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sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Maldita sociedade estamos a construir


Não se trata de um caso isolado. Com maior ou menor gravidade, sucedem-se os casos de abandono, desleixo, insensibilidade, negligência e indiferença perante os outros. Agora foram as imagens num lar, com uma Senhora que serviu de passeio a milhares de formigas ou o outro com as fezes no próprio espaço onde descansa. Ninguém viu ou, se viram, olharam para o lado, distantes de qualquer sentimento afectivo e profissional. Um horror! E lá virá o rol de desculpas: foi circunstancial, uma excepção, que será aberto um inquérito, que serão "implacáveis na punição" e, finalmente, que não se pode tomar a parte pelo todo. Porém, para qualquer pessoa minimamente sensata, basta a existência de um só caso.


Maldita sociedade estamos a construir. Para se chegar àquela situação de ausência de afeição e amor, tragicamente irresponsável, temos de ir mais atrás e percorrer os erros de formação geral e específica do ser humano. Há dias, em amena conversa com um Amigo, dizia-me, porque vê e analisa as situações com exímia profundidade que, por vezes, sente que as pessoas o olham como se fosse um ET. Há, de facto, uma montanha de equívocos, geradores de comportamentos inadequados, os quais atravessam toda a sociedade, desde logo a partir dos sucessivos governos até à genérica mentalidade dominante nas famílias. De permeio, pergunto, o que anda a Escola a fazer na preparação de um ser humano que repudie, entre outros, os actos de violência social, emocional, física e sexual?

Situo-me no espaço escola para dizer que esta Escola, em comunhão com as palavras do Professor universitário António Feijó, não está preparada para fazer "aprender coisas intelectualmente interessantes (...) não está preparada para a "razão e a racionalidade". Porque não lhes "ensinam a pensar", sublinhou o Professor Catedrático Miguel Tamen. Certamente que naquele lar da Santa Casa da Misericórdia de Boliqueime (misericórdia significa "sentimento de caridade despertado pela infelicidade de outrem; piedade, compaixão) os que o lideram terão formação académica considerada adequada. Só que a prevalência dessa formação foi orientada para a resposta considerada certa às perguntas resultantes dos programas das várias disciplinas e etapas da escola, básica e secundária, e não propriamente para "a integralidade do ser e pensar de cada individuo no mundo" (infoescola).

E o círculo vicioso eterniza-se. Periodicamente continuamos e continuaremos a ser confrontados com situações, não apenas as de protecção aos mais vulneráveis (caso dos lares), mas em todo o tecido social. Casos arrepiantes em variadíssimos domínios que chocam e abalam a credibilidade de quem tem o dever de conduzir os princípios orientadores de uma sociedade sadia. Entre outros, pergunto, novamente, que sociedade estamos a formar, quando nos primeiros seis meses de 2022, dezanove mulheres foram assassinadas em contexto de violência doméstica? Uma média de três mulheres por mês! Todos os meses, em Portugal, três mulheres confrontam-se com uma sentença de morte!

Apesar de todos os cuidados, não quer dizer que, aqui e ali, não aconteçam circunstanciais comportamentos indesejáveis. Uma certeza, porém, tenho: os políticos estão mais interessados na "obra" física do que na "obra" de construção do ser humano. Lamentável.

Nota
Tenho apenas uma vivência de um lar (Lar de Idosos de Santana/Madeira) onde me sensibiliza e comove a excelência dos comportamentos de quem lá trabalha. Não conheço outros, mas aquele não pertencendo à "misericórdia", tem misericórdia para oferecer. Os tais de Boliqueime deveriam ali fazer uma formação. 

Ilustração: Google imagens.

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