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sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Desconcertante


Christine Lagard é uma personalidade politicamente estranha. O jornal britânico "The Dail Telegraph" fez-lhe um retrato que, no final, o leitor questiona-se, mas que personalidade é esta que "saltita com uma facilidade desconcertante entre os cargos de alta responsabilidade, sem nunca ter de se preocupar com os eleitores reais"? Esta questão está no Courrier Internacional deste mês. 


De facto, a escolha para liderar o Banco Central Europeu, segundo o jornal britânico, não está "à altura da tarefa que a espera". Mario Draghi, segundo o que se sabe, é um economista brilhante, que deixou a sua marca à frente do BCE; Lagard é uma advogada "que ignora tudo sobre política monetária", mantendo uma "fidelidade absoluta à ortodoxia dominante". Tenho presente, por exemplo, as suas contradições relativamente à presença da troika em Portugal. Foi ziguezagueante todo o processo. Mas, adiante. Sublinha o jornal inglês que Lagard é "responsável por um dos maiores défices orçamentais jamais registados, quando ela foi ministra das Finanças durante a presidência de Sarkozy (...), pois entre 2007 e 2011 fez o défice orçamental de França passar de 56 mil milhões de euros para 193 mil milhões de euros, sem empreender a mínima reforma (...) foi a responsável pela pior recessão económica de que há memória estatística, a da Grécia, quando ela estava à cabeça do FMI (...) e regista uma condenação por negligência na questão da arbitragem feita a favor de Bernard Tapie", personalidade que "tinha sido acusada de beneficiar de uma arbitragem fraudulenta que, em 2008, proporcionou-lhe a indemnização de 403 milhões de euros". 
Conclui o jornal: estes são "os principais feitos de Christine Lagard durante a sua carreira de alta funcionária. E nada disso impediu de ser designada para uma das funções mais essenciais da economia mundial durante os próximos dez anos".
Aproximam-se tempos de incerteza. O que irá acontecer à moeda única? O futuro dirá. O que para mim é muito estranho é essa habilidade de "saltitar com uma facilidade desconcertante entre os cargos de alta responsabilidade, sem nunca ter de se preocupar com os eleitores reais".
Ilustração: Google Imagens.

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