O problema das demissões em catadupa no SESARAM é muito mais vasto que o estado da saúde na Região da Madeira. É um problema, diria como metáfora, de "sepsis" no governo. Politicamente, assiste-se a uma disseminação de focos infecciosos que não permitem qualquer recuperação. Fala-se da saúde, como bem primeiro, mas, questiono, como está a educação onde as rotinas pobres e confrangedoras acontecem? E os assuntos sociais cuja secretaria vive, diariamente, da esbaforida e ofegante propaganda, quando tudo permanece igual ao passado? E a economia, cujo secretário parece ter perdido o sentido da responsabilidade e do equilíbrio para passar ao ataque "déjà vu", politiqueiro e sem sentido, face ao qual o povo tem uma tarimba de quase quarenta anos? E alguém já pressentiu alguma substancial alteração nas políticas da agricultura e pescas ou nas políticas ambientais?
A "festa" continua... |
Obviamente que a responsabilidade é do presidente do governo que não me parece ter unhas para tocar esta guitarra de cordas desavindas, que esperam uma oportunidade para se fazerem ouvir. Curiosamente, tal como o outro, ele também fala no singular, só que não manda, é mandado. Há, ali, uma manifesta cozedura em lume brando, onde o cidadão fica com o sentimento do cumprimento de serviços mínimos, em uma espécie de um "olho no burro e outro no cigano", enquanto alguns, que ainda estão para perceber como ali chegaram, não vêem a hora de zarpar. Enquanto isto, que é público e notório, há uma velha, caduca, desgastante mas experiente rectaguarda que, no silêncio, na alma do negócio, se movimenta e reorganiza. O que esperar de tudo isto? Faço minhas as palavras de um velho e grande Amigo, nonagenário, que há mais de vinte anos me diz que não sabe quando, mas que vai dar tragédia lá isso vai!
Depois, nesta questão do SESARAM, há um aspecto que me é particularmente sensível: não se questionam as razões mais substantivas das demissões e não se atacam, com verdade e frontalidade, os reais problemas apontados pelos profissionais de saúde, antes nomeia-se quem está mais à mão ou quem está a seguir na lista dos mais próximos. Não é qualquer pessoa, julgo eu, por mais animada que esteja em servir ou com alguma experiência no sector, que tem competência para a complexa tarefa de gerir o sistema de saúde. É preciso conhecimento específico dessa complexidade e uma acrescentada sabedoria para dominar as relações de interdependência. Gerir um sistema com a grandeza e as dificuldades acumuladas ao longo de muitos anos, entre as quais as financeiras, permitam-me a expressão inglesa, necessita de "know-how" que não está ao alcance de qualquer. Há um passado e um conhecimento actualizado que tem de ser tido em conta sob pena de, amanhã, voltar a repetir-se a cena de hoje. Mas há sempre pessoas disponíveis para tudo e sem o sentido mais profundo das responsabilidades que abraçam.
O estado da saúde na Região é, pelo que se sabe, muito débil. Penso que será muito difícil fazê-lo sair do coma induzido por irresponsabilidade governativa. A culpa não é dos médicos, dos enfermeiros e restantes profissionais de saúde, que muito trabalham e têm sido espoliados a todos os níveis. A culpa é, claramente, política; a culpa é de quem andou e anda a brincar com as finanças públicas; de quem andou anos a fio a dizer amém aos gastos supérfluos que tornou a dívida impagável; a culpa é de quem assume compromissos com a continuação de obras de muito duvidosa prioridade. Os exemplos são aos molhos: ainda ontem, apesar de ser um quantitativo simbólico, o governo atribuiu € 300.000,00 ao Rali Vinho Madeira. E sem qualquer miserabilismo da minha parte, a verdade é que são trezentos aqui, mais trezentos acolá, mais uns milhões para as sociedades anónimas desportivas, mais uns milhões para o Jornal da Madeira, mais vinte e seis milhões para a educação particular, mais umas centenas de milhar para as festas disto e daquilo, enfim, a lista é muito longa. Tudo o que seria dispensável, pelo menos durante algum tempo, visando a solução dos assuntos mais prementes o governo não tem em conta e, por isso, falta onde nunca deveria faltar. Se se exige, e bem, rigor gestionário no SESARAM, ainda mais a quem tem a responsabilidade maior no vértice estratégico governativo. O ciclo de vida deste governo está no fim. Já que de saúde falamos, resta desligar a máquina! Por mim, desligava-a agora mesmo.
Ilustração: Google Imagens.
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