade de chocar as pessoas no sentido de um profundo alerta das consciências, adormecidas por anos a fio de rotinas e de discursos ocos? Pois bem, há questões muito mais profundas que não foram analisadas. E que deveriam ter sido. Por exemplo, que o PS não dispõe de três milhões para fazer uma campanha (valor ofensivo), que não pode fazer jantares para 30.000 pessoas, que não tem dinheiro para desbaratar em comícios nem em brindes de campanha, que não tem um Jornal da Madeira com 20.000 exemplares diários gratuitos, que não tem palco na festa da anona, da cebola e por aí fora, que não tem 48 freguesias e onze câmaras, casas do povo, etc., que não tem subsídios para distribuir e que não tem inaugurações para fazer. E num quadro de perfeita anormalidade democrática, onde o candidato do PSD foge ao debate com o líder da oposição, pergunto, se estas circunstâncias não terão peso no acto eleitoral? Obviamente que têm.
Detesto o comentário fácil e básico quando há tanto para analisar de forma séria e contundente, mesmo no que diz respeito à candidatura do PS. Mas, para isso, é preciso estudar, estudar muito e ser sério. Por esta via a credibilidade aumenta; pela outra, torna-se mais higiénico mudar de canal.
Ilustração: Google Imagens.
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