Estive dois meses e meio fora da Região, mas não deixei de acompanhar a salutar efervescência da campanha que ontem terminou. Regressei a tempo de cumprir o meu dever cívico. Porque só votando podemos ter voz nos próximos quatro anos. Os que "fogem", negligenciam ou dizem que não vale a pena, depois, não me parece que tenham total legitimidade para exercer a crítica. Mas, enfim, esse é um problema de cada um, embora considere que o voto deveria ser obrigatório e sujeito a multa no caso de não comparência, salvo os casos justificados. Se, na cabina de voto, o eleitor vota em branco ou torna nulo o seu voto, esse é um posicionamento individual que respeito. Poderão alguns dizer que é tão democrático votar como não se apresentar no acto eleitoral. Trata-se de uma posição na qual não me revejo. O exercício da Democracia congrega muitos direitos, mas tem um dever e esse é o da escolha dos representantes.
Ao assumir-se a obrigação de votar, do meu ponto de vista, tal envolveria dois motivos complementares, para além, obviamente, da eleição dos quadros que governarão a coisa pública: primeiro, a redução da abstenção, o que favorece, tendencialmente, uma cultura de participação que implica envolvimento prévio; segundo, uma imprescindível ajuda na "limpeza" dos cadernos eleitorais. Porventura existirão outras razões, mas estas reputo-as de fundamentais.
Bom, mas não quero desviar-me do que aqui me traz. Amanhã, é dia de eleições. Mesmo à distância acompanhei o dia-a-dia das várias candidaturas em todos os concelhos. Exceptuando uma ou outra que soube ser consistentemente propositiva, com os pés assentes no solo e com uma visão correcta do poder autárquico, o que me apraz, saliento, na generalidade, assisti a repetições discursivas com barbas, a tiques ofensivos que a maioridade democrática deveria repelir, ao anúncio de promessas só possíveis entre quem sabe que, a avaliar pelas sondagens, não terá poder decisor ou de influência nas decisões. No lavar dos cestos das vindimas, eu diria que houve muita parra e pouca uva. Pelo meio alguma agressividade, absolutas falhas de memória sobre o passado, uma desmesurada insistência na "obra" física quando se sabe que o cobertor financeiro é extremamente curto, que há dívidas por pagar e que os poderes públicos não devem se servir das empresas privadas para seu próprio financiamento, isto é, à custa de outros, agitarem bandeiras nas inaugurações. Entre muitos, não vi pragmatismo e sentido de responsabilidade entre o essencial e o acessório; não assisti ao respeito pelo princípio das prioridades estruturais, relativamente àquilo que pode ser considerado dispensável em função dos actuais contextos económicos e financeiros.
Depois do que li, creio que alguns podem começar a escrever o discurso da derrota. Se, durante muitos anos, o povo foi sempre considerado inteligente e sabedor, espero que, amanhã, alguns candidatos tenham a sensatez de manter essa caracterização do povo. Pessoalmente, não preciso de reflectir sobre em quem vou votar no Funchal e para os três órgãos (Assembleia Municipal, Câmara e Junta de Freguesia). Se este não é o seu caso, pense e decida, mas não fique em casa permitindo que outros o façam por si.
Ilustração: Google Imagens.
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