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terça-feira, 22 de março de 2011

MAIS VALIA, EM QUÊ?


Não é razoável que se façam estádios para uma pressuposta elite profissional, quando, ainda hoje, leio, no DN, que a "a Madeira não tem dinheiro para o desporto escolar". Não é aceitável que se jogue milhões em estádios com uma oferta de lugares que é quase o dobro da média dos espectadores que assistem aos jogos. Não é sensato que se negue uns míseros euros de complemento de pensão aos idosos e às famílias que estão a passar mal, que se adie o pagamento das responsabilidades assumidas através de contratos-programa, que se amontoem os encargos assumidos e não pagos dos estabelecimentos de educação e ensino...


Ouço pela rádio que o Dr. João Lomelino, dirigente do futebol do Marítimo, considerou a obra do Estádio dos Barreiros, uma "mais valia" para a Região. Vinha eu a conduzir e soltei para com os meus botões: mais valia, em quê?
Meu Caro João Lomelino, pessoa, a par do seu irmão, por quem nutro consideração desde o tempo dos pontapés na bola, no Marítimo. Já lá vão mais de 40 anos. Ora, não vejo mais valia alguma. O que vejo é um luta de galos entre dois clubes, inversão de prioridades político-sociais, muitos milhões de euros inconsequentemente derramados e manutenção de um significativo atraso na conquista de um desporto ao serviço do desenvolvimento. E estou completamente à vontade para assumir esta posição, não só pela formação académica que possuo neste sector, como pelo facto de ser sócio do Marítimo desde há 61 anos. Pela contagem não actualizada sou o sócio nº 80.
Que se justifica um estádio de futebol na Madeira, enquanto "sala de visitas", património da Região, para ser utilizado, preferencialmente, por quem se aventura na Liga Primeira do futebol português, nada tenho a opor enquanto cidadão. Aliás, como acontece em grandes cidades e regiões, indiscutivelmente, mais ricas em todos os aspectos. Ter dois estádios, fora outros dissiminados por tudo quanto é sítio (só o concelho de Santa Cruz tem oito) constitui um despropósito e um desbaratamento dos dinheiros públicos que, enquanto cidadão, repito, não posso aceitar. Não faz o menor sentido pulverizar milhões de euros quando temos 17.200 desempregados e toda a situação que a montante se esconde, concretamente, a falência do sistema empresarial, única via susceptível de gerar emprego. Não é razoável que se façam estádios para uma pressuposta elite profissional, quando, ainda hoje leio, no DN que a "a Madeira não tem dinheiro para o desporto escolar". Não é aceitável que se jogue muitos milhões em estádios com uma oferta de lugares que é quase o dobro da média dos espectadores que assistem aos jogos. Não é sensato que se negue uns míseros euros de complemento de pensão aos idosos e às famílias que estão a passar mal, que se adie o pagamento das responsabilidades assumidas através de contratos-programa, que se amontoem os encargos assumidos e não pagos dos estabelecimentos de educação e ensino, para derramar muitos milhões em obras que não são de todo prioritárias.
Meu Caro Dr. João Lomelino,
Há estudos elaborados por estudantes universitários da Madeira, no âmbito dos trabalhos finais de Licenciatura, que provam que nem para o turismo o futebol profissional é relevante. Basta consultá-los para isso constatarmos. Mas, atenção, nada tenho contra o futebol de natureza profissional. Gosto do espectáculo, mas não é isso que está em causa. Está em causa o sentido da responsabilidade governativa que está muito para além dessas brigas de comadres que envolvem o presidente do governo regional. A questão que aqui se coloca é, até, de respeito pela iniciativa privada, respeito pelos clubes enquanto instituições de natureza privada, não fazendo delas extensões do poder, controladas pelo poder, respeito pelos direitos sociais e respeito pelas pessoas que têm o direito de viver com dignidade. Sou, sempre fui, contra a capturação dos clubes pelos interesses do poder, da mesma forma que sou frontalmente contra a subserviência das instituições que se subjugam e morrem aos pés de quem lhes paga as facturas. Eu pago a minha quota anual para que o clube cumpra o seu desígnio de clube privado, não a pago no sentido de alimentar as loucuras de uns e os inconfessados interesses de outros. Aliás, o cofre público anda vazio e as facturas pregadas no tecto. Será legítimo e honesto inverter as prioridades públicas? 
E muito haveria a dizer sobre este tema. Regresso ao princípio e interrogo-me: "mais valia, em quê?
Ilustração: Google Imagens.

8 comentários:

Pica-Miolos II disse...

A cada Nero, seu Circo!

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Nem mais.
O Sociólogo Lucien Romier escreveu (ironicamente): "uma equipa de futebol por cada 1000 habitantes e o problema social fica resolvido".

Toregri disse...

"a Madeira não tem dinheiro para o desporto escolar". O que leu no DN?
Que não havia dinheiro para levar uns miúdos que ganham as corridas ao Continente...
Acha mal?
Normalmente você cai em cima da falta de qualidade do desporto escolar, que não há, quem não vale nada.
Agora quer dinheiro para leva-los a competir no Continente. Onde, se pressupõe ter que haver qualidade que o justifique.
É porque é dessa falta de dinheiro que trata o artigo. Claro que você acaba por usar e (abusar) do título, ignorando o conteúdo, para mais um seu "lençol" opinativo.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
"Normalmente você cai em cima da falta de qualidade do desporto escolar (...)". Oh meu caro, se há pessoas que nesta Região têm sido defensoras do desporto escolar, certamente que estou entre elas. Tenho centenas de textos editados desde 1974 e tenho dois livros publicados sobre esssa matéria. Mais, após 1974 pertenci ao grupo de professores que ajudaram a organizar e projectar o DE. A minha história pessoal não começou há poucos dias, sabe?
E este texto que escrevi é exactamente pela defesa que faço do DE. É na escola que ele deve acontecer, como prioridade absoluta e sujeita à qualidade.
Tenho uma enorme consideração pelos meus colegas que trabalham no Gabinete do DE e não foi por mero acaso que quem apresentou o livro "Ano Europeu da Educação pelo Desporto" foi o Dr. António Jorge Andrade, líder desde há muitos anos no Gabinete do DE.
Meu caro, é preciso conhecer a história e perceber o texto, mesmo que se trate de um "lençol". Expressão, convenhamos, deselegante, quando eu agradeço os comentários que fazem.

Toregri disse...

Quanto a estórias entre si e o referido professor, não entremos por aí. É que alguns têm memória.

André Escórcio disse...

Peço-lhe que não seja desagradável. Que tive divergências com o Dr. António Jorge Andrade, obviamente que sim. Divergências que não colocaram em causa o respeito profissional entre ambos. Há pessoas que não sabem o que isso é. Eu sei. Por isso, no que concerne ao Desporto Escolar, entendo se o processo não anda a culpa não é dele.

Toregri disse...

Divergências, bulling. Chame-lhe o que quiser. Você tem atacado sempre o que se faz no Desporto Escolar na Madeira desde há muitos anos. O líder de que fala não está lá há 10 anos. Está desde a altura dessas suas estórias com ele. Se não como nº 1, como nº 2. O que mudou no Desporto Escolar desde essa altura? Consegue explicar-me?

André Escórcio disse...

O Senhor ou Senhora "Toregri" está a entrar por um campo, repito, deselegante e até mesmo incorrecto. Seja quem for, não lhe fica bem. Uma coisa é discutir pontos de vista, outra, mentir e ser desagradável.
Dou por terminado o meu diálogo consigo, mas se tiver alguma paciência, leia as 88 páginas do livro "Ano Europeu da Educação pelo Desporto - Contributo para a compreensão do desporto na escola" e aí perceberá o que entendo por uma "Escola onde o Desporto seja entendido como instrumento fundamental de uma Humanidade melhor".
Se isso não lhe chegar, leia o meu contriburo no livro de vários autores, "Povos e Culturas", da Universidade Católica Portuguesa, pois também lá está o meu pensamento sobre esta matéria.
Ponto final, até porque gosto de dialogar de forma franca, honesta e sabendo com quem dialogo.