Um assunto que não é novo. Rui Machete, Ministro dos Negócios Estrangeiros, comprou acções da Sociedade Lusa de Negócios (SLN), dona do BPN, a um euro, tendo a Fundação Luso-Americana a que presidia comprado a 2,2 euros. Mais tarde vendeu-as tendo registado uma mais valia de 38,2 mil euros (Expresso). O mesmo se passou com Cavaco Silva e a sua filha. E com muitos outros que, certamente, ou tinham informação privilegiada ou foram, intencionalmente, convidados (percebe-se porquê) a participar na marosca designada por BPN. Não se trata de cidadãos anónimos, de pessoas que tendo alguma disponibilidade financeira, investiram na perspectiva de ganhar, embora através de um jogo especulativo, trata-se sim de pessoas, não apenas as referenciadas, que compraram a preço baixo para vender tempos depois a preço altíssimo. Sem mexerem uma palha! No caso em apreço, não passa pela cabeça de ninguém que Rui Machete não estranhasse o facto de lhe venderem a um euro por acção, quando a Fundação a que presidia tivesse um preço de aquisição de € 2,20; e não passa pela cabeça de ninguém que o economista e professor universitário Cavaco Silva não duvidasse dos contornos do negócio. Porquê a um euro, seria a pergunta lógica para qualquer pessoa. São estas e outras situações, enfim, que degradam a imagem dos políticos que estão mais predispostos a se governarem do que a governar.
Tenhamos presente o caso dos swaps, onde há muito para explicar, mas que desde logo ficou claro os meandros da engrenagem: hoje, enquanto agente de um banco, um sujeito vende ao governo um produto potencialmente tóxico e, amanhã, apresenta-se ao povo, no outro lado da barricada, no governo, enquanto secretário de Estado, para gerir aquilo que antes vendeu ou tentou vender. O curioso é que estas figuras se dizem de consciência tranquila. Para esta gente tudo é transparente e tudo é, ética e moralmente, lícito. Dir-se-á que o custa é a primeira vez, ou a primeira semana. Depois... é a rotina da venda da consciência aos bocados.
Chegámos a um ponto que nem se preocupam em escrutinar os nomes das pessoas, os seus passados políticos e profissionais. Pouco se ralam que a ideia que reste é a de que fazem todos parte da mesma gamela, pouco se importam que fique no ar que uns se protegerem aos outros. Talvez, por isso mesmo, saltam daqui para ali, de instituição para instituição, em uma espécie de rede montada para satisfazer as lógicas de uma máquina de pensamento corrupto. Apesar disso, curiosamente, quando alguém aponta o dedo, apresentam-se como vítimas, como imaculados e, quando questionados, encolhem os ombros como vi Rui Machete fazer, transmitindo a ideia: o que fazer(?), preocupado eu(?)... a comunicação social é assim! Tanto assim é que, já Joaquim Pais Jorge tinha falado do estado "podre da política, de que os portugueses tantas vezes se queixam, que expulsa aqueles que querem colocar o seu saber e a sua experiência ao serviço do país" (...) quando "a minha disponibilidade para servir o país sempre foi total. Não tenho, no entanto, grande tolerância para a baixeza que foi evidenciada". Uma lengalenga onde já nem conseguem enxergar que se a crítica existe é por alguma causa, ela acontece exactamente pela existência de zonas cinzentas que emergem do bas-fond do exercício da política. É o dinheiro a comandar e todo o povo a sofrer as consequências dos interesses geridos nos longos e quase impenetráveis corredores do poder.
Ilustração: Google Imagens.
Sem comentários:
Enviar um comentário