A Senhora do Amparo é também padroeira da comunidade entusiasta da Ribeira Seca que, neste fim de semana, eleva-a ao altar das celebrações religiosas e ao patamar das festividades seculares que nestes dias acontecem por toda a Região. Num tempo de vindimas por toda a Ilha, de cheiros intensos a vinho novo, a juventude contagiada por estas energias do fundo da terra mãe se unem aos mais idosos da paróquia, aos seus segredos da escola da vida, à pedagogia da persistência dos valores do trabalho, fazendo-se potenciais ativos da vinha da Senhora do Amparo. Ativos que crescem e que se fazem na vinha já secular da sua padroeira o que, efetivamente, leva-me a questionar qual a apreciação que a Senhora do Amparo tem vindo a fazer ao povo que caminha da Ribeira Seca. Como é que a Senhora avalia esta vinha comunitária? Como é que a mãe das inclusões, a progenitora do Cristo da história, do mestre do perdão e das tolerâncias vê a cruzada mórbida e desprezível que, nestes últimos 50 anos, tem avançado sobre o pensamento livre e crítico desta comunidade aos dogmas que nos foram impostos, em nome de um Deus todo poderoso? Do alto do seu apego a este povo, de seu olhar firme e determinado, como olha para a proibição do fornecimento de hóstias, o corpo do seu filho, a força anímica e espiritual à paróquia da Ribeira Seca? Em que estado de amargura e de revolta vai o coração desta mãe do Amparo, pelo facto de, perto de 50 anos, negarem o sacramento do crisma aos jovens da sua vinha nova, desta paróquia da diocese madeirense?
No esteio do seu alto, a meia encosta deste vale bordado de azul e mar, de que forma analisa a fé dos homens ao proibi-la de entrar na seu santuário, na sua casa, pela ocasião da sua última peregrinação ao povo crente da Madeira? Enfim, desta forma, não possível conceber que o coração da igreja madeirense bata no todo para o mesmo lado! Porém, a Ribeira Seca com mais de três séculos de vivências partilhadas com a Senhora do Amparo, continua a cuidar e a renovar a sua vinha, rendendo-lhe os frutos do seu trabalho, da sua criatividade em marcha e da sua instruída contemplação. Nesta festa do povo e da sua padroeira, avós, pais e filhos, numa simbiose multicolor dos seus trajes e das suas marchas, farão as honras da casa com seus cantares e coreografias de dinâmicas de luta e de trabalho de tempos ainda bem presentes na memoria coletiva, registadas no nosso cancioneiro, o guardião da história das lutas da comunidade pela afirmação da sua personalidade aberta à critica e à construção da cidade das ideias. Três gerações que em uníssono darão o melhor de si à caracterização genuína das nossas festas com aromas campesinos e cheiros a vinho novo, a fermento de vida nova, que nos manterá em viagem como verdadeiros sentinelas da vinha nova, até a alvorada festiva das próximas festas de verão. Caso se sinta um verdadeiro operário desta vinha da Senhora do Amparo, deixo-lhe este convite, para um fim de semana culturalmente diferente, passado num ambiente da verdadeira festa, feita com a contribuição monetária e com os braços inquebrantáveis do povo. Concluo, com a certeza, que a noite deste sábado será toda ela cheia de animação a cargo das nossas romagens e, no domingo, a meio da tarde, a palavra litúrgica de quem sabe de vinha nova (Pe. Dr. Anselmo Borges e Pe. Martins Júnior) subirão ao altar da catedral do Amparo, ficando a noite para o artista madeirense Ruben Aguiar. Fica então este fraterno convite.
NOTA
Carta do Leitor, assinada por José D'Olim, publicada na edição de hoje do DN-Madeira.
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