"Os ataques ao atual Presidente da República, em termos que roçam a pura ordinarice, apenas sublinham o sentimento revanchista que guiou grande parte da vida de Cavaco Silva. Marcelo Rebelo de Sousa deve metade da sua popularidade ao facto de ter sucedido a tão desagradável e cansativa personagem.
Durante quatro décadas um dos políticos profissionais há mais tempo no ativo apresentou-se como um técnico, um outsider, um antipolítico. Durante quatro décadas um dos políticos mais perdulários, responsável pela perda de uma oportunidade histórica, como primeiro-ministro, e com uma das casas civis mais dispendiosas da nossa democracia, que chocou o País ao dizer que 10 mil euros quase não davam para as suas despesas, apresentou-se como um político austero. Durante a sua longa carreira política rodeou-se de homens como Duarte Lima, Dias Loureiro ou Oliveira Costa, mantendo com este último relações financeiras promíscuas, e isso não o impediu de dizer que era preciso nascer duas vezes para ser mais sério do que ele. A dissociação entre o que Cavaco Silva é e a imagem que tem de si mesmo é o seu traço psicológico mais perturbante. Um traço megalómano que o aproxima, curiosamente, de José Sócrates.
Agora, o homem que acusou um governo de fazer escutas ao Palácio de Belém sem que nunca apresentasse qualquer prova de tão grave denúncia, que fez discursos tomados pelo ódio contra aqueles com que era suposto cooperar, quer apresentar-se, escondendo-se atrás do nome de Macron, como o exemplo de um Presidente ponderado e discreto, em contraste com a “verborreia” do atual chefe de Estado, escondido atrás da “maioria dos políticos europeus”. (...)"
NOTA
Excerto de um artigo do jornalista Daniel Oliveira (Expresso).
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