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quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Fusão nuclear, uma grande pedrada nos inimigos do futuro


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26 Dezembro 2022

2022 foi o ano de maior consumo de carvão no mundo, com maior emissão de CO2. O Mundo andou para trás com a descarbonização ou, para ser mais benigno, fez compasso de espera.



Esta semana havia um bom lote de assuntos de elevado interesse político, económico e social para artigos de opinião:
O Catargate e a União Europeia, por exemplo, numa vertente da muita regulamentação existente e da pouca monitorização;
O porquê do mercado negro do petróleo estar tão próspero e dinâmico com o embargo e a fixação (60 dólares/barril) do preço de aquisição do petróleo russo;
As cheias e em especial as de Lisboa comparadas com as de Tóquio e outras cidades, onde as condições atmosféricas são de um modo geral mais desfavoráveis;
As falências em curso de um número significativo de empresas nos países europeus devido à crise energética numa Europa em perda de competitividade;
A ONU e a multiplicação de COPs (a COP27 no Egipto e a COP15, poucos dias depois, no Canadá). Encontro de lóbis? Coordenação de interesses? Ocupação de pessoas que vivem destes eventos…?

Uma mão-cheia de temas. Era só optar.

A fusão nuclear

1. Bem ou mal, aderi ao tema da fusão nuclear que até nem consta dos elencados antes.

Caiu-nos uma excelente notícia sobre esta vasta temática. Pela primeira vez na História, uma experiência de fusão nuclear dos cientistas do Laboratório Nacional Lawrence Livermore da Califórnia (LNLL) “conseguiu produzir mais energia do que a consumida no uso da produção”.

Não sendo um especialista na matéria, bem longe disso, estou convicto de há algum tempo que a energia nuclear civil desempenhará um papel estruturante no progresso da Humanidade, seja sob a forma de fissão, a energia hoje existente com todos os seus avanços dinâmicos recentes, seja sob a forma de fusão que, quando passar à industrialização, não emite CO2 – aliás como a fissão –, mas acrescentará a não geração de resíduos radioactivos, ou quaisquer riscos de acidentes graves como Fukushima ou Chernobyl. Efetivamente, não resisti a partilhar e comentar esta boa notícia que nos abre mais futuro.

Projectos experimentais de fusão nuclear estão em andamento, designadamente nos EUA, China e Reino Unido, para não falar do ITER, instalado em Cadarache, no sul de França, uma iniciativa internacional de vários países (China, Coreia do Sul, EUA, Índia, Japão, Rússia e União Europeia), mas infelizmente com atrasos sucessivos. Tido como muito importante na implementação da fusão, não está a cumprir os fins para que foi desenhado.

E, assim, ainda bem que surge a concorrência e com resultados expressivos. Aliás, experiências anteriores na China e EUA que estão no sucesso desta, anunciada a 13 de Dezembro, já tinham sido mais consistentes que o desempenho do ITER. Até parece que a localização (europeia) e a sua gestão não acomodam uma dinâmica adequada!

2. A fusão nuclear deu agora um grande passo, embora haja quem queira denegrir esse avanço, alegando que se trata de um acontecimento menor ou então que muitos séculos hão de vir até aparecer a electricidade via fusão.

Segundo li em jornais estrangeiros, o LNLL “causou fusão nuclear controlada libertando 2,5 Megajoules de calor com apenas 2,1 Megajoules de energia fornecida”. É evidente que ainda se está distante da consolidação industrial desta experiência. Bastantes mais serão necessárias e certamente vários Laboratórios irão continuar este trabalho de investigação.

As previsões para a aplicação industrial, ou seja, o seu uso na produção de electricidade continuada é uma incógnita, embora cientistas, certamente com algum grau de voluntarismo e optimismo, apontem para 15/20 anos.

O laboratório da Califórnia, ao dar este passo decisivo, está ciente do muito caminho a percorrer. O seu anúncio tem um propósito claro: consolidar o financiamento por parte da Administração americana. Para a mentalidade americana, a apresentação de resultados concretos, independentemente do grau de inovação em que se encontre, abre caminho à concessão de mais financiamentos e, nesta fase, é fundamental afastar escolhos dessa natureza.

3. Quanto às opiniões “cépticas”, sobretudo de origem europeia, permito-me registar algumas interrogações.

Não terão os descréditos apontados em artigos de opinião e comentários origem nos defensores das energias renováveis? É um dado adquirido que alguns tipos de renováveis, como a eólica, atravessam incertezas devido a irregularidade do vento, antevendo-se situações de futuro, menos boas. E da produção das terras raras usadas estar muito concentrada na Ásia não poderá nascer uma linha de dependência nestas energias…?

Por outro lado, as energias renováveis, como se sabe, não resolvem per si a descarbonização devido à sua intermitência, precisando sempre de energia compensadora e, neste caso, para os antinucleares, de energia fóssil.

A velha questão que divide a União Europeia

4. Infelizmente, existe uma velha questão, no âmbito da União Europeia, que muito tem contribuído para a profunda divisão na União Europeia (UE) E entre os defensores das renováveis e os da nuclear. Esta realidade é a base de efeitos nefastos profundos como os que estão a ocorrer agora com os elevados preços da energia e o seu contributo para a inflação que nos domina.

Vejo na abordagem por certas forças desta experiência no processo de fusão nuclear uma reedição dessa herança, designadamente por parte da Alemanha e de algumas ONG, que temem avanços porque têm interesses muito fortes em jogo.

Não nos podemos esquecer que há lóbis alemães poderosíssimos sobretudo do lado dos fabricantes de equipamento que com o avanço da nuclear e agora com a Fusão perdem a argumentação da nuclear como energia perigosa. O medo da desgraça ficaria enterrado. Mas atenção, há que olhar para o futuro com os pés assentes no chão. A energia de fusão é futuro, embora esta situação não corresponda a abandonar a fissão.

2022 foi o ano de maior consumo de carvão no mundo, com maior emissão de CO2. O Mundo andou para trás com a descarbonização ou, para ser mais benigno, fez compasso de espera. A Europa foi uma das zonas mais poluidoras, exactamente porque accionou várias centrais a carvão para escapar a eventuais roturas de energia neste Inverno, apesar de haver quem considere que a situação no ano de 2023 possa ser pior (Agência Internacional de Energia).

Por outro lado, a UE continua a ser parcial pois trata a energia nuclear em plano de secundariedade face às renováveis, contrariando os avanços da ciência cada vez mais favoráveis para esta, e quanto às renováveis os problemas avolumam-se.

As dúvidas sobram sobre as influências de muitos dirigentes da UE. Destas más políticas e estratégias enviesadas já conhecemos bem os efeitos. Perda de poder de compra e de competitividade. A Europa está em perda e cada vez mais tenderá, por este caminho, a ser uma potência de segundo nível, pelos erros que acumula e divisões internas não superadas. Um entendimento na energia é fundamental a uma Europa forte.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

Nota complementar

O Joule é uma unidade de medida tradicionalmente usada para medir a energia mecânica ou a energia térmica; numa outra aproximação: 1 Joule corresponde a 1W¨*s (Watt-segundo); o Megajoule corresponde a um milhão de Joules.


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