Não se trata de um caso isolado. Com maior ou menor gravidade, sucedem-se os casos de abandono, desleixo, insensibilidade, negligência e indiferença perante os outros. Agora foram as imagens num lar, com uma Senhora que serviu de passeio a milhares de formigas ou o outro com as fezes no próprio espaço onde descansa. Ninguém viu ou, se viram, olharam para o lado, distantes de qualquer sentimento afectivo e profissional. Um horror! E lá virá o rol de desculpas: foi circunstancial, uma excepção, que será aberto um inquérito, que serão "implacáveis na punição" e, finalmente, que não se pode tomar a parte pelo todo. Porém, para qualquer pessoa minimamente sensata, basta a existência de um só caso.
Situo-me no espaço escola para dizer que esta Escola, em comunhão com as palavras do Professor universitário António Feijó, não está preparada para fazer "aprender coisas intelectualmente interessantes (...) não está preparada para a "razão e a racionalidade". Porque não lhes "ensinam a pensar", sublinhou o Professor Catedrático Miguel Tamen. Certamente que naquele lar da Santa Casa da Misericórdia de Boliqueime (misericórdia significa "sentimento de caridade despertado pela infelicidade de outrem; piedade, compaixão) os que o lideram terão formação académica considerada adequada. Só que a prevalência dessa formação foi orientada para a resposta considerada certa às perguntas resultantes dos programas das várias disciplinas e etapas da escola, básica e secundária, e não propriamente para "a integralidade do ser e pensar de cada individuo no mundo" (infoescola).
E o círculo vicioso eterniza-se. Periodicamente continuamos e continuaremos a ser confrontados com situações, não apenas as de protecção aos mais vulneráveis (caso dos lares), mas em todo o tecido social. Casos arrepiantes em variadíssimos domínios que chocam e abalam a credibilidade de quem tem o dever de conduzir os princípios orientadores de uma sociedade sadia. Entre outros, pergunto, novamente, que sociedade estamos a formar, quando nos primeiros seis meses de 2022, dezanove mulheres foram assassinadas em contexto de violência doméstica? Uma média de três mulheres por mês! Todos os meses, em Portugal, três mulheres confrontam-se com uma sentença de morte!
Apesar de todos os cuidados, não quer dizer que, aqui e ali, não aconteçam circunstanciais comportamentos indesejáveis. Uma certeza, porém, tenho: os políticos estão mais interessados na "obra" física do que na "obra" de construção do ser humano. Lamentável.
NotaIlustração: Google imagens.
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