Acabo de viver um fim-de-semana face ao qual tenho muitas dificuldades em contar as emoções. Não as vou narrar. Ficam para mim. Talvez de forma egoísta, talvez, mas o que é pessoal deve ser preservado. Apenas adianto que foram momentos extraordinários, vividos e sentidos, profundamente, numa profusão de sentimentos que nem em sonho alguma vez me passou. Estou grato por isso a todos quantos fizeram parte da minha incontida felicidade. Aliás, a vida, toda ela devia ser construída assim, no equilíbrio, no respeito pela diversidade, serenamente e sem insultos ou provocações, subtis ou descaradas, no amor, na tolerância e na liberdade.
Vivi dois dias fantásticos, no seio de familiares e amigos, ao todo vinte, de uma enorme espiritualidade, eu diria melhor, de uma interioridade que, em determinados momentos conduziu à lágrima traduzida numa pequena frase: valeu a pena. Foi um dos meus melhores momentos de vida, um "flash back" muito rápido, numa agitação de sentimentos saborosos, mesmo tendo em conta que a vida não é uma linha recta, assemelha-se, sim, a um sismógrafo cuja agulha regista oscilações normais com outras mais sensíveis e, algumas vezes, perturbadoras.
No meio desta abundância de energias vividas, um Homem, o meu distinto Amigo Padre José Martins Júnior. Um Homem fantástico, porque é diferente. Culto e simples, envolvente e de uma enorme sedução. A Palavra ecoa de uma forma penetrante, mexe e remexe, pela contextualização na vida, pela sabedoria traduzida de forma empática, pela eloquência e persuasão sem qualquer toque de ausência de generosidade. A beleza das suas palavras, o conhecimento transversal narrado "por miúdos", o humor e a história que complementa o raciocínio, leva-me a dizer que todo ele é som, é música e é poesia que contagia. Obrigado Padre. Com os seus 84 anos fico feliz pela sua energia e pela doçura do seu comportamento.
Num Mundo controverso, de inexplicáveis guerras, de fome, miséria, oportunismos e de muitos "ismos" que apavoram, estar com quem gostamos, é um bálsamo, é deixar-se envolver num perfume de vida e até num alívio face à maldade que nos rodeia e constrange. Confidencio: já a noite ia alta e o Quim aproximou-se, deu-me um sentido abraço e segredou-me ao ouvido: "já várias vezes estive em Roma e nunca vi o Papa, mas hoje vi-o!" Quis ele dizer-me com estas palavras que tinha reencontrado o sentido da verdadeira Igreja, aquela que parte da humildade de Cristo, que não espaventa e onde não existe pompa e fausto. Tenho andado a pensar naquela frase, compaginando-a com as muitas conversas que tenho com o Padre, trazendo para a minha vida aquilo que sinto nesta peregrinação terrena. Não basta bater no peito, importante é lê-lo no seu blogue "Senso e Consenso" ou então ter dois ouvidos e uma boca, bebendo o sumo da reflexão. Tornamo-nos melhores para compreender e enfrentar o tal sismógrafo da vida.
O Padre Martins certamente que tem presente “A Chuva”, de Jorge Fernando:
“Há gente que fica na história
Da história da gente
E outras de quem nem o nome
Lembramos ouvir”
Padre Amigo, o Senhor fica na História da gente. Da gente de toda a Madeira, pelo amor que sempre nutriu pelos outros.
Ilustração: Baltazar Arezes.
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