Facto:
Foi anunciada a construção de uma escola nova cujo investimento rondará os sete milhões de euros, beneficiando de uma comparticipação comunitária de 85%. Há muito identificada a necessidade, depois de várias polémicas, finalmente, os decisores políticos da Região Autónoma da Madeira decidiram-se. Ainda bem.
Comentário e perguntas:
Os sistemas educativos estão em mudança. É irreversível, apesar das resistências que as mudanças de paradigma sempre transportam. Tendo origem na ignorância de muitos políticos, onde se incluem os decisores, é sintomático que o mundo que estamos a viver, em todos os aspectos, como escreveu Alvin Toffler há muitos anos, já não cabe nos cubículos convencionais de ontem. É óbvio que só resta ao sistema educativo mudar de paradigma. E a propósito da construção de uma escola nova (Ribeira Brava) a questão que, desde logo, deve ser colocada é se o edifício está projectado de acordo com a tipologia do passado ou se acompanha a mudança que está a acontecer. Este aspecto não é de somenos importância. Ele é fulcral.
Na Catalunha, por exemplo, nos colégios jesuítas estão a transformar os edifícios, deitando paredes abaixo para implementar uma nova dimensão do processo ensino-aprendizagem. "Educar não é só transmitir conhecimentos", disse o director-geral do FJE, Josep Menendez. Hoje, estão em causa projectos que promovam "as inteligências múltiplas e extrair todo o potencial" dos alunos (...) "nós transformamos a educação para que o aluno seja o protagonista, para que haja verdadeiro trabalho de equipa e os alunos a descubram qual é o seu projecto de vida, o que querem fazer na vida e ensiná-los a reflectir, porque vão viver numa época que os vai desconcertar". "O problema do ensino é que é muito aborrecido. Nós mudámos o olhar" disse, em entrevista Pepe Menéndez, director adjunto da Fundació Jesuïtes Educació, da Catalunha. "A dificuldade essencial é o aborrecimento, a falta de ligação. "Isto não me interessa." A escola é uma obrigação, não é um sítio que me apaixone. Os adolescentes não têm de estar sempre a divertir-se, mas a escola estava a tornar-se uma prisão. Eu ainda fiz o serviço militar obrigatório e digo que a escola obrigatória é igual. Igual! Todos têm de ir porque os pais trabalham, porque a lei obriga, mas o direito à educação não é fechar os miúdos numa escola. É provocar as suas emoções, as suas paixões, potenciar os seus talentos tão diferentes... os talentos dos alunos são muito maiores do que o currículo. (...) A mudança está em olhar para as coisas de forma diferente: o que queremos? Nós, jesuítas, dizemos: queremos alunos competentes, compassivos, conscientes, comprometidos e criativos. Que sejam capazes de construir o seu projecto de vida, é esse o centro do nosso projecto educativo. É preciso fazer coisas no colégio para que o aluno se vá construindo, e todos os conhecimentos têm de ser metidos dentro do projecto. Não é: "A minha vida é isto e os meus conhecimentos estão noutro lado (...) Tenho de integrá-los!"
Sendo assim e estando o paradigma educativo em mudança, pergunto, qual a posição do governo regional? Manter as tipologias dos edifícios que já não se adequam às necessidades? No caso da Ribeira Brava, questionaram os professores sobre como é que desejam o edifício? Pediram algum estudo, por exemplo, ao Departamento das Ciências da Educação, da Universidade da Madeira? Oxalá esteja enganado, mas pressuponho que o projecto de arquitectura nasce do actual conceito de escola (há uma diferença entre "escola nova" e "nova escola") e não assente em um conceito de inovação portadora de futuro. E tem uma razão de ser. Este governo regional, tal como os anteriores, nunca, repito, nunca, manifestou, publicamente, uma preocupação de mudança do sistema educativo. Perguntarão, pressuponho, para si próprios: eles dizem que a escola é uma seca? Que seja! Eles (crianças e jovens) têm de adaptar-se ao que queremos e nunca o contrário. O erro reside aqui e em uma nova e adequada leitura do Mundo!
Ilustração: Google Imagens.
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