Li: "Alunos do 1.º ciclo vão ter mais três semanas de aulas no próximo ano". Lembrei-me de uma "carta do leitor", publicada no DN-Madeira, em 2009 (lamento não ter registado o nome do autor): "(...) Depois do papelão, do vidrão, do embalão e do "velhão", apresento-vos o ALUNÃO. O alunão é um depósito de alunos em que, por impossibilidade profissional ou apenas por falta de vontade, os encarregados de educação transformam as escolas de hoje (...)". Enfim, confirma-se que os governantes descobriram o ALUNÃO e assumem, decididamente, que ser criança está em "vias de extinção", como enalteceu o Psicólogo Eduardo Sá.
Aumentar o número de dias de escola significa não entender que mais escola não significa melhor escola. Significa não perceber que escolarizar é uma coisa e educar é outra bem diferente. Significa, ainda, não querer assumir uma frase tão simples e tão profunda, a de Merleau-Ponty, um filósofo fenomenologista francês (1908/1961) que bem situou esta questão: "O meu corpo é o centro do Mundo, tomo consciência deste através dele". Como formar essa consciência é a pergunta que deveria ser colocada. Ora, ser criança, é muito mais do que, muitas vezes a martelo, "cumprir um programa", esquecendo-se que "(...) na criança, o jogo (em um sentido lato) é, antes de tudo, prazer. É também uma actividade séria em que o fingir, as estruturas ilusórias, o geometrismo infantil, a exaltação, têm uma importância considerável" - Jean Chateau. Coisas que os políticos não entendem, porque se esqueceram, muito rapidamente, que foram crianças.
Todos dominamos as razões de mais três semanas de escola (por andas organização social e laboral?), mas teimam em não querer mudar a sociedade, pelo que a criança que se deixe de tretas... torne-se adulto antes do tempo!
Sentado, fico à espera da decisão do secretário da Educação da Madeira.
Ilustração: Google Imagens.
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