Ainda bem que algumas instituições vão debatendo a Educação. Eu preferiria que discutissem o sistema educativo. Agora foi a Associação Nacional de Professores que juntou docentes focados em um tema que designaram por "Um olhar sobre a Educação". Mais um! Ao longo da minha vida profissional é caso para dizer que perdi de vista tantos foram os olhares projectados para qualquer coisa que nos preocupava. Tem sido assim, juntam-se pessoas, umas por interesse nos temas, algumas por uma questão de aquisição de créditos visando a progressão na carreira docente. Durante alguns dias promovem-se muitas reflexões, algumas profundas, indo às causas e propondo caminhos, outras de interesse reduzido e, no final, é a História que nos diz, "tudo como dantes no quartel de Abrantes". Dezenas e dezenas de iniciativas sem qualquer sucesso prático. O sistema educativo permanece estático, avesso a qualquer mudança, bloqueado, a montante e a jusante, por uma crónica surdez e estrabismo face à investigação científica produzida e ao anúncio de novos paradigmas.
E assim permanece o blá, blá, as concentrações que, não duvido, são realizadas com entusiasmo, mas de efeitos nulos. E a prova está neste governo regional da Madeira, onde a Autonomia, mesmo que limitada, poderia ir muito longe. Ontem, o secretário regional da Educação, pasme-se, veio dizer: "(...) Só com a mudança é possível criar uma sociedade mais capaz e criarmos jovens mais capazes de transformar o futuro, tornando-os competentes para os desafios da sociedade". Trata-se de uma frase, eu diria, metida a martelo, que ninguém contestará, certamente, mas que não adianta nem atrasa. Quais as mudanças a operacionalizar, questiono. Talvez, presumo eu, que o secretário nem saiba e, se sabe, decorrido mais de um ano de mandato político, não existe uma única declaração para, no mínimo, despertar e fazer acreditar que há um caminho construído no quadro da tal "mudança". Aliás, é o próprio secretário que renega uma visão estrutural de futuro, quando leio no DN-Madeira que terá salientado "(...) que a tutela tem estado atenta a essa situação (falava de insucesso) e que já se implementaram medidas para a precaver. Assim, é de ressalvar a criação de turmas que congregam alunos que têm vivido o insucesso escolar, adaptando os programas formativos, de modo a conceder-lhes mais possibilidades de conseguirem terminar o ensino obrigatório com sucesso (...)". O que isto significa é que o responsável político, uma vez mais, confundiu a "mudança" com um "penso rápido" que, obviamente, não resolve a infecção sistémica.
Ora, o que está em causa não é nada daquilo, mas sim a mudança de rotinas e um enquadramento político assente em uma visão estratégica para uma educação portadora de futuro. E tal não se consegue com blá, blá, palavras de circunstância ou bolas ao poste. Atinge-se com pensamento político, desbravando baldios de consciência, rompendo com as cristalizações, indo ao âmago dos problemas, a montante, junto dos múltiplos factores de natureza social, a jusante, as organizacionais, curriculares e programáticas. Mudam-se os sistemas quando se aceita que temos de operar uma mudança nas nossas próprias convicções. Se assim não acontecer tudo converge para uma conversa de treta, continuando tudo estruturalmente igual, embora com algumas alterações marginais que não resolvem, de todo, a questão de fundo. Mais do que a vagueza de "Um olhar sobre a Educação", precisamos de um pensamento político e científico para a Educação. E este não existe.
Ilustração: Google Imagens.
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