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domingo, 3 de fevereiro de 2019

Choque económico IX: A nova velha economia do mar


CARLOS PEREIRA /
DN-Madeira - 30 JAN 2019

Entrou de rompante nos programas políticos de quase todos os partidos. Há mesmo quem pouco saiba o que fazer em termos económicos mas já tem a certeza do papel central da também chamada economia azul. Este conceito entrou nas discussões sobre a sustentabilidade do planeta em 2012 e de alguma forma até se confunde com a também conhecida economia verde, cuja essência não se distingue desta onde o essencial é desenvolver estratégias que estejam centradas na protecção da natureza, assentes na eliminação dos resíduos. Azul e não verde porque em boa verdade é o azul que predomina no planeta: o mar, os oceanos e o céu não deixam margem para dúvidas. 

Mas sendo esta uma discussão mais longa, e talvez pouco relevante para o caso, gostaria de me focar no potencial do mar e fazer apelo a uma clarificação dos responsáveis, evitando ideias abstractas, pouco consistentes e sem capacidade de materialização. A economia do mar pode incluir a aquicultura, o turismo marítimo, a biotecnologia marinha, a energia dos oceanos e a exploração mineira dos fundos marinhos. Procurando associar esta concepção à Madeira parece relevante que quem a defende como central no processo de desenvolvimento e crescimento económico deve ser capaz de especificar e concretizar os projectos, as ideias os objectivos e quantificar o seu valor . Quanto vale, ou poderá valer no PIB da Região as actividades associadas à economia do mar? Não há resposta nenhuma satisfatória! De resto era bom lembrar que não tem sustentabilidade formal retirar actividades já incluídas noutros sectores tradicionais para associar à economia do mar como algo novo, quando apenas se tratou de uma mudança estatística, sem adicionar mais emprego, mais riqueza, mais inovação, no fundo sem adicionar uma nova actividade. Para ser mais claro: por exemplo, a aposta nas actividades marítimo portuárias não é uma nova actividade. Está incluída para efeitos estatísticos no sector do turismo. Tal como a actividade portuárias não é nova, está incluída no sector dos transportes. Ora estas duas actividades são hoje identificadas como fazendo parte da economia do mar. Mas não são novas e muito menos inovadoras . São velhas actividades cobertas com uma nova roupagem de economia do mar. As respostas que têm de ser dadas por quem se propõe colocar no centro da diversificação da economia regional este sector são muito simples : que riqueza e que emprego pode ser gerado por novas actividades ligadas ao mar; que investimento publico, que I&D, que parcerias ou que Investimento Directo Estrangeiro são fundamentais ? Se é para ser a sério, os responsáveis têm mesmo de saber responder qual a estratégia da Região neste âmbito, qual o potencial que podemos ter em consideração e que investimento é necessário para a sua exploração / rentabilização. Vou ser ainda mais claro: A Madeira tem uma Zona Económica Exclusiva apreciável, por isso no âmbito da economia do mar era útil saber qual o potencial em termos de exploração mineira? E se a importância for apreciável, qual o investimento necessário para explorar essas riquezas ? Outra pergunta para ser respondida : que investimentos públicos e parcerias são necessários para tornar a biotecnologia marinha na Madeira em uma actividade económica de valor acrescentado? Mas mais, depois de um combate incisivo contra a aquacultura numa localidade da Madeira ( que recuso comentar) esse facto poderá querer dizer que esta actividade em particular, apesar de estar associada à economia do mar, não fará parte da diversificação arengada por aí? Ou foi mais um lapso de não ter sido feito a pergunta ( em tempo oportuno) à tal sociedade civil daqui e (sobretudo) além mar? Por outro lado, assumindo a importância das energias renováveis e reconhecendo o papel dos oceanos na sua produção, pode se concluir que a Madeira tem potencial nessa área?É uma hipótese mas se for assim, era preciso responder ao seguinte : essa também seria uma das apostas a incluir? Se sim, há investigação ( ou potencial de investigação ) na Região que permita admitir que este subsector terá um papel suficiente para ter expressão económica? Ou, em alternativa, qual o caminho a seguir para atrair esse tipo de investimento ( ou mesmo a inovação ) do exterior? Nada disto tem sido justificado. Aparentemente é “tudo ao molhe e fé em Deus”! Finalmente, os portos. O arquipélago da Madeira há dezenas de anos que sofre com a falta de competitividade dos seus portos. É verdade que a sua posição geoestratégica é muito favorável mas há muitos anos que já perdemos a batalha para os nossos vizinhos das Canárias. Gostaria de acreditar neste papel central de entreposto comercial no meio do Atlântico, usando os nossos portos, mas para quem hesita em combater monopólios que castram a competitividade das PME,s regionais deixa pouca margem para alguma esperança. Resta o habitual e cada vez mais importante : o esforço empreendedor de madeirenses que insistem em inovar, ganhar dinheiro e criar emprego com actividades marítimas associadas ao turismo. Ainda bem, mas isso não é nada de novo. É apenas mais do mesmo. Não integra objectivos ambiciosos e resultados concretos no quadro do que se quer da (efectivamente) nova economia do mar.

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