No exercício da política não existe memória, existe atropelo, em muitos casos, a lógica do salve-se quem puder e a oportunidade para subir, pelo menos temporariamente, no elevador do salário e das ligações tendencialmente prósperas. Churchill disse, um dia, que a política "é quase tão excitante como a guerra e não menos perigosa. Na guerra a pessoa só pode ser morta uma vez, mas na política diversas vezes". Churchill tinha razão, na política a "guerra" é perigosa pela vastidão dos interesses em jogo. No plano pessoal, embora compreendendo a dimensão e o contexto das palavras do estadista britânico, porque não morri na guerra colonial, também não deixarei que me assassinem no plano político. Os direitos de cidadania, em um país tendencialmente democrático, permitem que, pelos outros, pelos que estão a nascer e a despontar para a vida familiar e profissional, continue a utilizar a escrita tal como nos versos de José Mário Branco:
e eu não sabia
tudo depende da bala
e da pontaria
tudo depende da raiva
e da alegria
a cantiga é uma arma
de pontaria (...)"
"(...) há quem faça profissão
de combater a cantar
e há quem cante de pantufas
para não perder o lugar (...)"
de combater a cantar
e há quem cante de pantufas
para não perder o lugar (...)"
A propósito, um dia li uma carta que, depois de várias críticas, algumas justas, era assinada pelo "Meliante" X! Foi alvo de uma certa graça, porque logo espoletou a diferença entre militante e meliante. De facto, ambos coexistem nos partidos políticos, uns sem pontaria, outros, de pantufas, que surfam as ondas, mantendo-se, ilusoriamente, na sua crista. São tantos os escândalos, as patifarias, as negociatas, as mentiras, os afastamentos como quem corta capim para abrir o trilho, as lutas pelo dinheiro, as subserviências aos grandes senhores que impõem e dispõem, que só nos resta não permitir que nos matem, antes continuem a escutar o embaraço de quem, livremente, pensa e age em conformidade.
Regresso ao José Mario Branco:
não vale a pena cantar
se vais à frente demais
bem te podes engasgar (...)"
Não tenho, confesso, raiva por ninguém, nunca pressenti esse pesadelo, e embora a alegria não seja muita, há uma coisa que é certa: nego-me "cantar a reboque". E já que estou em maré de canções, corre-me, neste momento, no pensamento a canção dos "Resistência":
Que a uma família ou geração
Mais do que a um passado
Que a uma história ou tradição
Tu pertences a ti
Não és de ninguém
(...)
Mais do que a um partido
que a uma equipa ou religião
Tu pertences a ti
Não és de ninguém
Vive selvagem
E para ti serás alguém
Nesta viagem (...)"
Só tenho, por tudo isto, uma ambição: apesar dos contratempos, ser feliz e lutar para que os outros o sejam. De resto, deixem-me da mão!
Ilustração: Google Imagens.
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