Ontem li dois artigos de opinião muito importantes: um clarividente, chamando à atenção para possíveis loucuras ou desmandos financeiros; outro, sempre a abrir ao jeito de, estando ao comando do avião, assume, quero lá saber que caia, ele nem é meu! Daí eu deixar alguns excertos apenas para aguçar o apetite da sua leitura integral.
Diz-nos a Drª Fátima Ascensão:
"(...) Lembra-se dos cortes salariais que sofreu por ocasião da austeridade e o quanto lhe fez falta esse dinheiro? Acha que nunca mais passará por tamanho aperto? Aconselho-o a ser cada vez mais exigente com qualquer governação, reivindicando clarificação e transparência de como estão a gerir o dinheiro público. Lembre-se que qualquer subsídio e apoio concedido e investimento efetuado é feito com o seu dinheiro. Assusta-me a governação que empurra os problemas com a barriga. Recorrer sistematicamente a empréstimos para pagamento doutros empréstimos é protelar e aumentar dívida, colocar-se na mão dos bancos e criar dificuldades acrescidas para o futuro. (...) Afogados em dívidas não teremos condições para nada e viveremos pior. A prioridade passa a ser o pagamento das dívidas. Não há autonomia sem equilíbrio nas contas públicas. Quem paga as contas é quem manda. Se estamos sempre de mão estendida a Lisboa, quem manda não somos nós. (...) De 2016 para 2017 a dívida aumentou 208,5 milhões de euros, cifrando-se em 31/12/2017 em 3,5 mil milhões de euros. (...) Desde junho do ano passado o Governo Regional contraiu 3 empréstimos no total de 860 milhões de euros - 455 milhões de euros, em junho de 2018, 50 milhões de euros em novembro de 2018 e 355 milhões de euros, a 15 de janeiro deste ano. Os dois grandes empréstimos foram para pagar outros empréstimos. (...) Sabe quanto era a dívida em 2014? 4,29 mil milhões. Tire as suas conclusões. (...) E todos nós sabemos quais as consequências da renegociação de empréstimos com os bancos. Nos próximos 4 anos, estaremos a enfrentar, novamente, o pagamento destes empréstimos. Como vamos pagar? (...) Deixo, pois, à consideração do leitor como classificar a nossa situação financeira e o cuidado que deve ter nas suas escolhas para o futuro. A continuar assim, o que acha que vai acontecer?
Por seu turno, escreve o vice-presidente do governo regional, Dr. Pedro Calado:
"Os meses que aí vêm, pelos três atos eleitorais que vamos viver, serão muito trabalhosos, competitivos, exigentes e de muita desinformação. Haverá tendência para deturpar a realidade, ver o copo “meio vazio”, falar inverdades, esquecer o passado e passar por cima das coisas boas e positivas. (...) Não podemos deixar que nos controlem e mandem nos nossos destinos. Nas nossas vontades. Não precisamos que nos venham ensinar a fazer. Quem desenvolveu e lutou por esta Madeira desenvolvida, foi o Povo Madeirense. Com o nosso esforço e trabalho árduo. Com a conquista da nossa Autonomia. (...) Nunca poderemos aceitar que nos moldem aos interesses dos outros e muito menos poderemos aceitar que nos venham dizer como fazer, apenas pela vontade de conquistar o poder pelo poder. O verdadeiro poder, está no Nosso desenvolvimento e na Nossa qualidade de vida, que transmitimos e conquistamos para o Nosso Povo. (...) O que está em jogo nos próximos tempos é a escolha por parte de todos os cidadãos madeirenses, que caminho querem para a Madeira. Se o continuar do nosso desenvolvimento e autonomia pela defesa dos nossos interesses ou se queremos uma Madeira subjugada aos interesses de Lisboa e do Terreiro do Paço, olhando para a Madeira como uma colónia onde se vão lembrar e apresentar soluções apenas em períodos eleitorais. (...) Sejamos todos, portadores de um espírito de liderança, de vontade de lutar pela defesa dos nossos direitos, com garra e determinação. E nada de sermos controlados por Lisboa. (...) O nosso tempo de mudança começou há 40 anos e ainda tem muito por fazer e conquistar (...)"
O artigo de Fátima Ascensão pede cuidado, moderação, fazendo lembrar que são as pessoas que pagam os devaneios de uma governação tresloucada; o artigo de Pedro Calado é o do comandante do tal avião. A dívida já foi superior a seis mil milhões e, por este andar, para lá se dirige. Se cair, o avião não é dele! Para já, uma diz que "se estamos sempre de mão estendida a Lisboa, quem manda não somos nós", outro, continua como há 40 anos: "nada de sermos controlados por Lisboa". Leiam, por favor, porque nós estamos todos dentro deste avião.
Ilustração: Google Imagens.
NOTA
Artigos de opinião publicados na edição de ontem do DN-Madeira.
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