O problema residiu e reside na falta de planeamento, na sistemática ausência de capacidade para definir hoje o que se deseja para o futuro, na ganância de alguns, no fartar vilanagem, na surdez política do quero, posso e mando, na guerrilha institucional com tudo e com todos, no espezinhamento dos direitos e, entre a vastidão dos erros cometidos, na subsidiodependência sem eira nem beira. Foi tudo isto que conduziu o Dr. Alberto João Jardim a andar, agora, de mão estendida na busca de alguns cobres que tentem esbater os graves problemas que todos vamos enfrentar dentro de poucos meses. Não foi a oposição a culpada do desastre. "Quem nos entalou" tem nome e tem rosto!
O Jornalista Agostinho Silva, do DN-Madeira, questiona e bem, na edição de hoje, afinal, quem nos "entalou"? Trata-se de uma questão óbvia mas muito pertinente. No essencial o que está em causa é uma análise aos culpados que tentam, desesperadamente, passar por vítimas. Os que criaram a situação de total descontrolo, agarrados ao poder como lapas velhas e de língua afiada, procuram passar incólumes como se o seu histórico de trinta e cinco anos de poder absoluto, nada tivesse a ver com os factos dramáticos que hoje caracterizam a situação económica, financeira, social e cultural da Região Autónoma da Madeira. Os de lá continuam a ser os malditos, os culpados, os colonialistas, os usurpadores de direitos, os antiautonómicos, os que não deixam a Madeira andar "prà frente, sempre". As culpas não residem aqui, na Região, nos descontrolados planos e orçamentos anuais, na contração e acumulação de dívidas, no excessivo e complexo organograma onde, institucionalmente, com designações diferentes instalaram o equivalente a um país, embora sejamos uma região com menos habitantes (270.000) que o concelho de Sintra (377.249 habitantes), subdividido em 20 freguesias (a Região da Madeira tem 54). Em Sintra, onze Vereadores e um Presidente dão para as encomendas! Aqui, muito embora a dignidade institucional de Região Autónoma, com órgãos de governo próprio seja diferente, a verdade é que há responsáveis pela montanha de inexplicáveis serviços criados à sombra da Autonomia e por força do clientelismo. E isto paga-se e, a prazo, gerou e gera problemas graves, simplesmente porque o dinheiro não é elástico nem se multiplica. A par da engrenagem institucional, "quem nos entalou" foram aqueles que sempre disseram que a "história não falava de dívidas, mas de obras", mesmo que essas ditas obras sejam hoje colocadas em causa, por não se justificarem, por terem uma raiz megalómana, por estarem assentes no pressuposto que "com milhões faço inaugurações e com inaugurações ganho eleições" e mais, por uma total falta de respeito pelos princípios do desenvolvimento (o da prioridade estrutural e o da transformação graduada, entre outros dez).
"Quem nos entalou" foram aqueles que transformaram a Madeira, esta Região que deveria ser diferente, autêntica e especial, numa Região toda ela tendencialmente igual, construída na loucura do cimento e do asfalto. Perguntar-se-á: mas então não foram construídas infraestruturas importantes? Obviamente que sim. Mal teria sido, com tantos milhões da UE, do Orçamento Nacional e dos impostos dos madeirenses que, em trinta e cinco anos, estivéssemos ainda com as características da Madeira do primeiro quartel do Século XX. O problema não está aí. O problema residiu e reside na falta de planeamento, na sistemática ausência de capacidade para definir hoje o que se deseja para o futuro, na ganância de alguns, no fartar vilanagem, na surdez política do quero, posso e mando, na guerrilha institucional com tudo e com todos, no espezinhamento dos direitos e, entre a vastidão dos erros cometidos, na subsidiodependência sem eira nem beira. Foi tudo isto que conduziu o Dr. Alberto João Jardim a andar, agora, de mão estendida na busca de alguns cobres que tentem esbater os graves problemas que todos vamos enfrentar dentro de poucos meses.
Não foi a oposição a culpada do desastre. "Quem nos entalou" tem nome e tem rosto! O problema é que o povo não castiga. Perdoa, vá lá saber-se porquê! Por todo o lado, os políticos caem às mãos do Povo. Ainda hoje, em Espanha, as legislativas ditarão uma mudança no poder. O mesmo primeiro-ministro que ainda há poucos anos apresentou um superavit nas contas nacionais, hoje, está em causa. Dará lugar a outros na esperança que o amanhã seja melhor. Aqui, o povo aplaude a aldrabice, acredita, utilizando a expressão da Senhora D. Guida Vieira (BE), de forma "ingrata e oportunista" naqueles que os "entalaram". Mas, apesar da conjuntura e da teia que foi tecida ao longo de muitos anos, também acredito que quem "entalou" está em fim de ciclo político. Provavelmente, esta legislatura será muito curta pois como disse Abraham Lincoln (1809/1865) "é possível enganar parte do povo, todo tempo; é possível enganar parte do tempo, todo o povo; jamais se enganará todo o povo, todo o tempo." Ele está "entalado" ou, melhor, está enlatado!
Ilustração: Google Imagens.
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